Marcas de Guerra

"Estranhei quando vi meus dedos ficando tortos e minha orelha de outra forma. Mas é isso que eu sou", diz o judoca Willian Lima



Textos Beatriz Cesarini e Paulo Favero
Fotos Marcelo Maragni

"Eu falo que são minhas marcas de guerra. No começo estranhei um pouco, vi meus dedos ficando tortos, minha orelha de outra forma, mas é isso que eu sou".
Willian Lima, judoca que representa o Brasil nas Olimpíadas de Paris na categoria até 66 quilos. Ele já atingiu a semifinal e segue vivo na disputa por medalha. A próxima luta é às 11h (de Brasília), deste domingo (28), contra Gusman Kyrgyzbayev, do Cazaquistão.

Orelha de couve-flor

Você sabe quem pratica judô de verdade olhando as orelhas. São inchadas, redondas. Alguns judocas não conseguem nem mesmo usar fones de ouvido, tamanha a deformação. É o resultado de anos de treino: o lutador esfrega a cabeça no tatame e causa lesões que inflamam. Essa inflamação pode levar à falta de vascularização e o tecido morre. O corpo reage formando nova cartilagem para preencher o espaço lesionado.

Willian assume que é um período doloroso. A orelha fica muito sensível. "Parece que está com água o tempo todo, é uma sensação estranha, a gente escuta o sangue mexendo".

No caso de Willian, uma orelha é mais pontudinha que a outra, por isso é um pouco mais aberta. "O sangue coagulou de um jeito diferente".

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"O judô é um esporte de contato físico, então estamos sempre sujeitos a ter essas marcas no corpo. Isso mostra que você é um cara de alto nível"

As mãos são outro capítulo. No judô, quem tem a melhor pegada no quimono do adversário leva vantagem e, para isso, é necessário segurar com força. Como nas orelhas, as repetidas lesões se acumulam, os dedos incham, principalmente perto das articulações.

"A gente vive com dor e acaba aprendendo a conviver com isso. Então no momento que minha orelha e meus dedos estavam doendo, eu sabia que tinha de continuar treinando e isso, às vezes, acabava piorando".

Willian Lima compete na categoria até 66 kg e é atleta do Clube Pinheiros. Já foi campeão mundial júnior e agora busca seu primeiro pódio em Olimpíadas. Para chegar à semifinal, ele deixou pelo caminho o usbeque Sardor Nurillaev, o turcomeno Serdar Rahimov e Bakshuu Yondonperenlei, da Mongólia.

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O judoca tem quatro cicatrizes na cabeça e outras marcas no corpo. Faz fisioterapias e trabalhos específicos de fortalecimento, inclusive em outras áreas, como lombar e joelho.

O corpo do atleta foi transformado com o tempo pelo acúmulo de treinos. "É de tanto bater ou apanhar. Isso mostra que é fruto de um esforço, do trabalho. A gente vê as modificações nos atletas que se dedicam muito".

"Eu me sinto muito orgulhoso por carregar essas marcas. Tem pessoas que eu convivo, que não são do esporte, que consideram estranho, olham torto, mas outras acham legal ou falam 'nossa, é muito diferente', e querem tocar ou apertar".

Fotos: Marcelo Maragni

Reportagem: Beatriz Cesarini e Paulo Favero

Designer: Bruna Sanches

Edição: Paulo Favero

Este é uma parte da série

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