Estou vivendo um dia de cada vez, é o que posso dizer. A depressão é uma doença silenciosa. Estou sorrindo aqui hoje, mas posso dar dois ou três passos e começar a chorar. Não existe linearidade na dor; há meses, convivo com ela e com essa instabilidade. Tem dia que acordo empolgado e sinto vontade de levantar da cama e treinar; mas geralmente não é assim. Nos últimos dias, tenho acordado e tomado remédio para dormir de novo. Fico ansioso e só quero que o dia passe logo.
Não é a primeira vez que vivo a depressão. Há quatro anos, passei por algo parecido. O gatilho, agora, foi um acúmulo de coisas; uma bomba que estourou no ano passado e envolveu saúde e grana. Sempre fui o cara da família, que bancava minha casa e a casa dos meus pais, e, no meio do caminho, não consegui mais. A ansiedade, que sempre me acompanhou, cresceu e se transformou na impotência da depressão.
Acho que toda depressão começa pela ansiedade, a angústia por algo que a gente nem sabe que vai acontecer. No meu caso, pelo menos, começou assim. Hoje, eu visto a camisa do Brasiliense. No ano passado, participei de um jogo muito polêmico contra a Ferroviária. Disputávamos a série D do Campeonato Brasileiro, estávamos na briga para subir, e o árbitro marcou um pênalti fora da área contra a gente. Aquilo me deixou maluco.
Foi um baque. Perdi um ano de trabalho, perdi o sonho de subir de divisão, perdi prêmios individuais. E a gente vive disso, sabe? Aquele jogo foi uma derrota em muitos sentidos. Meu corpo reagiu à frustração: duas semanas depois, fui internado. Senti dores muito fortes no peito, achei que pudesse ser algum problema no coração. Fiquei três dias na UTI até descobrir que era uma alteração renal. Seria o começo do período mais difícil que já vivi. E ainda vivo.