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Ela levantou a bandeira do surfe feminino. E virou parceira de Neymar

Roberto Oliveira

Do UOL, em São Paulo

24/11/2015 06h00

Marina Werneck aprendeu a nadar ainda bebê e começou a surfar aos 5 anos com a prancha do pai. Não parou mais. Foi campeã nacional, integrou a seleção brasileira e competiu mundo afora. Mas deixou as competições para viver o esporte, tornando-se uma “free surfer” profissional, com programa na TV fechada e um canal no Youtube. E o principal motivo da mudança foi a falta de oportunidade para o surfe feminino no Brasil.

Amiga de infância Gabriel Medina, Filipe Toledo e dos demais nomes da “Brazilian Storm”, ela vê na nova geração uma esperança para o surfe no país. Principalmente para as mulheres.

“Temos uma grande oportunidade nas mãos. Espero que as meninas vejam esse momento com bons olhos como eu vejo, entendam que temos que abrir mercado e não disputar o pouco espaço que temos. Espero que as meninas mais velhas se dediquem a fazer seu papel de alguma maneira e busquem deixar o seu legado para o surfe feminino, e que as meninas mais novas se inspirem, tanto na gente como nos meninos, para acreditar que dias melhores virão para as competições. Para nós a situação é mais complexa, pois como não se tem uma liderança bem definida, às vezes as poucas oportunidades se cruzam”, afirma Marina ao UOL Esporte.

A surfista do Rio de Janeiro, 28 anos, acredita que o Brasil vive momento inédito na história do surfe. E ela conhece bem de perto os principais responsáveis pela virada de cenário do esporte no país.

“O momento do surfe hoje no Brasil é como um sonho. Ver o que essa galera está fazendo pelo esporte é incrível. Filipinho Toledo, Miguel Pupo, Adriano de Souza, Gabriel Medina, Wiggolly Dantas, Italo Ferreira, Jadson André, Alejo Muniz… Todos meus amigos de infância. A gente viajava, competia juntos, e sonhava com o que está acontecendo hoje. Antigamente não se tinha muito apoio para os homens, era uma batalha. O Fábio Gouveia, o Neco e o Teco Padaratz, Vitinho Ribas e tantos outros lutaram muito para plantar essa semente, e agora os meus amigos estão representando com um profissionalismo muito inspirador. Fora o Mineiro [Adriano de Souza], são todos mais novos que do que eu, mas viraram minha inspiração”, acrescenta Marina.

Mas o que seria o “free surf” (surfe livre, em tradução direta do inglês)?

“Com a falta de competições profissionais de surfe no Brasil e as novas oportunidades de comunicação, vi que posso aproveitar tudo que aprendi ao longo da minha vida como surfista e atleta para inspirar as novas gerações e deixar um legado para o surfe, principalmente o feminino. O surfe na essência é muito mais do que um esporte ou uma competição, é praticamente uma filosofia de vida, uma prática diária, livre e espontânea que envolve um universo repleto de viagens, contato com a natureza e outros rituais que proporcionam felicidade e inspiração. O free surf pra mim é isso”, explica a carioca, que também gosta de futebol e aprendeu com a avó a torcer pelo Flamengo.

E foi exatamente essa filosofia que fez com que os caminhos de Marina se cruzassem com os do maior nome do futebol brasileiro na atualidade: Neymar. Os dois são parceiros em projeto do instituto que leva o nome do jogador.

“Minha aproximação com a família veio através do Instituto Projeto Neymar Junior, que ainda estava na fase de construção. Quando soube que seria erguido na Praia Grande um centro educacional para mais de 2 mil crianças da região, fui apresentar uma proposta para inserir o surfe nesse projeto. Foi assim que nos conhecemos e iniciamos a parceria que temos hoje. Sou madrinha dos esportes aquáticos do projeto, estamos montando uma programação para iniciarmos as atividades”, conta Marina.

“Me identifico com o Neymar. É o meu jogador favorito porque ele busca resultado como sempre fiz. Acredito que ele seria um bom surfista, ele é um cara dedicado e focado em tudo que faz. Pelo que eu sei ele andou se arriscando no wakebord e recentemente ele participou de uma campanha com o Medina. Ele é um cara abusado”, diz, aos risos.

Hoje, meses depois após o acerto da parceria, a relação de Marina com a família do craque vai além. A NN Consultoria, empresa de Neymar pai, é quem administra a carreira da surfista. E ela até já tentou dar umas aulas de surfe para a irmã do jogador, Rafaella Santos.

Sucesso na TV fechada e nas redes sociais

Marina Werneck começou a carreira na TV em 2008, quando foi chamada pela Globo para participar do programa Nas Ondas. Depois, passou pelo Multishow, com a atração Férias no Rosa.

“O programa foi um sucesso, e ainda quando estávamos no ar com o Férias no Rosa, o diretor do Multishow, OFF e Bis, Guilherme Zattar, me convidou para desenharmos um programa só para meninas, com mais performance, para o canal OFF. Ele queria levar a experiência do Multishow, porém com muito mais surfe. Eu até lembro que a gravação tinha que ser em janeiro, em função da grade do canal, daí eu disse para ele: ‘onda no Brasil em janeiro só em Noronha’. Foi então que nasceu o Noronha Por Elas, a primeira temporada de um espaço muito legal que o surfe feminino conquistou na mídia”, relembra Marina, que está no Peru gravando mais uma temporada da atração.

Com a ascensão na TV fechada, Marina partiu para a conquista de outros públicos. Principalmente através das redes sociais.

“Com certeza a mídia social é a minha principal ferramenta para inspirar o público. Mas o sucesso não vem só daí. Eu sou muito séria quando o assunto é trabalho, sou uma surfista realmente profissional! Me alimento muito bem, faço uma rotina de treinamento muito forte e levo a sério meus compromissos. Tudo isso reflete na minha disposição para surfar e consequentemente no quanto eu inspiro as pessoas. As pessoas me escrevem pedindo mais informações, mais dicas, mais imagens. Foi aí que tive a ideia de criar um canal no Youtube. Afinal de contas sempre sobrava assunto mas eu não conseguia transmitir para todas as pessoas esse universo só com o meu celular”, diz ela.

Hoje, Marina se divide aos montes. É surfista profissional, apresentadora de TV, professora do Instituto Projeto Neymar Jr. E carrega sempre consigo a bandeira do surfe feminino.

“Eu estou aqui no Peru gravando uma temporada do Por Elas para a televisão. Na mesma época vai acontecer a única etapa do Circuito Brasileiro Feminino pela Abrasp. Como vou poder apoiar a etapa sem estar presente? E se eu fosse para o campeonato, eu iria perder esse espaço de televisão? Tenho certeza que num futuro breve vamos conseguir unir as meninas e ter um calendário feminino integrado de campeonatos, televisão, festivais nas praias, palestras… Ou seja, todos os eventos e todas as formadoras de opinião em um só lugar. Quem sabe daí não apareça a 'Brazilian Flowers'?”