Nunca tentei nada contra mim, mas teve uma época da minha vida que eu queria morrer. Entende a diferença? Uma coisa é você se jogar na frente de um carro. Outra coisa é você desejar estar morto.
Eu jogava no Santos e foi um ano em que a Vila Belmiro tava em reforma. A gente jogava no campo do Ibirapuera, tinha que subir a serra pra qualquer coisa. Um perrengue. Lembro até hoje que acabava o jogo, eu tomava banho e uma hora da manhã tava na estrada. Eu pegava minha identidade, colocava na minha pochete bem coladinho ao meu corpo e ficava pensando: "Pô, Deus, capota esse ônibus. Eu quero morrer."
Isso vinha direto. Não foi só uma vez, não. "Deus, pode capotar esse ônibus". Eu não pensava em mais ninguém, só em mim, porque eu desejava morrer. Nunca tentei me matar, mas nessa fase aguda era assim que eu me sentia. Sem tirar, nem pôr.
Hoje, sei que isso era a depressão. Em 1996, não sabia. Ou melhor, até fiquei sabendo, mas ninguém levava a sério. Eu me tratei e me sinto curado, mas acho que tenho obrigação de falar com muita clareza pra quem tá passando por uma situação assim: peçam ajuda, gritem por socorro. Eu me isolei e isso é a pior coisa que você faz. Por um tempo, parei de ver uma saída. Se a minha história pode te ajudar de algum jeito, ou ajudar alguém que você conhece, chega mais que eu conto.