Vitória de Filipinho tem tietes, prancha quebrada e protesto por poluição
Vencer o compatriota Ítalo Ferreira na semifinal e o australiano Bede Durbridge na decisão foram apenas duas etapas de uma maratona que o surfista paulista Filipe Toledo, 20, cumpriu neste domingo (17), na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. A sequência de compromissos continuou ainda no pódio da etapa do circuito mundial de surfe (WSL): enquanto ele empilhava entrevistas, selfies e autógrafos para VIPs, fãs disputavam espaço na areia e segundos de atenção do atleta.
"Filipe! Filipe! Toledo! Eu te amo, Toledo!", gritava insistentemente uma adolescente colada à grade que separava o público da área de premiação. O público vibrava sempre que o surfista virava em direção a eles – as entrevistas para parceiros de mídia do WSL foram feitas ainda no pódio, e todas aconteceram com o atleta de costas para a torcida.
A adolescente foi apenas um exemplo num grande contingente de tietes. Ainda que seja um atleta em ascensão, Filipinho já tem um séquito de admiradoras nas areias brasileiras.
Até por isso, um dos momentos de maior furor foi o instante em que Filipinho decidiu jogar para a torcida uma bandeira do Brasil que ele carregou desde o mar. Um rapaz conseguiu pegar o mimo ainda no ar, disputou com algumas pessoas e escondeu dentro da bermuda para proteger o prêmio.
Também levantou a torcida o instante em que Filipe começou a conversar com a norte-americana Courtney Conlogue. Os dois já haviam trocado banho de cerveja na comemoração, e o bate-papo no pódio motivou um grito de "beija" – ele não deu atenção, e ela não demonstrou ter entendido.
A participação da torcida foi importante para contar o clima que cercou a etapa carioca do WSL. Desde o início, o público que lotou a praia da Barra da Tijuca acompanhou de forma efusiva as disputas no mar. O maior exemplo disso foi a campanha de Filipinho neste domingo, acompanhada por gritos o tempo todo.
"Minha família toda está aí. Veio muita gente – umas 30 pessoas, eu acho. O suporte foi maravilhoso, e eu me sinto muito bem com isso", comemorou Filipinho. O surfista foi carregado do mar até a área VIP do evento, acompanhado por gritos de "é campeão".
Talvez justamente por esse incentivo oriundo da torcida, Filipinho teve comportamento extremamente agressivo neste domingo. As baterias contra Ítalo e Durbridge foram resolvidas logo no início – cada disputa tem um tempo determinado, e os surfistas somam os dois melhores resultados em um número ilimitado de ondas.
O comportamento agressivo fez com que Filipinho tentasse aproveitar até demais algumas ondas. Na bateria final, ele chegou a quebrar uma prancha porque foi até a areia fazendo manobras. "Posso dizer que a etapa foi perfeita", resumiu o brasileiro.
A única coisa que não foi perfeita foi a condição do mar da Barra da Tijuca. Surfistas reclamaram do excesso de poluição – pelo menos quatro, incluindo o norte-americano Kelly Slater e o próprio Filipinho, relataram que passaram mal por causa da água.
"Há três dias eu acordei mal, mas na mesma hora eu vi um médico. Ele me deu uma injeção de Dipirona e cortou a dor de cabeça. No outro dia eu já estava zerado, sem dores ou ânsia de vômito. Hoje eu pude dar 110%", relatou Filipinho. "Sem dúvida foi a água, até porque eu não fui o único com esses sintomas. Ontem [sábado] eu encontrei o Kelly no elevador, e ele estava se sentindo meio mal, com dor de cabeça, vômito e enjoo", completou.
Neste domingo, um grupo de ativistas aproveitou a etapa do WSL na Barra da Tijuca e protestou contra o estado do mar no local. Havia faixas e cartazes na areia com mensagens pedindo intervenção para conservação da área.
Em entrevista ao jornal carioca "O Globo", o surfista Wiggolly Dantas foi ainda mais enfático sobre o problema: "Dentro da água, sentimos um cheiro de fossa. Não passei bem depois de surfar".
O Inea (Instituto Estadual do Ambiente) fez 29 medições de balneabilidade na água da Barra da Tijuca em 2015. A região que recebeu o WSL foi aprovada em apenas oito ocasiões.
A poluição no mar do Rio de Janeiro já havia tirado do WSL a praia de São Conrado. O local teria um segundo polo de competição para a etapa deste ano, mas o espaço foi vetado por causa da situação da água.
A praia de São Conrado foi submetida ao mesmo controle do Inea, e o espaço não foi aprovado em nenhuma das 29 análises de 2015. Desde 2008, o local tem condições de balneabilidade classificadas como péssimas em pelo menos metade do ano.?
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