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Kelly Slater diz que Gabriel Medina assombrou o mundo do surfe

Rafael Reis

Do UOL, em Oahu (Havaí)

10/12/2014 15h08

Parece loucura, mas quando Kelly Slater venceu seu primeiro título mundial, aos 20 anos, Gabriel Medina ainda nem era nascido. De lá para cá, o norte-americano faturou mais dez e se tornou o maior campeão de todas as modalidades esportivas. Mas Slater é simplesmente insaciável e, aos 42 anos, cá está ele novamente disputando o título mundial até a última etapa do circuito. Talvez ele esteja esperando alguém para quem passar o bastão. Ou, então, alguém que o motive a querer mais.

“Quando um cara como ele aparece é assustador para os outros competidores, mas também é motivador para os querem desafiá-lo, que querem estar nessa posição também. Então pra mim, e tenho certeza que para o Mick (Fanning) também, é preciso repensar muitas coisas, do equipamento às manobras”, revelou Slater em entrevista ao lado de Mick Fanning e do própio Medina.

A aparição de Gabriel Medina no WCT em 2011 foi realmente assustadora.  Aos 17 anos, o brasileiro venceu duas das quatro primeiras etapas que disputou, um recorde na história do circuito mundial, algo que a maioria dos surfistas da elite não consegue ao longo de toda a carreira.

O fenômeno Medina extrapolou o mundo do surfe e o prodígio brasileiro foi constantemente comparado a Neymar. De fato, Gabriel vem traçando um caminho semelhante ao do jogador de futebol. Virou uma sensação na mídia, tem diversos patrocinadores pessoais e hoje é um dos surfistas mais bem pagos do mundo, com o apoio de marcas que já não se restringem ao segmento especializado. Ele tem até um programa na TV.

Isso porque dentro da água, Gabriel Medina fez por merecer. Com um surfe progressivo e inovador se tornou o brasileiro com mais títulos de etapas: cinco, sendo três delas conquistadas nesta temporada. Três também foram as vezes em que Gabriel venceu baterias contra Kelly Slater, algo que talvez tenha feito o careca sugerir uma outra comparação para Gabriel:

“Temos que nos superar para acompanhá-lo. É como tentar alcançar um Tiger Woods, que está tão a frente dos demais. E parece que todo mundo, como um grupo, corre atrás dele”, disse Slater referindo-se ao legado de um dos maiores golfistas da história, o norte-americano Tiger Woods, que levou o esporte a outro patamar.

Apenas correr atrás não vai ser o suficiente para Kelly neste Pipe Masters. Ele precisa também que Gabriel tropece antes da final. Para isso, o careca já tem um jeito: “quem sabe colocando umas agulhas em um boneco de vodu – disparou Slater antes de cair do riso.

Esse tipo de poderes Slater pode não ter, mas no mundo do surfe  sua habilidade de entrar na mente dos adversários e desestabilizá-los é tão reconhecida quanto seu talento nas ondas. Sentado ao lado dos rivais, parecendo descontraído e benevolente, Kelly podia muito bem estar aplicando um dos seus golpes favoritos, o de encher de pressão os ombros de seu oponente.

“Nós vamos competir e eu vou fazer tudo que eu puder para vencer. Vou usar todo o conhecimento, todas as minhas habilidades físicas e mentais, mas não posso controlar o que ele faz”, concluiu o norte-americano.

Ruim para Kelly que Gabriel Medina tenha aprendido tanto com o mestre e esteja aprendendo a ser tão frio quanto o próprio rei do surfe. Talvez fosse o que faltava para ser ele mesmo o próximo a reinar.

“Eu não me importo, sabe. Eu não leio tudo. Eu sei que muitas coisas tem acontecido. Eu não estou pressionado, só estou fazendo o meu trabalho, só quero surfar bem em todas as etapas e fazer o meu melhor”, rebateu Gabriel sem se intimidar com as palavras do multi-campeão.

Se para Kelly Slater o brasileiro é como um Tiger Woods, Medina parece estar preparado para a tacada final.