De torcedor a comerciante, Havaí vira reduto brasileiro com 'efeito Medina'
À beira de outro oceano, o jeito brasileiro fica ainda mais perceptível. E nessa temporada ele tomou de assalto o North Shore da ilha de Oahu. Uma legião verde-amarela tomou as areias de Pipeline nestas semanas de dezembro para acompanhar o possível título de Gabriel Medina no Circuito Mundial de surfe.
Esperançosos pelo que pode ser a primeira conquista do país na história da competição, os brasileiros veem sua ansiedade ser multiplicada com o adiamento das baterias. Já foram dois dias sem ondas, o chamado “lay day”.
“A gente fica ansioso, a gente quer ver o Medina e aí lay day, lay day, lay day… Aí a ansiedade aumenta cada vez mais", desabafou o jovem Matheus, de 18 anos, antes de pegar uma bola de futebol para brincar com os amigos André e Márcio na areia fofa de Banzai Beach.
Depois de três toques na bola, fica evidente que a praia deles não é essa. Os três pegam onda e são fissurados pelo surfe. Não poderiam deixar de testemunhar o primeiro título mundial de um brasileiro. “Tá na hora do Brasil levar esse título, tem uma geração muito boa, é a Brazilian Storm (tempestade brasileira)”, diz Márcio, de 16 anos, que já esteve no Havaí no ano passado e viu Mick Fanning conquistar o tricampeonato mundial. “Ano passado era praticamente só eu torcendo para o Brasil”, ele exagera rindo.
Teria companhia se Matheus não tivesse ficado de recuperação de última hora. Para não perder o ano, perdeu a viagem dos sonhos e ficou arrasado. “Mas pensando hoje, se eu tivesse vindo ano passado, acho que não conseguiria vir de novo esse ano para ver o Medina. Então acabou sendo melhor”, reflete Matheus.
Os aprendizes de surfista dividem as areias com nomes reconhecidos, como o big rider brasileiro Pedro Scooby, e com muitos fotógrafos e videomakers da mídia especializada, que têm o inverno havaiano como parada obrigatória. Clicando para alguns dos mais respeitados veículos do mundo do surf como Surfline e The Surfer’s Journal do Japão, o olhar clínico de Pedro Gomes também captou algumas diferenças nesse ano.
"Eu estou incumbido de tirar fotos do Medina e estou acostumado com um, dois fotógrafos que já se conhecem. Hoje fui fazer uma foto dele saindo do mar e de repente tinha vários fotógrafos jornalísticos ao redor, um do lado do outro, querendo achar um espaço (risos). Eu achei meio estranha a situação, mas a gente vai se adaptando aos poucos."
Se a concorrência aumentou, pelo menos a demanda também. Os principais veículos de mídia do Brasil mandaram equipes para cobrir a etapa havaiana do WCT, alguns deles pela primeira vez. Na sala de imprensa do evento, o português é a língua oficial.
Ainda assim, tem gente que esperava ganhar mais. Com todo esse barulho em cima de Medina, os responsáveis pela barraquinha Crispy Grindz, que fica próxima à entrada de Pipe e vende quitutes brasileiros como coxinha, pastel e açaí, acharam que a clientela iria transbordar nesse fim de ano, mas por enquanto as expectativas não se confirmaram.
"Até agora eu achei que está a mesma coisa. Esse ano tinha uma grande expectativa, a gente estava esperando realmente muita gente. Agora, até que aumentou um pouquinho, mas nada de mais...”, conta o funcionário Abelardo Simões, que mora no Havaí há cinco anos.
Segundo Abelardo, a clientela da barraca é formada 60% por brasileiros com saudade da comida de casa e outros 40% gringos curiosos. Incluídos nas duas parcelas estão surfistas da elite que costumam repor as energias tomando um açaí, incluindo Gabriel Medina, sobre quem ele não acha justo colocar tanta pressão.
"Vocês estão dando muita moral para o Medina. Aumentaram muito a bola dele. O tropeço vai ser grande se ele não ganhar".
A decepção seria definitivamente maior do que a da Crispy Grindz com as vendas deste inverno. Mas das frustrações podem nascer as melhores surpresas. E os garotos baianos que foram à praia para torcer por Medina puderam simplesmente surfar Pipeline ao lado do ídolo. Gabriel entrou na água para treinar e acabou rendendo aos jovens fãs uma momento que levarão para sempre.
“Cara, quando eu vi ele entrando no mar, não acreditei”, relatou Matheus eufórico. “A gente tava até de saída, mas aí falei para os moleques ficarem na água. Ele tá muito concentrado, cara. Não tava nem falando com o amigo dele”, contou o jovem antes de prosseguir, com os olhos brilhando: “Mas eu apertei a mão dele! E desejei boa sorte”.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.