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Medina é uma fortaleza psicológica e não se abala. Mesmo em má fase

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

30/04/2015 06h00

Gabriel Medina já errou bastante nesta temporada, está em 16º no ranking e os dois descartes a que tem direito foram queimados nas três primeiras etapas do circuito mundial. A reação precisa vir na etapa do Rio de Janeiro, onde nunca venceu, e diante da imensa expectativa da torcida por receber o campeão mundial pela primeira vez. Nada que preocupe o surfista.

Considerado muito forte psicologicamente, ele acredita que vai tirar tudo de letra. O padrasto e técnico, Charles Serrano Rodrigues, endossa a confiança e diz que o atleta teve foco e cabeça fria para mostrar o melhor surfe sempre que foi exigido. Um exemplo foi a reta final na briga pelo título ano passado, quando competiu com Kelly Slater e o ídolo de infância Mick Fanning.

Na bateria final em Teahuppo no ano passado, mais uma prova de que Medina consegue segurar os nervos. A praia tem ondas pesadas e perigosas, e o adversário era Kelly Slater. Mais uma vez nada de o brasileiro vacar – gíria do surfe para cair. O rival errou e o psicológico não deixou o surfista paulista na mão. Ele devorou o 11 vezes campeão numa etapa que separa os homens dos meninos.

“Fui feito assim na verdade. Sempre nesses dias de pressão, nesses momentos que eu precisava, eu consegui me sair bem. Eu acho que isso é natural, desde criança eu sou assim, sou frio. E me ajuda no esporte que eu faço.”

O psicológico forte pode ser natural, mas algumas derrotas forjaram o emocional, segundo declara o próprio Medina. A mais simbólica foi a etapa de Peniche, penúltima do circuito júnior de 2012. Ele sofreu uma virada no último minuto, mas não engoliu o critério dos juízes. Os torcedores que estavam na praia portuguesa concordaram com ele. Na época o brasileiro desabafou nas redes sociais.

“Obrigado a todos! Só pelos aplausos daquela galera gigante na praia deu para ver o resultado, mas enfim se os juízes acharam isso... Fazer o quê?

O atleta conta que este dia doeu e ficou martelando muito tempo em sua cabeça. Com o 16º lugar nesta temporada é ele que virou alvo nas redes sociais. Algumas pessoas escreveram xingamentos em seu Instagram. Medina não liga e o padrasto comemora.

Charles explica que o surfista sempre precisou de algumas cutucadas para ganhar motivação. Acrescenta que alcançar um objetivo tão grande como o campeonato mundial pode levar para uma zona de conforto. Mas o técnico acredita que o surfista vai deslanchar na etapa do Brasil.

Medina vai na mesma linha, afirma que não sente a pressão por competir em casa e gosta do calor do torcedor que é recebido como um incentivo. Ele ainda fala em conquistar o segundo título este ano.

A mãe credita esta positividade e força mental a religiosidade. No episódio contra Kelly Slater em Teahuppo, Simone Medina revela que falou com o filho por WhatsApp ao perceber que o surfista estava receoso. “Se você pegar a Bíblia para ler ela tem 365 vezes a expressão 'não tema', uma para cada dia. E essa palavra tá alicerçada no coração do Gabriel. Eu ministro ele desde pequeninho.”

A mensagem enviada pelo celular dizia para o filho não temer porque Deus era maior que Kelly Slater, Mick Fanning e qualquer outro adversário. A mãe revela que Medina gosta bastante do salmo 91, que em certo trecho diz: “caiam mil ao teu lado e 10 mil a tua direita; tu não serás atingido.”

Simone lembra que ele leva um livrinho baseado na Bíblia nas viagens e todo dia ajoelha e reza ao ir dormir e quando acorda. A fé é a razão da força psicológica no entender dela. A esperanças de Medina em ser campeão está baseada na confiança em si e num argumento racional.

O circuito mundial tem 11 etapas e cada competidor tem direito a descartar os dois piores resultados. O brasileiro tem uma quartas de final na segunda etapa na atual temporada e péssimas colocações nas outras duas realizadas. A intenção é não errar mais. Ele sabe que na hora que aperta responde com o melhor surfe.