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A história dos 25 surfistas da Faixa de Gaza

Do UOL, em São Paulo

15/12/2014 12h00

Os traficantes que comandam favelas brasileiras costumam chamar os pontos mais sangrentos de Faixa de Gaza. Referência fácil de ser compreendida porque esta parte do Oriente Médio enfrentou três conflitos nos últimos seis anos. Mas o local na Palestina é mais do que um ponto vigiado por drones, caças supersônicos e de pessoas acostumadas a correr quando disparam alarmes de bombardeios. Lá também tem surfe.

O Mar Mediterrâneo banha a Faixa de Gaza e faz a alegria dos integrantes do Gaza Surf Club. Não significa que há uma disputa ferrenha pelas melhores ondas, o clube tem somente 25 integrantes. E se o Brasil sonha com um campeão mundial, apenas dois deles sabiam que é Kelly Slater no começo das atividades do grupo.

Este lapso foi reparado e até um troféu foi enviado para o maior nome do surfe. Ele até postou com o presente e curtiu a página no Facebook do Gaza Surf Club. A existência de esporte numa região tão associada a conflitos pode soar estranha, mas a Faixa de Gaza é muito mais que um campo de refugiados. Há cidades, fazendas e pessoas interessadas em lazer, algo muito relacionado ao mar.

Para chegar às praias as famílias palestinas se apertam e carros reforçados que conseguem carregar até 15 pessoas. Os surfistas também são os salva-vidas que trabalham na proteção destes banhistas. Por este motivo, chegam cedo para aproveitar as ondas antes de trabalhar.

Não poder surfar a qualquer hora do dia pode ter contratempos, mas a situação foi bem pior. Até 2007 os surfistas dividiam uma única prancha. O caso ficou conhecido por meio de um artigo publicado pelo Los Angeles Times naquele ano. A situação chamou a atenção da ONG Surf 4 Peace que tomou atitudes.

Ninguém menos que Kelly Slater foi acionado e em poucas horas 14 pranchas foram obtidas junto a empresas de Israel. Um show beneficente foi organizado para ajudar os sufistas da Faixa de Gaza. Slater participou da apresentação e parecia que a situação estava reunida.

Que nada. As pranchas despertaram interesse das jovens palestinas em 2010 e isto exigiu medidas. Foi preciso projetar uma roupa que se adequasse as exigências de vestimenta da Faixa de Gaza para elas entrarem no mar.

Outro problema foi a reposição do material de surfe, alco complicado de ocorrer com embargo econômico. A criatividade entra em ação: um pedaço de madeira moldado faz as vezes quilha. O poder público local também se converteu numa barreira para os surfistas. Por ser produto de doação, as autoridades quiseram ter o controle das pranchas e liberar apenas nos horários que desejarem.

O Gaza Surf Club rejeita esta ideia e começa a ficar cada vez mais organizado. Um imóvel vai servir de sede da entidade, onde poderão receber pessoas de outros locais e dar privacidade às garotas que praticam o esporte. Bom para ele, sempre associado a liberade, o surfe deve potencializar este sentimento num lugar com tantas adversidades.