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Surfistas da elite mundial se arriscam na onda que quebra o crânio

Teahupoo é traiçoeira até com os mais experientes, como já sentiu na pele Bruce Irons  - ASP/Divulgação
Teahupoo é traiçoeira até com os mais experientes, como já sentiu na pele Bruce Irons Imagem: ASP/Divulgação

Fernando Poffo

Em São Paulo

20/08/2011 07h00

No idioma original dos polinésios, Teahupoo significa crânio quebrado. A razão para o nome é simples: uma queda sobre a rasa e afiada bancada de coral na qual as ondas estouram é capaz de rachar a cabeça do surfista ao meio, como já ocorreu algumas vezes. A partir deste sábado, a elite do surfe mundial se concentra ao redor da temida bancada esperando o aval da organização da quinta etapa do Circuito Mundial (WT), que tem 11 dias para escolher o melhor momento para o show de surfe.

A expectativa pelo show existe porque ao mesmo tempo em que pode causar sérios danos a quem a desafia, Teahupoo, no Taiti, é também um sonho para todo surfista, devido à formação considerada perfeita para a manobra mais clássica do surfe, o tubo, no qual o esportista flui por dentro da onda.

Atrás exatamente deste sonho os melhores surfistas do mundo aguardam ansiosamente a rara oportunidade de dividir a cobiçada onda com um ou dois concorrentes. Todos loucos para pegar o tubo da vida, mas com a plena noção de que em um piscar de olhos o sonho pode virar pesadelo.

BRASILEIRO QUASE MORREU NO TAITI

A relação dos brasileiros com a onda Teahupoo é relativamente boa, apesar da fama da costa do Brasil não ser a ideal para os surfistas tupiniquins se acostumarem com ondas pesadas e que quebram em um fundo de coral ou pedra. No Brasil, na maioria das praias o fundo é de areia e o local em que a onda estoura varia muito.

Nilton Santos/Divulgação
Todo ser humano tem seu limite e, hoje, meu limite é Teahupoo. Não tenho problemas com outras ondas. Teahupoo pode ser fatal, não estou preparado e minha vida vale mais

Neco Padaratz, ao desistir da etapa de 2003

 

O maior incidente registrado por um brasileiro no Taiti ocorreu com Neco Paradatz, em 2000. O brasileiro foi sugado pela onda e arremessado para cima dos corais, onde acabou ficando preso. O catarinense teve de ser resgatado e saiu de lá traumatizado, tanto que na primeira oportunidade que teve para retornar ao cobiçado evento, três anos depois, Neco enviou uma carta aberta à imprensa desistindo da disputa. Mas o catarinense retornou ao Taiti no ano seguinte, surfou a onda e mostrou que conseguiu superar o trauma.

No entanto, fora o episódio com Neco Padaratz, o Brasil tem mais a festejar ao lembrar das competições realizadas em Teahupoo. Foi lá que Bruno Santos fez o país retomar o caminho das vitórias na elite mundial do surfe, em 2008. O niteroiense saiu da triagem do torneio e quebrou um jejum de seis sem vitórias brasileiras no Tour.

RICARDINHO PRONTO PARA BRILHAR

Inspirado no feito de seu “herói”, um brasileiro de 21 anos que não faz parte da elite do mostrou na última segunda-feira já ter condições de dominar Teahupoo: Ricardo dos Santos também venceu a triagem diante de vários surfistas experientes e reforça o time verde-amarelo na etapa, sem dar sinais de preocupação.

Eu acredito estar preparado porque sinto estar em um bom momento. Essa confiança não se adquire com quantidade de vezes aqui, e sim com respeito e conexão. É a minha quinta temporada em Teahupoo e dessa vez posso dizer que me sinto conectado com a onda. Nas outras vezes, eu não sabia o valor de estar nesse lugar divino”, comentou Ricardinho,  surfista criado na Guarda do Embaú, em Palhoça, no litoral catarinense, e que se destaca mais no surfe pelo seu desempenho em ondas grandes.

 

“Eu acredito que em ondas pesadas o meu surfe se encaixa melhor. É quando me sinto mais feliz dentro da água, talvez por isso os resultados aparecem com mais facilidade nessas condições”, falou Ricardinho, ao analisar a vitória na triagem de Teahupoo, o melhor resultado de sua carreira. O surfista já brilhou em 2008, ao ganhar um pró-júnior no Chile, em condições extremas, na Praia de Punta de Lobos. Agora, Ricardinho está disposto a mostrar que tem condições de brilhar no evento principal de Teahupoo e repetir o feito de Bruno Santos, de quem foi caddie na campanha do título de 2008.

“Na etapa que o Bruninho venceu, tinha muita gente comemorando e mandando uma boa energia. Acredito que o fato de ser o brasileiro e ser amigo de todos que estavam ao redor observando fez com que ele ficasse mais forte a cada bateria. Isso obviamente me serviu como exemplo de que é possível, mas eu estou mais preocupado em me manter grato por estar surfando nesse lugar lindo com apenas uma ou três pessoas na água. Isso sim é um fato especial”, valoriza Ricardinho, que também agradeceu pelas mensagens que recebeu de amigos e familiares do Brasil.

Além da surpresa Ricardinho, o Brasil também terá no evento os surfistas Adriano de Souza, Alejo Muniz, Jadson Andre, Heitor Alves e Raoni Monteiro.

BRASILEIROS MAIS BEM COLOCADOS

Primeiro brasileiro a liderar o ranking mundial, depois de vencer a etapa do Rio de janeiro, o paulista Adriano de Souza tem a missão de que aprendeu a surfar de costas para a onda no Taiti para seguir na busca pelo título. O desafio de descer a perigosa onda sem ver direito o que está acontecendo também será encarado por Alejo Muniz, que nasceu na Argentina mas é naturalizado brasileiro e se considera catarinense.

DUPLA DOS AÉREOS TEM GRANDE CHANCE

O potiguar Jadson André e o cearense Heitor Alves (à direita), representantes do surfe mais ousado entre os brasileiros na elite mundial, os dois vão ter que mostrar consistência para deslizar dentro dos tubos, para garantirem a chance de arriscar seus tradicionais aéreos. A vantagem da dupla é que Teahupoo facilita para quem surfa com o pé direito na frente da prancha, pois o esportista fica de frente para a onda.

PRESSÃO TOTAL PARA SEGUIR NA ELITE

Criado nas pesadas ondas de Itaúna, em Saquarema (RJ), Raoni Monteiro precisa mostrar tudo que sabe no Taiti. Ainda sem um bom resultado na atual temporada, Raoni entrará na água totalmenete pressionado, não só pelos perigos da onda de Teahupoo. O surfista tem a pior colocação no ranking mundial entre os brasileiros da elite e está ameaçado de deixar a elite mundial justamente no ano em que voltou a integrar o seleto grupo após três anos de ausência.

Confira as disputas previstas para a primeira fase do campeonato:

Bateria 1: Adrian Buchan (AUS), Chris Davidson (AUS), Cory Lopez (EUA)
Bateria 2: Taj Burrow (AUS), Matt Wilkinson (AUS), Fredrick Patacchia (HAV)
Bateria 3: Jeremy Flores (FRA), Jadson Andre (BRA), Travis Logie (AFS)
Bateria 4: Mick Fanning (AUS), Tiago Pires (POR), Gabe Kling (EUA)
Bateria 5: Jordy Smith (AFS), Raoni Monteiro (BRA), Ricardo dos Santos (BRA)
Bateria 6: Kelly Slater (EUA), Daniel Ross (AUS), Heiarii Williams (PYF)
Bateria 7: Owen Wright (AUS), Heitor Alves (BRA), Kai Otton (AUS)
Bateria 8: Joel Parkinson (AUS), C.J. Hobgood (EUA), Adam Melling (AUS)
Bateria 9: Bede Durbidge (AUS), Alejo Muniz (BRA), Taylor Knox (EUA)
Bateria 10: Damien Hobgood (EUA), Patrick Gudauskas (EUA), Brett Simpson (EUA)
Bateria 11: Michel Bourez (PYF), Kieren Perrow (AUS), Dusty Payne (HAV)
Bateria 12: Adriano de Souza (BRA), Julian Wilson (AUS), Josh Kerr (AUS)