Camisas pesadas

Zagueiro Alex foi rejeitado por grandes no Brasil e teve azar antes de Copas, mas empilhou taças na Europa

Augusto Zaupa e Vanderlei Lima Do UOL, em São Paulo Fotos Getty Images

Imagine você defender camisetas de peso do futebol mundial, como Santos, Milan, Chelsea, PSV Eindhoven e Paris Saint-Germain, ter atuado ao lado de grandes craques internacionais, ser comandado pelos melhores treinadores do planeta, mas sofrer dois baques às vésperas de uma Copa do Mundo. Foi isso que viveu Alex, ex-zagueiro revelado pelo Peixe e que construiu carreira vitoriosa na Europa.

Eu sofri muito, fiz algumas cirurgias no joelho direito. Tive três cirurgias de púbis que não deram muito certo, isso me prejudicou muito na seleção brasileira. Foi uma das maiores frustrações da minha vida, porque representar a seleção brasileira, o seu país numa Copa do Mundo é o sonho de todos os jogadores."

Em entrevista ao UOL Esporte, o Canhão da Vila, apelido que herdou de Pepe, um dos maiores ídolos da história santista, recordou o início da carreia no Alvinegro paulista — após ser rejeitado por Vasco, Palmeiras e Cruzeiro —, as rusgas com o treinador português André Villas-Boas, os dias em que teve que marcar Messi e Cristiano Ronaldo e ainda apontou que Neymar continua tendo tudo para ser eleito o melhor jogador do mundo nos próximos anos.

Depois de ver frustrado o anseio de encerrar a carreira no Santos, por causa de uma lesão no joelho, Alex se aposentou em 2016 aos 34 anos. Hoje, com 39, se prepara para mudar com a família para Portugal, onde espera usar a vasta bagagem em uma nova atuação dentro do futebol.

Fotos Getty Images
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Rejeitado por Vasco, Palmeiras e Cruzeiro

Um dos Meninos da Vila que surpreendeu na conquista do Brasileirão de 2002, uma vez que o elenco santista era repleto de jovens como Diego e Robinho, Alex teve que ouvir alguns "nãos" antes de despontar. Natural da cidade de Niterói (RJ), o ex-defensor relembrou que foi rejeitado nos testes que realizou no Palmeiras, no Cruzeiro e no Vasco ainda na adolescência. Apesar das recusas, nada de mágoa.

"Não é questão de culpa do treinador da época. Não sei como é hoje, mas naquela época era muito desorganizado, porque o treinador tinha que avaliar muito jogadores em apenas um dia, tinha que ser rápido. É muito difícil para um treinador avaliar. Temos vários casos de jogadores que fizeram testes e foram reprovados, o próprio Cafu foi reprovado várias vezes", disse Alex, que foi um dos pilares da zaga batizada de "Torres Gêmeas" — formada por ele (com 1,88m e 92 kg) e André Luis (1,92m e 86 kg).

"Só fui aprovado no Juventus da Mooca quando já era juvenil, com 17 anos. Joguei lá em 1999 e fui emprestado para o Santos. Em 2001, voltei e joguei pelo Juventus, mas, no comecinho de 2002, regressei novamente para o Santos. Subi para o profissional e fomos campeões."

Stephane Reix/For Picture/Corbis via Getty Images

Destino improvisado na Holanda

Mesmo com os dois títulos do Brasileirão (2002 e 2004) pelo Santos, Alex nunca teve muito cartaz junto aos torcedores brasileiros. Porém, foi muito bem-sucedido na Europa nos 12 anos em que atuou no Velho Continente. No total, conquistou 13 taças, número para poucos.

A postura séria, o chute potente e as cabeceadas precisas chamaram a atenção do Chelsea, que pagou, em maio de 2004, cerca de R$ 25 milhões à época para tirá-lo da Vila Belmiro — em 2001, quando o trouxe para o time sub-20, a diretoria santista havia comprado os direitos do atleta por R$ 50 mil. O defensor brasileiro, no entanto, não pôde ser inscrito pelos Blues devido a problemas com o visto de trabalho e acabou emprestado ao PSV Eindhoven.

Foi na Holanda que Alex começou a traçar o seu sucesso no futebol europeu. Pelo PSV, conquistou três títulos do Campeonato Holandês e uma Copa da Holanda. No último ano pelos Boerens (Camponeses), o apelido do time, foi eleito pelos leitores de uma revista holandesa como o melhor jogador da temporada com 96% dos votos.

Darren Walsh/Chelsea FC via Getty Images

Vendido por US$ 1 e elo com Ancelotti

Mas a rápida adaptação e a identificação com o PSV de nada adiantaram. As boas atuações despertaram a atenção do treinador José Mourinho, que pediu o seu retorno ao Chelsea, que desembolsou a bagatela de US$ 1 (R$ 2, à época) em decorrência do acordo entre os clubes — o time londrino poderia ter o brasileiro de volta a qualquer momento mediante o pagamento da quantia simbólica.

Regularizado, enfim, para atuar na Premier League, Alex teve pouco tempo de contato com Mourinho. Desgastado com o grupo depois de ter ganho o título do Inglês da temporada 2005/06, o luso acertou a sua saída de Stamford Bridge. Depois de passagens dos treinadores Avram Grant, Ray Wilkins, Guus Hiddink e até do brasileiro Luiz Felipe Scolari, a forte relação de Alex com o italiano Carlo Ancelotti teve início em junho de 2009.

O Ancelotti é um paizão. De treinamento, era o trabalho mais evoluído, um cara que jogou em alto nível, um italiano que veio trabalhar na Inglaterra e conseguiu melhorar muito. A gente tinha muita dificuldade na época, principalmente em 2009/2010, quando ele chegou ajustou o time e nós conseguimos ganhar o Inglês e a Copa da Inglaterra."

Alex, ex-zagueiro do Chelsea

Laurence Griffiths/Getty Images

O desafeto

A relação de cinco anos com o Chelsea começou a azedar com a chegada de mais um português, André Villas-Boas. Com poucos meses de contato, o treinador afastou Alex do grupo, assim como o atacante Nicolas Anelka. Era dezembro de 2011.

Em determinado momento da temporada, quando o brasileiro treinava separadamente do elenco principal, os Blues sofreram com sucessivas lesões. Villas-Boas, no entanto, não deu o braço a torcer e se recusou a reintegrar o ex-santista e chegou a dar fortes declarações. "Não somos estúpidos. Não vou ligar para a emergência e pedir ajuda a jogadores que pediram para sair", disse o treinador, recordando a solicitação de Alex para se transferir.

Apesar da punição, Alex integrou o elenco campeão da Champions League 2012. Meses depois, um velho conhecido não o esqueceu o telefone logo tocou. "O Ancelotti tinha acabado de assumir o PSG e já tinha trabalhado comigo no Chelsea. Ele me ligou e fui sem pensar. É muito bom você trabalhar com uma pessoa que confia no seu trabalho."

Talvez por falta de experiência dele, que estava com 37, 38 anos, ele errou em alguns aspectos. Sem briga, sem confusão, ele acabou me afastando, assim como o Anelka. Perdemos um jogo, não atuamos bem e, no dia seguinte, ele resolveu nos afastar, nos colocou para treinar com o time B, onde ficamos uns quatro meses."

Alex, sobre o entrevero com Villas-Boas no Chelsea

Mike Hewitt/Getty Images Mike Hewitt/Getty Images

Inglaterra: futebol muito mais bonito

Ao longo de mais uma década na Europa, Alex empilhou títulos pelo PSG (duas vezes o Francês, uma Copa Supercopa da França e uma Copa da Liga Francesa) e teve passagem por dois anos pelo Milan — foi o único clube do Velho Continente em que não se sagrou campeão. Porém, os 132 jogos e os dez gols anotados vestindo a camiseta do Chelsea colaboraram para ter forte apreço pelo futebol inglês.

"Dou preferência para o futebol inglês. Adoro e assisto até hoje. Foi o melhor lugar onde eu joguei, o estilo de treinamento. Tudo aquilo que eu aprendi, principalmente a identidade do futebol, jogadas rápidas. Foi essencial para mim e foi o lugar onde eu mais gostei de jogar, onde o futebol muito mais bonito. Gosto de triangulações, jogadas rápidas, poucos toques na bola, é um lugar que te cobra muito isso, de dar poucos toques na bola. Isso dificulta a marcação do time adversário", analisou.

"Na Itália, é uma questão mais tática, é mais estudado, e eu já não gostava muito. Fiquei mais tempo no Chelsea, vivia sempre essa intensidade do futebol e é uma coisa que eu mais gosto, que gostaria passar para o meu filho", acrescentou.

David Ramos/Getty Images

Messi ou CR7?

Alex jogou algumas vezes contra os dois jogadores mais exaltados do futebol atual. Mas qual deles é mais difícil de marcar?

"Joguei várias vezes contra eles. Você pega os números do Messi e é impressionante, mas eu sempre preferi mais o Messi. É muito difícil marcar o Messi, é um cara que carrega a bola colada nos pés, e os defensores esperam sempre com que a bola escape um pouco para chegar, dar um carrinho, mas ele não te dá essa chance. Mas não dá para falar que o Cristiano Ronaldo fica atrás, os números dele, também gostava de marcar ele."

Niall Carson - PA Images/PA Images via Getty Images Niall Carson - PA Images/PA Images via Getty Images

Frustração por perder duas Copas

Mesmo com constantes boas atuações por clubes, manchetes anunciando cortes de convocações da seleção brasileiras às vésperas de amistosos também eram uma rotina na vida de Alex.

Problemas musculares nas coxas, lesões nos joelhos, cirurgias, entre outros, foram sacando Alex dos planos dos treinadores Carlos Alberto Parreira e Dunga para contar com o zagueiro nas Copa do Mundo da Alemanha (2006) e África do Sul (2010), respectivamente.

"Sofri muito. Depois que eu saí do Santos, em 2004, tive uma boa sequência no PSV por três anos. Logo que cheguei no Chelsea, comecei a sofrer muito com as lesões. Fiz algumas cirurgias no meu joelho direito, três cirurgias de púbis que não deram muito certo. Com isso, eu me prejudiquei muito na seleção brasileira porque eu sentia alguma coisa e não conseguia me apresentar", lamentou.

"Se você não aproveita a sua oportunidade, o treinador dá a oportunidade a um jogador que pode ser melhor e você acaba perdendo a sua vaga. É uma das maiores frustrações da minha vida. Representar a seleção brasileira numa Copa do Mundo é o sonho de todos os jogadores."

Claudio Villa - Inter/FC Internazionale via Getty Images Claudio Villa - Inter/FC Internazionale via Getty Images

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