Sem balada, mídia ou amigos. Blindagem criada por padrasto é arma de Medina
Os campeões não surgem ao acaso. Por trás de toda trajetória vencedora está muita preparação e dedicação. Focado no bicampeonato mundial de surf, o fenômeno brasileiro Gabriel Medina adotou durante os campeonatos uma postura que para muitos pode parecer radical. Enquanto está em período de competição, Medina prefere manter-se longe da mídia e até mesmo com poucos amigos por perto.
Com ajuda de seu padrasto e técnico Charles Saldanha, o jovem surfista da praia de Maresias, no litoral Norte de São Paulo, desenvolveu uma estratégia de blindagem para manter-se 100% concentrado em apenas fazer o que mais gosta, surfar. Esse plano foi armado na última temporada, quando o surfista conquistou aos 20 anos de idade, o primeiro título mundial para o Brasil.
Ao ver a fórmula dar certo, Charles e Medina não pensaram duas vezes antes de colocá-la em prática novamente nesta temporada. E estão confiantes que a receita possa ser vencedora também em 2015.
“Eu sou à favor disso. Prefiro que não tenha muita gente perto também, porquê eu acho que o ser humano geralmente passa uma energia, às vezes positiva e negativa também. Isso não é muito legal. Então, eu gosto muito desse foco e dessa blindagem. E isso tem dado certo com o Gabriel”, comenta em entrevista ao UOL Esporte.
Adotada desde a temporada passada, o técnico ressalta que muitas vezes essa estratégia pode ser adaptada, de acordo com o que está dando certo e com o que for melhor para o surfista.
“Eu sempre falo, no esporte você pode fazer como alguém já fez: copiando. Ou com você mesmo. No caso do Gabriel, a gente faz algumas tentativas para ver o que dá certo. E acabamos percebendo que o Gabriel, nos campeonatos mais focados, ele acabava ganhando. Então acabamos adotando essa política de blindagem, sem sair para a balada, com menos mídia e até menos amigos por perto também”, explica.
Para Charles, essa postura ajuda na concentração e no amadurecimento de Gabriel Medina como atleta. Ele prefere manter o surfista afastado de influências externas durante o período de disputas, que podem durar até 12 dias.
“Como o período dos campeonatos duram apenas 12 dias, o esforço durante esses períodos não fazem mal à ele. Pelo contrário, ajuda a deixá-lo mais focado e mais ligado na competição. Pensando naquilo que ele tem que fazer, e não disperso com problemas ou com outras coisas”, ressalta.
A vontade de vencer com a qual o surfista brasileiro disputa as competições é nítida. Para o técnico esse é um dos pontos fortes de Medina e o ajuda na hora de passar por esse regime de concentração.
“Ele é bem profissional. Ele é um competidor. Além de amar o surfe, ele gosta de ganhar. Então ele não mede esforços por uma vitória. Mesmo que precise ficar focado, treinar ou abrir mão de muitas coisas”, afirma.
Assim como a maioria dos jovens da sua idade, Medina também compartilha as mesmas vontades de sair, ir para a balada, ou jogar futebol com os amigos. Mas sabe e entende a importância de que para manter o foco e estar concentrado para a hora em que precisar entrar em ação, é necessário abrir mão de muitas coisas.
“Ontem mesmo enquanto a gente saía para jantar tinha uma galera indo para a balada, o próprio Gabriel comentou que quando mais novo sentia vontade de sair, mas que atualmente está tranquilo sem sair e sabe como isso é importante. Hoje o Gabriel está mais maduro, e acabou aceitando e adotando essa postura, que muitas vezes parte dele também”, lembra.
Para a alegria de Medina, em algumas etapas do circuito mundial ele viaja acompanhado de sua família. Isso ajuda o brasileiro a ficar tranquilo e se sentir bem à vontade quando não está dentro da água. Mas o padrasto e treinador ressalta que nessas horas o foco da família está sempre em ajudar o surfista no que for preciso, sem atrapalhar sua concentração durante os campeonatos.
“Acho que é importante a família estar perto e para ele é bem legal. Mas o mais importante de tudo é a família estar focada e sabendo que naquele momento o Gabriel é a peça mais importante. Nós temos que ajudar ele. Ajudar a ficar focado. Temos que ter humildade para saber disso e ajudar o Gabriel. Pois não adianta nada vir toda a família e ficar um oba-oba”, diz.
O plano para o bicampeonato
Com 11 etapas ao longo do ano, Gabriel Medina tem ainda um longo caminho pela frente na briga pelo bicampeonato mundial de surfe. Mas o surfista e seu treinador já traçaram um plano para facilitar a trajetória até uma possível conquista.
Focado em vencer todas as etapas que disputar, Charles e Medina sabem que muitas vezes a vitória pode não acontecer e, para manter-se na briga o surfista precisa de uma combinação de bons resultados, já que ao final do circuito os nove melhores resultados dos 11 campeonatos disputados são levados em consideração para a pontuação geral do ranking.
“A gente já sabe, mesmo com a pouca experiência que temos, que de um nono lugar para cima sempre conta. Então, em todo campeonato a meta é terminar no mínimo em nono lugar. E claro, quanto mais vitória mais perto ele vai chegar do título. A gente chega com pensamento de vitória em todos os campeonatos. E acaba ganhando uns outros não. Mas sabemos que um nono lugar já é um bom resultado no geral, pois é um circuito longo que conta os nove melhores resultados. Então, todo resultado acima de nono lugar vale a pena”, revela.
Gabriel Medina é o camisa 10
Uma das novidades da temporada 2015 da Liga Mundial de Surfe é a numeração fixa estampada nas camisetas de competição dos surfistas. Assim como acontece no futebol, os atletas puderam escolher com qual número “entrariam em campo”.
No começo do ano a WSL consultou todos os atletas e o critério adotado para decidir a ordem de escolha foi a posição no ranking mundial da temporada passada, e como o brasileiro Gabriel Medina é o atual campeão, foi o primeiro a escolher.
“Ele escolheu os números 1 e 10. Acabaram dando a camisa 10 para ele. Não sei qual foi o motivo mas a camisa número 1 não ficou com ninguém. Mas foi bom, porque o Gabriel se identifica muito com o número que recebeu, já que no começo da carreira ele tirou muita nota 10. O craque do time sempre fica com essa camisa. E o Gabriel gosta de assumir essa responsabilidade. Você pode ver que na hora que o campeonato cresce, quando fica difícil, é quando ele mais aparece. Ele é tipo aquele craque que qualquer técnico falaria: a camisa 10 é sua Gabriel, vai lá que eu confio em você”, conta Charles.
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