Ele foi comparado a Pelé e Maria Esther e sofreu com depressão após "sumir"
Aos 73 anos, Ubiraci Rodrigues da Costa ainda carrega nas mãos o objeto que o consagrou quando criança. As rugas representam o tempo; a força não é mais a mesma, mas a paixão pelo tênis de mesa segue viva. Biriba, apelido responsável por consagrá-lo popularmente ainda na adolescência, usa a modalidade como um apoio para afastar a pior derrota da carreira: a depressão iniciada com o fim precoce de uma promissora trajetória no esporte.
Biriba ganhou projeção nacional ao vencer os campeões mundiais Toshiaki Tanaka e Ichiro Ogimura em partidas de exibição em São Paulo no fim da década de 1950. A fama nasceu de maneira imediata pelos resultados expressivos. Ubiraci virou notícia, estampou capas de jornais e ganhou uma pesada comparação com Pelé e Maria Esther Bueno. Ele tinha apenas 13 anos.
A aposentadoria foi precoce, aos 21 anos, por "circunstâncias da vida" e falta de apoio, segundo o próprio. Não ganhava dinheiro com o tênis de mesa, mas sofria a pressão de conquistar o título mundial. Fora do esporte, escolheu os estudos e se formou, mas sentia falta da fama.
"O garoto-prodigio sofre mais com a fama. E a fama pesa. Não tinha consciência. Como teria este pensamento de que teria esta influência nas pessoas? Tive um abalo emocional muito grande, o que chamamos hoje de depressão", contou Biriba, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
Aos 27 anos, a depressão estourou forte. Só eu sei o que passei."
A solução surgiu quando o esporte ressurgiu na vida de Biriba. Quase uma década após se despedir, Biriba conheceu um tenente-coronel que mudou a sua forma de enfrentar os problemas. Aos 30 anos, ele começou a fazer terapia - há quase 40 anos segue em tratamento.
"Este tenente viu minhas condições e sugeriu que passasse pelo psicólogo a partir de então, só assim consegui contornar este problema. Ainda semanalmente vou para conversar com um terapeuta, é algo que precisamos, que recomendo a todo mundo. É assim há quatro décadas", relata Biriba.
Pelé, Maria Esther e fama na adolescência
Biriba admite que a fama atrapalhou. Antes dos 15 anos, era cobrado após obter resultados expressivos a nível sul-americano antes dos 15 anos de idade. "Eu era uma criança, era tudo natural. Ainda tinha meu pai [Hermínio Rodrigues da Costa], que era importante e me guiava. Era mirim e jogava contra adultos. Fiquei conhecido no Japão. Eu me lembro de ouvir o Geraldo José de Almeida, meu locutor favorito, narrar os gols do Pelé no 5 a 2 contra a Suécia. Meses depois, estava lá com ele e com a Maria Esther Bueno", relembra.
Foi A Gazeta Esportiva que promoveu o encontro dos três jovens promissores esportistas brasileiros na capital paulista. Biriba era o mais jovem, apenas 13 anos, enquanto Pelé carregava já o status de destaque em uma final de Copa do Mundo. O diálogo com o Rei do Futebol foi mínimo: a timidez atrapalhou.
"Era difícil uma criança ter alguma convivência com adultos naquela época. Pelé e Maria Esther eram quase adultos, eram tratados como adultos. Eu, por outro lado, quase uma criança. Não tinha essa liberdade de conversar com eles. Pelé era um ídolo, nem conversei direito. Mas tiramos fotos, os repórteres conduziram tudo", recorda-se o ex-mesa-tenista, que sustentou um contato amigável e mais constante com Maria Esther a partir daquele primeiro encontro, até por uma proximidade das duas modalidades.
Professor Biriba, 73
A fama terminou pouco tempo depois da aposentadoria aos 21 anos. Biriba não tinha patrocínio, mas precisava se sustentar. Formado em economia e contabilidade, com tempo para estudar e sem a pressão do dia a dia de quem sonhou em ser campeão do mundo, o tênis de mesa se tornou um hobby. Ao mesmo tempo, os feitos de adolescente ainda ressurgiam de tempos em tempos.
"Lembro de ir, uma vez, ao Japão. Era 1996, para uma homenagem de uma marca de raquetes. Cheguei lá e tinha Biriba, assim, escrito em português. Era uma raquete com meu nome. Décadas depois. Não ganhei nada, nem podia reclamar. Na minha época, mal tinha essa coisa de patrocínio, era mais a homenagem", diz.
O tênis de mesa, com a terapia, virou um sentimento de nostalgia. O fardo carregado após a aposentadoria precoce ficou no passado. Agora orgulhoso, Ubiraci carrega a raquete, vai ao Palmeiras toda quinta-feira e quer preparar "novos Biribas".
"É uma maneira de ocupar meu tempo agora como treinador. Gosto de ler livros do esporte, eles vão me atualizando. Eu gosto muito de tênis de mesa, vou acompanhando os meninos. Tudo tem sua parte. É uma maneira de ocupar o tempo, de ensinar. Manter vivo o legado", encerrou, antes de desligar o telefone para ir a mais uma consulta com o terapeuta.
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