Sylmar Thereza voltava para casa de carro após curtir um dia com a filha Daniela e os netos, quando tudo apagou. Como em um filme, ela teve um lapso de memória e se perdeu no meio do caminho, não teve mais controle do volante. Subiu num barranco e só foi parar quando estava em cima da calçada. Dias depois, uma visita ao médico confirmou o diagnóstico que tanto temia: Alzheimer.
O diagnóstico veio há três anos em meio a recente perda do marido Affonso. "Não é fácil lidar com tudo isso. Eu nunca vou me esquecer o dia do diagnóstico, porque até gravei para mostrar para os meus irmãos. Eles não queriam aceitar. Eu, como filha, é que carrego e carreguei isso. É um fardo. Claro que tem muito amor. Mas não é o que a gente quer, eu choro no banheiro às vezes. Nós já tivemos outras histórias na família com os meus avós. Quando ela ouviu, ela deletou. É uma espécie de trauma já para ela", relatou Daniela.
E entre a difícil aceitação, a família descobriu um poderoso remédio para enfrentar a rotina delicada, o futebol. Palmeirense, dona Sylmar revive momentos do esporte e da própria vida através dos jogos do time. "O Palmeiras a faz lembrar da família dela. Quando ela fala do nosso pai, ela lembra do Palmeiras... E é uma fase intermediária da doença. Coisas do passado estão na memória e o amor pelo esporte ajuda a manter", acrescentou Daniela.
A história de dona Sylmar é um dos vários exemplos de sucesso que o UOL Esporte ouviu após conhecer um projeto pioneiro no Brasil: o "Revivendo Memórias", parceria da USP com o Museu do Futebol de São Paulo que usa o esporte como elemento chave para a ressocialização do idoso que sofre com o Alzheimer.