Reincidente, Medina já ignorou pódio e até pintou cabelo por melhores notas
A polêmica envolvendo Gabriel Medina e os juízes da Liga Mundial de Surfe (WSL) fez muito barulho no mundo do surfe neste último sábado (10), quando o brasileiro reclamou da avaliação de suas ondas (com palmas irônicas) após não conseguir a virada contra Tanner Gudaukas, sendo eliminado precocemente da etapa disputada em Trestles, nos Estados Unidos. A confusão, no entanto, não foi a primeira protagonizada pelo surfista de Maresias na elite da modalidade.
Medina não teve um começo fácil no Circuito Mundial de Surfe (WCT). Apesar de vencer duas etapas logo em seu ano de estreia (2011), ele precisou passar por constantes adaptações para “agradar” os juízes da então Associação dos Surfistas Profissionais (ASP, que depois viraria WSL).
Depois de ver o brasileiro brilhar na França e nos Estados Unidos, a organização resolveu mudar com sutileza os critérios de julgamento ao longo de 2012 e 2013, e, para beneficiar os surfistas mais experientes, voltou a distribuir melhores notas para quem fizesse um surfe mais tradicional, com manobras clássicas, em vez dos grandes aéreos de Medina. A mudança, porém, foi considerada natural, já que os critérios vivem em constante movimento no surfe.
O problema é que Medina e sua equipe não perceberam essa alteração logo de cara. Gabriel patinou no começo de 2012 e, após uma campanha irregular, chegou em Portugal para viver uma de suas experiências mais frustrantes no WCT. O brasileiro começou muito bem a oitava etapa do Mundial e, na final, reencontrou Julian Wilson, um de seus maiores rivais da divisão de acesso.
Por ser brasileiro, Medina contava com a maior parte da torcida na praia de Peniche e conseguiu duas boas ondas, surfando sempre no limite, em uma mistura dos critérios preferidos dos juízes: velocidade, força e fluidez. Julian estava mais irregular, apostou em um tubo espremido, que o obrigou a sair pelo meio da espuma, e uma outra onda boa já no final da bateria.
Ao final, todos estavam confiantes em uma vitória do brasileiro. A diferença entre as notas a serem dadas parecia óbvia. Mas não para os juízes. Nas papeletas, Julian venceu por 16,26 (8,43 e 7,83) contra apenas 15,37 (7,90 e 7,47). Ao saber do resultado, Medina caiu em lágrimas e, tomado de raiva, recusou a subir no pódio. Depois, convencido por sua equipe, foi receber o prêmio, fez um discurso sincero, destacando o erro dos juízes, e desceu sem esperar a premiação para o australiano.
Assim como no último sábado, uma enxurrada de críticas invadiu as redes sociais, não só por fãs de Medina, mas também por surfistas profissionais e jornalistas especializados no esporte.
“Acabei de vomitar. Estou enjoado”, escreveu o havaiano Freddy Patacchia. Tim Barker, referência na cobertura de surfe, também não fugiu do assunto. “Sou um jornalista australiano e acho que ‘Gab’ foi roubado. Não sei explicar por que, mas ele foi roubado. As duas ondas de Gabriel foram claramente melhores que as de Julian Wilson”, completou. A ASP, hoje WSL, jamais admitiu o erro ou sequer deu qualquer explicação.
CABELO LOIRO VALE MAIS?
Ao contrário de John John Florence, um de seus maiores rivais da nova geração, Medina não possui o estereótipo de surfista: não é loirinho por natureza e nem ao menos possui os claros olhos azuis do talentoso havaiano. Muitos podem dizer que isso não faz diferença dentro de cada bateria, mas para Charles Rodrigues, padrasto e técnico do brasileiro, poderia fazer.
Além de usar sua tradicional estratégia de tirar Gabriel da zona de conforto, o que pouca gente sabe é que uma outra tática, no mínimo inusitada, foi utilizada por Charles quando o brasileiro ainda era criança.
Charles cismou que seu filho, como Medina é considerado, não chamava atenção dos juízes fora d’água. Além de não ter um sobrenome famoso de pai surfista, começou “tarde” no esporte e não se encaixava no estereótipo dos surfistas consagrados, que eram loiros. O padrasto achava que, de alguma maneira, isso poderia influenciar no julgamento dentro do mar.
Então, decidiu pintar o cabelo de Medina de loiro, que tinha apenas 12 anos, e ficou 'amarradão' com a ideia de "parecer" com Mick Fanning, seu grande ídolo. Coincidência ou não, não demorou muito tempo para o brasileiro aparecer pela primeira vez na Fluir, uma das revistas mais tradicionais do surfe do país, em uma seção que dava espaço aos jovens talentos do Brasil.
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