Capitã Maya: agora velejando, surfista desafia enjoos para cruzar Atlântico
No intervalo de um ano, Maya Gabeira viu sua imagem mudar quase que por inteira: deixou de ser a surfista que por pouco não perdeu a vida ao tomar um caldo de uma onda gigante e ficar desacordada boiando para se tornar a recordista mundial. Para isso, ela retornou ao mesmo pico em que sofreu o acidente para surfar a maior onda da história entre as mulheres, na Praia do Norte, em Nazaré, Portugal.
Com os 20,72 metros de paredão registrados no Guinness Book (o livro dos recordes) e indicada até mesmo para o prêmio Laureus, famoso Oscar do Esporte, Maya parecia haver cumprido um ciclo.
Aos 31 anos, estava disposta a mudar de ares. Basicamente, trocar o "Canhão da Nazaré", como é conhecida a onda que pegou, pelos ventos do Mar Mediterrâneo. Abandonar o surfe de ondas gigantes para entrar de vez na nova paixão de sua vida, a vela. Bastou, no entanto, a alta temporada de ondas começar mais uma vez em outubro, em Portugal, para ela repensar um pouco a ideia.
A "big rider" carioca viu que ainda havia uma faísca dentro de si que não estava pronta para largar a sua pacata rotina no vilarejo que fica a 1h30 da capital Lisboa.
"Quando eu comecei a velejar, a ideia seria me aposentar. Tinha cansado (do surfe de ondas gigantes), mas começou a temporada e eu me lembrei do quanto eu gosto. Eu estava um pouco confusa, havia surfado aquela onda enorme, estava desgastada pela luta para conseguir entrar no Guinness e com a busca pela alta performance, treinos, fisioterapia", afirmou Maya durante evento do Laureus, realizado no principado de Mônaco, na última segunda-feira (18).
"Quando você consegue realizar algo, você se sente um pouco cansada para continuar. Mas passaram alguns meses, a temporada começou e eu vi que não dava para aposentar agora", acrescenta.
Então, ela ajustou o calendário em sua cabeça: de outubro a março, se dedica ao surfe em Nazaré enquanto que, no restante do ano, especialmente no verão europeu, desbrava um novo horizonte com a vela em uma embarcação de 40 pés.
"Quero velejar em solitário, com meus cachorros (risos). No futuro, pretendo cruzar o Atlântico. Gosto muito de estar no mar, sou uma pessoa mais introspectiva e tenho vontade de me aprimorar bastante pelo Mediterrâneo, que, apesar de ter grandes ventanias e desafios, é um lugar em que você está mais ou menos perto da costa. Me desenvolveria ali por alguns anos sozinha e depois vejo se consigo cruzar o oceano", explica.
Maya tem feito o curso de vela do outro lado da fronteira portuguesa, em Huelva, na Espanha, com um instrutor da associação inglesa.
Ela tirou recentemente o certificado de capitã de vela e está habilitada para percorrer todo o Mar Mediterrâneo. Por enquanto, não pode apenas atravessar o oceano. Até aqui, a maior dificuldade, na verdade, tem sido outra.
"Nossa, tenho enjoado bastante, vou confessar (risos). Esse é o meu grande desafio do momento, ler todas as cartas (de navegação), estar estudando ali embaixo e consegui sobreviver aos enjoos. É uma coisa que não sinto no jet ski, às vezes passo o dia inteiro dentro da água, indo e voltando no jet ski para a costa e não tenho nada. Para mim, é ainda um grande desafio", revela, sorrindo.
"De qualquer forma, a vela é algo complementar", prossegue.
"Senti que cheguei num momento em que amo surfar, mas não quero só surfar. E não queria viajar todo o ano atrás de onda gigante. Então, comecei a achar uma forma de estar dentro da água, estar no mar e curtindo o ambiente que eu vivo, mas de outra maneira", completa.
Com residência estabelecida em Portugal, a agora capitã Maya não pensa mais em correr atrás de um novo recorde nas ondas gigantes. Planeja seguir no surfe, mas dedicando cada vez mais tempo à vela e seus desafios também.
"Olha, tenho em mente continuar surfando onda grande em Nazaré. Acho que ainda tenho muito que evoluir na performance, mesmo. Talvez não seja mais o objetivo superar o recorde, mas, sim, surfar cada vez melhor dentro desses dias enormes e velejar, que é algo que eu tenho feito bastante, estou tirando minhas carteiras, pretendo fazer isso bastante no verão", disse a atleta, evitando pensar em possíveis delírios e enjoos sozinha dentro de um barco.
"Ai, que horror. Não quero isso, não. Só tomo Dramin. Vou lá para baixo, tomo um Dramin e pronto", conclui, aos risos.
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