UOL Esporte Tênis
 
09/11/2009 - 13h41

Projeto de CT de tênis em SP causa atrito entre confederação e prefeitura

Rubens Lisboa
Em São Paulo

Há quatro anos a Confederação Brasileira de Tênis (CBT) criou o projeto de construção de um centro de treinamento em São Paulo para tentar a recuperação definitiva do tênis brasileiro e buscar um nível com mais jogadores entre os melhores do mundo. Até hoje o projeto não saiu do papel e a CBT culpa a Secretaria de Esportes, Lazer e Recreação (SEME) da cidade de São Paulo por isso.

Jens Panduro/AP
Acho que naturalmente as coisas vão se estruturando e tudo o que vier de estrutura é importante. Tem de ser bem elaborado, no local adequado de treino, mas o fundamental seria a maior capacitação de professores e treinadores

Gustavo Kuerten, ex-número 1 do mundo

A construção de um centro de treinamento nos moldes dos que já são trabalhados em países como Espanha e Estados Unidos segue emperrada devido à falta de um terreno na capital paulista.

"Está faltando vontade política com o esporte em São Paulo. A gente tem muitas praças em São Paulo e nem 5% tem parte esportiva. Estou vendo comunidades fazerem abaixo-assinado para não ter praça, porque hoje vira local para o tráfico de drogas, prostitutas, e não estamos utilizando para o esporte", critica Jorge Lacerda, presidente da CBT desde 2005.

No estado de São Paulo, a CBT recebeu ofertas de terrenos nos municípios de Campinas e Atibaia, além de Jundiaí, que é o local que está mais próximo de um acerto.

O secretário de Esportes de São Paulo, Walter Feldman, alega que foi procurado apenas uma vez por Jorge Lacerda, quando a CBT queria a liberação para aproveitar o espaço do Clube de Regatas Tietê, na Zona Norte de São Paulo, que deverá ter a área tomada pela prefeitura, onde inclusive ficava a sede da Confederação.

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Não precisa construir só um, pode aproveitar vários centros e academias que têm condições de trabalho legal. A gente sabe que a construção de um centro de treinamento é cara, então podemos aproveitar os espaços que ja existem.

Jaime Oncins, ex-tenista e treinador

"O pessoal da Confederação Brasileira de Tênis nos procurou e houve um contato no Clube Tietê, que era inclusive a preferência deles. Nós estabelecemos a ponte e o Clube Tiete não era na época comandado por nós. Nunca mais voltou uma demanda por parte da Confederação para avaliar se tinha dado certo, se tinha dado resultado, nenhum tipo de manifestação", afirma Feldman.

"O único pedido da Confederação que eu me lembro foi o Tietê. Se não deu certo, eu não fui avisado. Houve contato uma vez e nunca mais fui procurado. Para nós não tem nenhum problema, se quiser retomar a conversa com São Paulo será um prazer", completa o dirigente paulistano, sem saber que a CBT deixou sua antiga sede no Tietê há cerca de um mês.

Segundo o secretário, o trabalho com tênis na cidade de São Paulo evoluiu desde o início de sua gestão e não haveria motivo para não negociar para ter um local de treinamento da CBT na capital paulista.

"Hoje temos três mil crianças no Clube Escola jogando tênis. Não há nenhum programa de tênis social no Brasil dessa dimensão. Somos patrocinadores do Champions Masters, do Challenger que aconteceu no Clube Harmonia, do seminário que aconteceu no Paineiras e estamos fazendo tudo para trazer um Open de tênis para São Paulo. É um mal entendido da CBT. Temos todo o interesse de manter a estrutura de tênis em São Paulo" afirma o secretário.

Olivier Morin/AFP
Tanto para a molecada que está vindo debaixo e também para a gente que está no profissional, acho que um centro de treinamento é essencial para tentar evoluir o tênis no Brasil. Espero que façam alguma coisa para tentar botar o tênis um pouco melhor para a Olimpíada.

Thomaz Bellucci, atual número 1 do Brasil

Apesar de aprovar os projetos sociais com o tênis, Jorge Lacerda afirma que é preciso fazer um trabalho diferenciado quando os garotos estão em nível de disputar torneios.

"O secretário fala só em Clube Escola, que é muito bonitinho, mas para o competitivo é zero. Pegar uma cidade como São Paulo e estar abandonada como está, é uma vergonha, não queremos sair, mas estamos sendo, entre aspas, expulsos. Se começa a receber propostas, não tem como segurar", afirmou Lacerda.

Em meio à discussão sobre a validade de se construir um centro neste momento, o treinador Larri Passos, mentor de Gustavo Kuerten, acredita que esta não é a coisa mais importante a ser feita pela CBT neste momento e pede que seja usado o espaço já existente.

"Não podemos de repente mudar a vida do jogador, o brasileiro é um pouco atípico. Para sair de Maceió para Santa Catarina demora 12 horas. Tem que saber jogar com essa distância, um jogador não precisa ficar trancado em um centro de treinamento para melhorar o tênis dele", avalia Larri.

A opinião de Passos é compartilhada pelo tenista gaúcho Franco Ferreiro, que disputou a Copa Davis pela equipe brasileira e já teve uma passagem por um centro de treinamento coordenado pelo treinador Ricardo Acioly, no RIo de Janeiro. "Acho legal, acho bom, mas não é tão simples. O Brasil é muito grande, tem um que mora em Porto Alegre, um que mora em São Paulo, um que mora no Rio, outro em Aracaju, então é difícil juntar todo mundo", disse Ferreiro.

Com tantos desencontros, o centro de treinamento planejado deverá ser, na verdade, a sede da Confederação, com algumas quadras de tênis públicas para ser utilizada até os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro-2016, quando haverá um centro de treinamento herdado da Olimpíada.

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