Roqueiro skatista transforma lixo em arte e cobra até R$ 45 mil por peças
Paulo Anshowinhas
Do UOL, de São Paulo
O que para alguns não vale nada, para outros vira objeto de luxo. Esse é o caso do skatista/roqueiro e designer Alexandre Cruz, o Sesper, de 40 anos, que na última semana abriu na Galeria Logo, nos Jardins, em São Paulo, a exposição Reprovado, com obras anárquicas e curiosas. E, apesar de surgirem do lixo, as peças podem custar até R$ 45 mil.
A entrada do local já dá uma ideia do conteúdo da mostra. Uma instalação que se assemelha a uma pessoa regurgitando objetos tecnológicos e de esportes radicais. Em um primeiro momento, os objetos parecem um monte de entulho. Com um olhar mais apurado, no entanto, é possível identificar objetos como pranchas de surfe quebradas, pedaços de skate, guitarras, projetores de slides, câmeras analógicas, revistas antológicas, figurinhas, adesivos e mais uma montanha de lixo eletrônico e objetos colecionáveis ou obsoletos.
"Essas são partes do meu atelier na vida real", explica o artista. Para produzir essa "street trash art", Sesper contou com o apoio do "lixo" dos amigos roqueiros e skatistas, além de objetos que são verdadeiras relíquias.
Sesper, ou "Farofa" como alguns o apelidam, anda de skate desde os 13 anos e é o líder e vocalista da banda de rock alternativo Garage Fuzz.
Em sua mais recente exposição, que estará aberta ao público até o dia 8 de setembro na Galeria Logo (Rua Arthur de Azevedo, 401, Jardim Paulista, de terça a sábado, das 11hs as 19hs), as peças são produzidas a partir de um processo artístico chamado "assemblage", muito semelhante à colagem, onde as peças ficam sobrepostas como se formassem "layers" (camadas), criando um tridimensionalidade única e efeitos inusitados.
"É muito louco", comenta o skatista de banks e piscinas Daniel Kim, da equipe Vans, que foi conferir o evento. As obras de Sesper remetem o olhar do visitante a objetos e temas lúdicos dos anos 80, como fitas Atari, capas de vinil de bandas New Wave, placas de rua, fitas k7, mini discs, walkmans, pedaços de plástico, madeira, ferros, fitas silver tape e outros artifícios multicores. De longe aparentam uma imagem bem diferente quando se vê de perto.
"Esses discos do The B'52's eu ganhei do Mureta", diz Sesper, ao se referir a uma capa de um disco de vinil, que ganhou do skatista de vertical Mauro Mureta, enquanto aponta para canetas, lápis e outras peças que foram doadas por outros amigos. O que não serve para uns, tem muito valor para a arte desse artista.
A ideia da exposição começou literalmente do lixo. Ao passear com sua esposa Ale (ex-integrante da banda Pin Ups e atual produtora do cantor Criollo) por uma rua da capital paulista, deparou-se com uma pilha de atlas de anatomia rasgados atirados na sarjeta.
"Essas foram as peças chave desse trabalho", comenta o artista. De fato, esses pedaços e recortes de imagens são distribuídos entre os 12 painéis da mostra, que tem um visual nonsense, mas que faz muito sentido quando se visualiza a riqueza de detalhes que compõe cada um desses quadros.
"É um poeta do caos", diz o fotógrafo e vídeo maker Fábio Bitão, de 39 anos, que foi um dos curadores da exposição e do vídeo Reboard, onde junto com Sesper e o skatista Ragueb, conseguiu reunir 250 shapes na Matilha Cultural e outros 75, em Los Angeles, na Califórnia, há dois anos.
Mas para decorar a parede de sua casa com uma dessas preciosidades de 2,2m por 1,8m, prepare o seu bolso ou fale com o gerente do banco, afinal cada uma dessas obras de skate trash art estará à venda com preços a partir de R$ 4 mil a R$ 45 mil. Um luxo!