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Tietes, vida nos EUA e oito patrocínios: Filipinho já é “popstar” do surfe

Filipe Toledo comemora vitória na semifinal na etapa do Rio da WSL - Sergio Moraes/Reuters
Filipe Toledo comemora vitória na semifinal na etapa do Rio da WSL Imagem: Sergio Moraes/Reuters

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

18/05/2015 12h01

Encerrada no último domingo (17), a etapa carioca do circuito mundial de surfe (WSL) foi de Filipe Toledo. Não apenas por ter vencido e por ter assumido a segunda posição na classificação da temporada, atrás apenas do compatriota Adriano de Souza, mas por ter dado uma demonstração prática de uma evolução extremamente rápida de status. O paulista de 20 anos, caçula da disputa, já recebe tratamento de popstar: tietes, vida nos Estados Unidos e oito patrocinadores.

Filipinho vem de uma família tradicional no esporte. Ricardinho Toledo, pai e mentor do surfista, foi profissional da modalidade e conquistou dois títulos brasileiros no início da década de 1990.

A família dos surfistas vive desde o ano passado em San Clemente (Califórnia), onde o assédio sobre Filipinho ainda é incipiente. “A molecadinha já conhece, mas ele tem bastante tranquilidade por lá”, relatou Ricardinho.

No Brasil, o assédio também é bem recente. Nascido em Ubatuba, Filipinho foi campeão mundial sub-16 da ISA (Associação Internacional de Surfe, na sigla em inglês) em 2011. No entanto, só passou a ser um nome mais conhecido fora do esporte em 2015, depois de um bom início no WSL e da visibilidade que o circuito ganhou no Brasil após título mundial conquistado no ano anterior por Gabriel Medina, 21.

Medina, aliás, é o melhor parâmetro para falar sobre Filipinho. O atual campeão mundial também é badalado desde cedo na modalidade, mas explodiu na campanha que rendeu o título de 2014. Hoje tem 11 patrocinadores e uma imagem popular fora do surfe.

Segundo pesquisa publicada em março pelo instituto Ibope/Repucom, o título mundial de surfe alavancou de forma considerável a popularidade de Medina. Levantamento feito com 6 mil pessoas em território nacional em março de 2015, que avaliou 300 celebridades locais e outras 300 internacionais, atribuiu nota 85,26 ao surfista no quesito awarness (reconhecimento) e 79,75 em influência. Em outubro do ano anterior ele tinha obtido 35,31 e 65,27 nos mesmos atributos.

O efeito Medida pôde ser medido nas areias da Barra da Tijuca, onde a etapa carioca do WSL foi realizada em 2015. O surfista foi eliminado na terceira rodada, mas pessoas se aglomeraram até o último dia de evento na frente da sacada do prédio em que ele estava hospedado.

Só que Medina não despertou apenas curiosidade. A vitória do brasileiro em 2014 produziu algo parecido com o “efeito Guga” no tênis – ganho de popularidade que a modalidade teve após sucesso de Gustavo Kuerten, que chegou a ser número 1 do mundo.

A primeira demonstração disso é a relação com patrocinadores. Medina chegou a ter a carreira administrada pela IMX, joint venture entre a gigante global de comunicação IMG e o empresário Eike Batista, e lançou até uma marca própria. Nem assim, porém, chegou perto do sucesso comercial trazido pelo desempenho de 2014.

Filipinho aproveita um pouco essa onda. Já são oito marcas no portfólio do paulista. A última foi a montadora Jeep, que disponibiliza carros para ele usar durante o circuito.

Filipe Toledo não é Gabriel Medina

O sucesso recente aproximou as trajetórias de Filipinho e Medina. Ambos são paulistas, foram criados por famílias apaixonadas por surfe e conseguiram ainda novos resultados expressivos no circuito mundial. As semelhanças, contudo, não vão muito além disso.

Filipinho é especialista em ondas pequenas – exatamente o que os surfistas encontraram no Rio de Janeiro. É um atleta especialista em aéreos, manobras que ele costuma ver em vídeos. Medina tem um repertório um pouco mais eclético.

Além da questão técnica, há uma diferença de perfil. Medina é menos expansivo – fala mais baixo, com uma expressão e um discurso que flertam em muitos momentos com a timidez.

A etapa carioca do WSL serviu como demonstração disso. Antes de entrar na água, Medina tentou fazer um ritual de concentração na areia. Nas semifinais, por outro lado, Filipinho dispensou até o jet-ski que o levaria até o local da competição. Em vez disso, preferiu correr na areia, com o público em volta.

Nova geração vira esperança para “salvar” o surfe

A geração que conta com Medina e Filipinho tem sido chamada de “Brazilian Storm”. É algo que chama atenção até dos surfistas de outros países. “Eles são muito unidos. É quase como se fosse um time”, declarou no início da semana passada o australiano Mick Fanning.

A ascensão deles é uma espécie de reação para o surfe brasileiro. O circuito nacional da modalidade era chamado Supersurf até 2009 e tinha apoio de marcas de grande porte, mas perdeu parceiros e teve de se reinventar. Surgiu em 2010 o Brasil Surf Pro, que era bancado majoritariamente pela Petrobras. Dois anos depois, porém, a estatal saiu para concentrar esforços em modalidades olímpicas.

Essa queda atingiu um ponto drástico em 2014, ano em que o circuito brasileiro distribuiu a menor premiação em 15 anos (R$ 240 mil). Por questões financeiras, não houve etapas no Rio de Janeiro ou no Nordeste.