Mineirinho diz ter usado autoajuda de guru de Senna em volta ao topo aos 36 anos
Bruno Freitas
Em São Paulo
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Divulgação
Sandro supera abalo de confiança para voltar a ser campeão mundial após três anos
Campeão mundial de novo aos 36 anos, o brasileiro Sandro Dias diz ter reconquistado o topo do skate vertical recentemente graças a uma espécie de reciclagem de motivação psicológica, em um pacote que inclui o auxílio de um clássico nacional da autoajuda e o desafio de competir com adversários até duas décadas mais novos.
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Ex-preparador físico de Ayrton Senna, Nuno Cobra é autor do livro "A Semente da Vitória", de 2002
O atleta que costuma atender no universo do skate pelo apelido de Mineirinho se sagrou em 2011 campeão mundial pela sexta vez na carreira, depois de passar em branco em três temporadas (ganhou também de 2003 a 2007, de forma ininterrupta).
Para a etapa decisiva deste ano em Antuérpia, na Bélgica, o brasileiro resgatou um hábito que nasceu em seu primeiro título, em 2003. Mineirinho levou para a Europa debaixo do braço uma edição do livro "A Semente da Vitória". Assinada por Nuno Cobra, famoso por ter sido preparador físico e um tipo de mentor emocional de Ayrton Senna, a obra oferece uma proposta de transformação pessoal através da conquista da saúde.
"Este título foi bem parecido com o meu primeiro, em 2003. Eu competi bem o ano inteiro e, no fim, bateu aquela ideia: ‘Será que é mesmo possível?’. Um amigo me deu esse livro na época e ele foi muito importante. Agora estava meio desacreditado de novo, aí tirei o livro da gaveta e ele me ajudou mais uma vez, com sua ideia positiva. Me deu uma acalmada", relata Sandro Dias. "Ele (Nuno Cobra) é um cara conceituado, trabalhou com o Senna e vários pilotos", emenda.
O outro elemento da volta por cima de Mineirinho no cenário internacional foi a nova realidade de competição, composta por adversários muito jovens, alguns deles mais de 20 anos mais novos que o hexacampeão.
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Mineirinho afirma que a geração encabeçada pelo norte-americano Mitchie Brusco, de apenas 14 anos (destaque na última edição da Mega Rampa em São Paulo), obriga a turma de trintões do circuito a buscar a renovação técnica para evitar a defasagem.
"O que mais me dá motivação é essa molecada de 14 anos. Enquanto eu estiver andando no nível deles, não penso em parar de competir", afirma o brasileiro, sem projeções de aposentadoria.
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Mitchie Brusco e seus 14 anos: a jovem revelação do skate vertical apontada por Sandro Dias
"Esses caras pegaram tudo pronto. Não passaram pelas transições do skate que a gente enfrentou, para tornar o esporte o que ele é hoje. Eles também não têm medo, não têm conta para pagar. É tudo mais fácil. Já a gente teve que se adaptar a todas essas mudanças. Até o skate é diferente hoje", acrescenta o hexacampeão do vertical.
Além de Brusco, Sandro Dias identifica brasileiros como Pedro Barros e Dan Cezar como nomes da nova geração a serem observados. Outro deles é Rony Gomes, jovem que procura ouvir conselhos do ídolo sempre que consegue. "Ele procura tirar muita informação de mim. Sinto que ele tem muita curiosidade a meu respeito, sobre o que eu já passei no circuito. Isso é legal", afirma.
Espelho para os jovens, o veterano brasileiro admite que antes desta temporada enfrentou uma espécie de crise de motivação no circuito de vertical. Sandro Dias compara o momento de reflexão com a história do ídolo norte-americano Tony Hawk, que deixou a esfera competitiva em razão de não encontrar mais desafios, tanto em seu rol de adversários quanto na variedade de movimentos a ser desbravada.
"O Tony Hawk era bom em tudo. Só que chegou um momento em que ele não precisava dar o máximo para ganhar. Mas ao mesmo tempo, se ele não desse o máximo, diriam que ele não era o mesmo. O único adversário era ele mesmo. Acho que por isso ele acabou parando", declarou.
"Comigo foi mais ou menos a mesma coisa. Chegou um momento em que eu acertava toda hora o 900 graus (manobra do skate de duas voltas e meia no ar). Fiquei acertando seis meses sem errar, acertei em uns dez campeonatos seguidos. Aí eu tinha que fazer toda hora. Você acaba competindo contra você mesmo. Acabei me machucando muito e parei de fazer. Mas agora já estou me preparando para voltar a fazer ela", conta Mineirinho, com pique renovado aos 36 anos.