Sem apoio e viajando com milhas, "tiozão" vai à elite do surfe pela 1ª vez
Parecia que nem a mais perfeita das ondas conseguiria levar Willian Cardoso à divisão de elite do surfe mundial. No circuito profissional há mais de uma década, foram muitas tentativas fracassadas. Sem patrocinador em 2017 e abalado pelas frustrações, restavam duas opções: parar ou arriscar pela última vez. Ele arriscou.
Aos 31 anos, enfim, a persistência se transformou em recompensa. Em 2018, Cardoso estreará no Championship Tour (CT), que reúne os 34 melhores surfistas do circuito na disputa pelo título mundial. A classificação veio pelo ranking do Qualifying Series (QS), a divisão de acesso, que concedeu dez vagas na elite - seis delas ficaram com brasileiros. "É uma realização como surfista e como pessoa. Quebrei uma barreira depois de tantos anos", disse o catarinense, aliviado, ao UOL Esporte.
Como havia perdido patrocínio, Cardoso foi atrás de possíveis apoiadores no início deste ano, mas não conseguiu. Decidiu, então, bancar a própria temporada. Como o orçamento era apertado, ele optou por ir a etapas do QS que renderiam mais pontos no ranking - são 58 eventos, com pontuação total que varia de 1.000 a 10.000 para o vencedor. Nos cálculos do surfista, seriam necessários R$ 80 mil para competir em boa parte do circuito. "Eu tinha R$ 25 mil e 200 mil milhas acumuladas para trocar em passagens aéreas", contou.
Para não consumir todas as economias que a carreira lhe proporcionou em poucos meses, o surfista nascido em Joinville e radicado em Balneário Camboriú cortou despesas e contou com a ajuda do sogro, Jairo, dono de uma madeireira em Santa Catarina. "Seria o meu último ano na segunda divisão. Foi a pior fase financeira da minha vida, tenho mulher [Maira] e filho [Lucca, de 2 anos]. Era tudo ou nada."
A cartada decisiva de Willian Cardoso para chegar à elite teve início em fevereiro, em Newcastle, na Austrália, parando nas quartas de final. Nos quatro torneios seguintes, caiu nas rodadas iniciais. Até que, em julho, o brasileiro foi vice-campeão em Ballito, na África do Sul. Os 8.000 pontos obtidos com o resultado lhe fizeram saltar do 29º para o segundo lugar no ranking do QS. "Sem esse resultado, eu nem iria para o Havaí disputar as etapas finais", confessou.
Ao vencer sua bateria na estreia do Hawaiian Pro, em 20 de novembro, Cardoso obteve a pontuação necessária para carimbar a inédita vaga ao CT, fechando a temporada em oitavo lugar no ranking de acesso, com 19.000 pontos. Nunca é tarde para chegar ao topo, segundo ele. "Para se manter na elite, você precisa ser constante e quebrar barreiras. É um novo começo. Já ganhei e perdi de praticamente todos os que estão no circuito. Isso vai me ajudar, é o lado bom de ter demorado tanto para chegar lá. Lado negativo não tem mais, ficou para trás."
Tiozão da turma
Cardoso será o mais experiente entre os brasileiros do CT em 2018, um ano mais velho do que os trintões Adriano de Souza, campeão mundial em 2015, e Tomas Hermes, também estreante na elite - o outro novato do país é Yago Dora, de 20 anos. "Sou o tiozão da galera", admitiu. O apelido dele entre os surfistas, no entanto, é outro: Panda. "É porque sou acolhedor", explicou.
Na contramão em uma modalidade em que se chega à elite cada vez mais jovem, Cardoso usa a energia que os garotos esbanjam na água para desafiar a própria competitividade. Em troca, assume o papel agregador do Panda e ajuda os inexperientes a driblar o nervosismo e a tensão antes das baterias.
Foi no duelo com um desses garotos, Lucas Silveira, de 21 anos, que Cardoso despediu-se da "segunda divisão" do surfe, ao ser eliminado na terceira rodada do Vans World Cup, em Sunset Beach, no Havaí, encerrado nesta quarta-feira (6). De alma lavada por cumprir o tão sonhado objetivo, ele agora se juntará na torcida por Gabriel Medina no evento que definirá o campeão do CT em 2017, nas icônicas ondas de Pipeline, com inicio nesta sexta (8).
Segundo colocado no ranking, o brasileiro precisa vencer a etapa e torcer para que o havaiano John John Florence, atual campeão mundial e líder do campeonato, caia na semifinal para ficar com a taça pela segunda vez.
Apesar de ser um surfista local, Florence nunca venceu em Pipeline, enquanto Medina acumula dois vices, mas com retrospecto mais positivo do que o rival. Cardoso baseia-se no histórico para apostar no compatriota. "Está mais fácil para o John John por causa do ranking, mas acho que o Gabriel leva essa."
Para sorte de Medina, apostas arriscadas, mas certeiras, definem o 2017 de Willian Cardoso.
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