Fernando Vannucci é nome unânime: um colega de trabalho carinhoso, sensível, chorão e gentil. É assim que o descrevem amigos após a notícia da morte do jornalista aos 69 anos, recebida nesta terça-feira (24). Dono de uma distração divertida, Vannucci protagonizou lembranças pândegas —em sua maioria, regadas a vinho que ele mesmo pagava aos companheiros de emissora.
Carnavalesco nato, o mineiro de Uberaba emprestou o vozeirão e os bordões aos desfiles das escolas de samba —onde virava madrugadas em busca de boas histórias. Quando amanhecia, ele continuava aceso, perfeito, com cabelo e roupa impecáveis. "Ele era endeusado", conta o ex-diretor de televisão da TV Globo José Emílio Ambrosio.
Vannucci quebrou a caretice do padrão Globo de qualidade nos anos 1980 - com um pé na porta que a emissora não conseguiu conter. O sucesso das entradas despojadas foi tanto que o apresentador se consagrou como um ídolo nacional —como ele mesmo se descrevia. Foi ele, ainda, o primeiro a trocar um contrato dentro da emissora —foi do esporte para o entretenimento e colocou um basta na discussão de que nomes do jornalismo não poderiam comprometer sua isenção profissional com compromissos comerciais.
O amor pela TV Globo parecia infindo: não deixou de ser assunto puxado por ele em toda oportunidade que tinha. "Ele tinha uma melancolia, uma mágoa por ter sido desligado da Globo. A vida dele era a Globo", conta o radialista e comentarista esportivo José Calil. Calil diz, ainda, que os últimos meses de vida de Vannucci foram marcados por ligações periódicas e desabafos. "Ele sonhava em voltar para a TV aberta. Sempre que surgia algum programa novo ele me ligava e perguntava: 'Por que não me chamam?'. E isso me partia o coração".
O UOL Esporte ouviu amigos e colegas de trabalho do jornalista, que se dizem honrados pela convivência. Os relatos mostram, carinhosamente, a figura de um homem cuja voz chegava antes do corpo - um mineirinho discreto, introspectivo até colocarem um microfone na frente dele. Entre risos de angústia, os amigos se despedem, agradecem e afirmam: Vannucci jamais será esquecido.