Entidade combate "patota de Kelly Slater" com regras baseadas no tênis
A ASP (Associação dos Surfistas Profissionais) vai implantar, a partir deste ano, novas regras na elite e na divisão de acesso do surfe internacional. Com as mudanças, a entidade vai tentar combater as ambições de Kelly Slater, que apresentou no ano passado um projeto para montar uma competição paralela ao Circuito que se chamaria CST (Champions Surf Tour) ou Rebel Tour e teria apenas 16 atletas, prometendo US$ 1,5 milhão em prêmios a cada etapa. De acordo com a ASP, a nova reforma é baseada, em parte, no sistema utilizado no tênis.
“Os próprios surfistas, através do comitê técnico [WPS], uma espécie de sindicato dos atletas, estavam pedindo mudanças e a gente já vinha ventilando sobre alterações. A ASP também tenta anular com isso as intenções do circuito paralelo do Kelly Slater, aumentando a premiação e criando um ranking. O sistema tem que priorizar os melhores”, disse Roberto Perdigão, gerente executivo da ASP na América do Sul.
O norte-americano Kelly Slater encabeçou o pedido de mudanças por parte dos surfistas, que já acontecia há algum tempo, e tentou resolver tudo com as suas próprias mãos. Para o CST os surfistas seriam escolhidos, sem levar em conta qualquer tipo de ranking. Slater estava planejando uma parceria com o canal de TV ESPN, que iria transmitir as oito etapas do evento ‘rebelde’. O eneacampeão ainda não deu declarações sobre as mudanças da ASP e, por enquanto, também não oficializou a criação do seu circuito dos sonhos.
O melhor surfista brasileiro da atualidade, Adriano ‘Mineirinho’ de Souza, participa de algumas reuniões da WPS e destacou que a ideia de Kelly Slater serviu ao menos para sacudir a modalidade. “Acredito que toda mudança que fosse feita seria positiva, alguma coisa deveria ser feita, principalmente, em termos de premiação. O projeto do Kelly pelo menos fez com que as pessoas que dirigem o esporte se mexessem no sentido de valorizar mais o tour”, opinou Mineirinho.
O veterano Teco Padaratz, 38 anos, bicampeão mundial do WQS, era um dos surfistas que brigavam por uma reciclagem no sistema implantado pela ASP e acredita que os planos de Slater vão ficar apenas no papel. “O circuito é muito mais do que o Kelly Slater e a sua patotinha. Muito mais do que 16 caras que querem ganhar muito dinheiro. As mudanças saíram de um lado da associação que, com certeza, é a mais importante dela: os surfistas. O atual campeão Mick Fanning, ao contrário do que o Kelly [Slater] imaginava, reagiu totalmente contra ao circuito paralelo”, afirmou.
O circuito é muito mais do que o Kelly Slater e a sua patotinha. Muito mais do que 16 caras que querem ganhar muito dinheiro
Mineirinho concorda com Padaratz e afirma que a modalidade é muito maior do que os ‘convidados’ de Slater. “A ideia do Kellly não é ruim, mas não sei se 16 atletas apenas reflete a realidade do esporte. Sem contar que ainda estavam muito no ar quais seriam os critérios de escolha dos atletas, entre outras coisas. Muitas coisas ainda estavam no ar”, lembrou o surfista quinto colocado do Circuito em 2009.
Depois do quinto evento deste ano no WCT, o Billabong Pro Teahupoo, no Taiti, a elite será reduzida para 32 surfistas, que deverá ser formada pelos 22 primeiros colocados do ranking do WCT e dez do WQS. Até 2009, a elite era composta por 45 competidores, sendo 15 que vinham da divisão de acesso. “Com atletas demais, o problema é a quantidade de horas que o campeonato tem. Com um número menor de surfistas e dando chance para os azarões, pois são eles que fazem as grandes notícias, a competição tende a melhorar muito”, destacou Padaratz.
Em 2010, os atletas do WCT e do WQS passarão a figurar em um ranking único, o “One Ranking”, ao contrário de como era antes: duas listas distintas. A pontuação máxima no WCT deve ser de 10 mil pontos e 6,5 mil pontos no WQS, o equivalente a um terceiro lugar na elite. “Isso vai fazer com que os atletas da elite frequentem mais o WQS, porque vão precisar fazer um pé de meia para se manter no WCT. A tendência é enxugar mais a elite e fortalecer o produto. Vai ficar mais parecidos com o tênis, o cara que ganhou o evento no ano anterior vai perder pontos se não ganhar de novo”, explicou Perdigão.
CONFIRA AS PRINCIPAIS MUDANÇAS DO SURFE INTERNACIONAL PARA 2010
MUDANÇAS | COMO ERA: | COMO VAI FICAR: |
- Ranking | O ranking era separado: um para os atletas do WCT e outro para os surfistas do WQS. Na elite, os atletas somavam os pontos conquistados em todas as etapas, enquanto na segunda divisão os surfistas somavam apenas os sete melhores resultados da temporada | Os surfistas estarão em um único ranking. Cada atleta passará a computar os seus oito melhores resultados no "ASP One Ranking". Estes resultados podem ser de eventos do WCT ou do WQS |
- Pontuação | No WCT, todos os eventos oferecem o mesmo número de pontos, sendo que era 1,2 mil pontos para o 1º colocado, por exemplo. No WQS, a pontuação diferencia conforme o número de estrelas do evento. Nas etapas WQS 6* Prime, os vencedores ganhavam 3,5 mil pontos | O sistema continua o mesmo, mas a pontuação deve mudar e chegar a 10 mil no WCT e 6,5 mil no WQS |
- Premiação | Os valores pagos em cada etapa chegavam no máximo a quantia de US$ 340 mil (cerca de R$ 590 mil) | Os valores em cada etapa subiram para US$ 400 mil (cerca de R$ 700 mil) |
- Número de surfistas | A elite do surfe, o WCT, tinha um total de 45 atletas, sendo 15 que subiam da divisão de acesso | Após o quinto evento do WCT, Teahupoo, no Taiti, a elite será reduzida para 32 atletas, que deverá ser formada pelos 22 primeiros do ranking do WCT e dez do WQS |
OBSERVAÇÃO: | Algumas mudanças ainda poderão sofrer alterações da ASP, como o número de pontos por etapa, por exemplo |
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