O isolamento de Ângelo Assumpção já dura 11 meses. Enquanto outros ginastas que, como ele, sonham com as Olimpíadas de Tóquio-2020 (que será disputada em 2021), treinam confortavelmente em Portugal, o paulistano de 24 anos faz exercícios no quintal de casa. A pandemia faz pouca diferença quando o que impede o garoto de treinar é, no seu entender, o racismo.
Quinto colocado no salto e sexto no solo no último Campeonato Brasileiro de Especialistas na ginástica artística, Ângelo foi afastado pelo Pinheiros em outubro do ano passado, quando recebeu uma suspensão de um mês. Supostamente por procurar levar queixas à diretoria do clube, passando por cima dos técnicos. Ao fim da suspensão, foi demitido.
Depois de 16 anos lapidando uma joia, o Pinheiros a abandonou. Natural seria que qualquer outro clube visse ali uma oportunidade de contratar um reforço de peso para a equipe e pleitear encerrar a hegemonia do clube da elite paulistana, hexacampeão brasileiro com Ângelo. Mas ninguém lhe deu abrigo.
"Desde pequeno aqui em casa eu aprendi uma lição: em qualquer atividade eu teria de ser três vezes melhor para ser reconhecido. E assim foi a minha carreira até agora. Só que há momentos em que é cansativo ter que mostrar o nosso valor a toda hora", lamenta.
Parado e sem perspectiva, entrou em depressão. Agora que está superando a doença, com o auxílio de uma psicóloga, fez uma promessa a si próprio. "Nunca mais entrarei em depressão. E vou voltar a competir. Estarei num futuro próximo treinando. E não vou me limitar a competir somente em algum clube brasileiro. Se é para passar perrengue, posso passar fora do Brasil também".