Surfista morto após ser baleado por PM é enterrado em Santa Catarina
O surfista Ricardo dos Santos, morto na terça-feira após ser baleado por um policial militar, foi enterrado no início da tarde desta quarta-feira no Cemitério Paulo Lopes, nas proximidades de Palhoça (SC). O sepultamento foi acompanhado por centenas de pessoas, entre familiares, amigos e membros da comunidade do surfe. Gritos por justiça, aplausos e a canção Pais e Filhos, do Legião Urbana, puxada pela tia Sônia dos Santos, marcaram a cerimônia.
A namorada Karoline Esser agradeceu pelos seis anos de companheirismo que viveu ao lado de Ricardo: "com ele aprendi o amor e aprendi como o mundo é enorme".
Às 18h, a comunidade do surfe fará uma roda no Rio da Madre, na Guarda do Embaú, lugar onde Ricardo cresceu. O presidente da Liga Mundial de Surfe (WSL, em inglês), Paul Speaker, e o gerente geral de eventos da entidade, Graham Stapelberg, acompanharão a cerimônia. Ambos chegarão ao Brasil na tarde desta quarta-feira, vindos dos Estados Unidos.
"Tenho certeza que ele ficará honrado de ter uma homenagem no Havaí e outra aqui, nos dois lugares que ele amava", disse Marco Aurélio Gungel, o Kito, presidente da Associação de Surfe e Preservação da Guarda do Embaú.
Pela manhã, o corpo do atleta havia sido na capela Santa Terezinha, na Guarda do Embaú. Cerca de 1,5 mil pessoas foram ao local para homenagens e despedidas. Diversos surfistas de outras regiões compareceram e levaram pranchas para lembrar o esporte praticado pelo jovem. Ao lado do caixão estiveram o amigo e também surfista Alejo Muniz, além da mãe de Ricardo, Luciane dos Santos, que chora compulsivamente.
A capela foi toda decorada com fotos de Ricardo e suas pranchas foram distribuídas pelo local. O luto também se estende pela praia. Todos os quiosques estão fechados e estampam faixas pretas.
Ao final da missa de corpo presente, a comunidade da Guarda do Embaú compartilhou as histórias de Ricardo dos Santos, sempre ligadas ao surfe. O avô Nicolau dos Santos disse que quando viu o menino pensou: "este tem cara de surfista".
E não houve desabafo que esquecesse a justiça. O padrinho de Ricardo, Ari Goes, acredita que o surfista pode virar símbolo de uma mudança.
"Ricardo precisou dar a vida para mostrar o que acontece no Brasil. Um policial assassina um jovem, um atleta, sem nenhum motivo. Este é o chamado para mudarmos enquanto é tempo", disse.
A tia Juciane dos Santos lembrou que a é hora da comunidade se unir, para que a Guarda volte a ser um lugar de paz. Nomes importantes do surfe também vieram se despedir do amigo, como Alejo Muniz, Renan Rocha, Jaqueline Silva, os irmãos Thiago e Bárbara Müller, além do fotosurfista William Zimmermann, que fez a última foto de Ricardo dos Santos. Outro presente na cerimônia foi o skatista Alan Mesquita.
Ricardo Santos, 24 anos, morreu após não resistir aos ferimentos provocados pelos três tiros que levou no abdómen e no tórax na manhã segunda-feira e morreu no início da tarde de terça no Hospital Regional de São José (SC), após passar por quatro cirurgias para controlar hemorragias e sofrer uma parada cardíaca. Os tiros foram disparados pelo policial militar Luiz Paulo Mota Brentano, que está preso no quartel da PM de Florianópolis.
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