UOL Esporte Tênis
 
08/01/2010 - 07h00

Becker esquece polêmica com Agassi e mostra surpresa com vício do rival

Lello Lopes
Em Nassau (Bahamas)*
  • Boris Becker, ex-número um do mundo no tênis, agora é jogador e embaixador de pôquer

    Boris Becker, ex-número um do mundo no tênis, agora é jogador e embaixador de pôquer

Aos 42 anos, Boris Becker ainda exibe a classe que o marcou na carreira de tenista. Aposentado das quadras, o alemão ex-número um do mundo e vencedor de seis torneios do Grand Slam não deixou de lado o cabelo louro espetado e o jeito firme de falar.

Agora como embaixador de torneios de pôquer, Becker conversou, com exclusividade, com a reportagem do UOL Esporte, no Atlantis Resorts, um hotel-cassino de luxo em Nassau, capital das Bahamas. O alemão está na cidade para promover e participar do PokerStars Caribbean Adventure, maior campeonato de pôquer realizado fora dos Estados Unidos.

Becker chegou à entrevista apoiado em uma bengala, produto da recuperação de uma operação no quadril direito realizada em outubro. Com uma lata de Coca-Cola na mão, o ex-tenista mostrou simpatia e falou abertamente sobre assuntos espinhosos, como a polêmica autobiografia de Andre Agassi (que admitiu uso de doping e o chamou de “maldito alemão”) e o mau momento do tênis em seu país. Além, é claro, da sua atuação como promotor de pôquer. Confira os principais trechos da entrevista.

No ano passado Andre Agassi escreveu um livro e, entre outras coisas, disse que não queria ver de novo “esse maldito alemão”, se referindo a você. O que pensa sobre as coisas que ele escreveu?
Em primeiro lugar, eu gosto dele. Ele é uma grande pessoa e escreveu uma autobiografia muito honesta, muito concentrada nele, nos seus momentos ruins. Isso é muito mais importante do que o que ele falou sobre mim ou sobre outras pessoas. Acho que quando você está em um jogo qualquer coisa pode acontecer. Mas normalmente os esportistas deixam isso na quadra. Você aperta as mãos do adversário e o jogo acaba. Mas claramente ele pensa de maneira diferente. Acho que poucos esportistas concordam com ele. Muitos jogadores têm um monte de histórias para contar. Mas o mais importante é que ele falou sobre o seu passado, o seu vício em drogas, o doping. Eu não sabia que ele era viciado em drogas e isso, na verdade, me deixou muito triste. 

Ele (Agassi) é uma grande pessoa e escreveu uma autobiografia muito honesta, muito concentrada nele, nos seus momentos ruins. Isso é muito mais importante do que o que ele falou sobre mim ou sobre outras pessoas.

Boris Becker, chamado de "maldito alemão" por Agassi na autobiografia do americano

Você se sente prejudicado pelo fato do Agassi ter jogado dopado uma parte de sua carreira?
Essa pergunta tem que ser feita para os oponentes que ele venceu na época. Isso não me afetou porque eu ganhei dele, perdi para ele. E eu perdi para ele não por causa do doping, mas por causa de seu grande backhand.

Qual o motivo dele ter feito essas revelações?
Eu não sei. Todos temos segredos. E não queremos dividir esses segredos com as pessoas. Não sei porque ele precisou dividir isso com o mundo.

Você pensa em escrever algo do tipo?
Eu escrevi um livro sobre a minha vida cinco anos atrás. Mas não tinha doping ou drogas. Eu cometi erros, mas não foram tão ruins. (risos)

Nos últimos anos é difícil ver os tenistas alemães entre os top 10. Você sabe porquê?
Porque eu não jogo mais (risos). Falando sério, esse é um problema para a Alemanha porque o tênis é um jogo muito popular. As pessoas amam o tênis, mas você precisa ser associado, e nem todo mundo pode. Nós temos alguns bons jogadores, mas nenhum deles no top ten.

Existe uma grande discussão sobre quem é o maior de todos os tempos: você, Rod Laver, Jimmy Connors, Roger Federer, Pete Sampras... Quem foi o melhor?
O jogador que mais ganhou foi o Federer. Ele ganhou 15 Grands Slams. Agora falar quem é o melhor é difícil, porque os anos 60 foram diferentes dos anos 70, que foram diferentes dos anos 80 e assim por diante. Cada geração apresenta uma competição diferente. Então você não pode dizer que um cara foi o melhor, e sim dizer que um ganhou mais. E esse cara é o Federer.

BECKER X AGASSI

Boris Becker e Andre Agassi foram grandes rivais nos anos 90. Os dois se enfrentaram 14 vezes, com dez vitórias do norte-americano e quatro do alemão. Em uma dessa partida, na semifinal do Torneio de Wimbledon de 1995, Agassi se irritou com Becker porque o alemão mandou beijos para a então mulher do norte-americano, a atriz Broke Shields.

Na autobiografia lançada em novembro, Agassi lembrou o fato e afirmou que perdeu de propósito a semifinal do Aberto da Austrália de 1996 para o compatriota Michael Chang justamente para não enfrentar Becker na decisão.

"Acho que quando você está em um jogo qualquer coisa pode acontecer. Mas normalmente os esportistas deixam isso na quadra. Você aperta as mãos do adversário e o jogo acaba. Mas claramente ele pensa de maneira diferente", rebateu Becker.

No livro, Agassi também confessou que disputou algumas partidas dopado e que era consumidor de maconha.

No ano passado, o alemão Benjamin Becker disputou o Aberto de São Paulo usando a sua grife. O que representa para você outros tenistas usarem a sua marca?
Ele também jogou com a minha raquete. Eu me sinto orgulhoso por poder fazer isso. Estou tentando fazer roupas boas e funcionais. Ainda não é nada grande, mas está tudo bem.

E quando o pôquer surgiu na sua vida?
Há muito tempo, quando eu ainda jogava tênis. Na época eu jogava pôquer com os meus amigos tenistas. Jogávamos todo tipo de jogo, inclusive o pôquer. Foi assim que comecei.

Então existe amizade no pôquer?
Acho que o pôquer é um jogo muito social, porque você fica na mesa durante o dia todo conversando com os seus adversários. Acho que de certa maneira é um jogo mais franco que o tênis porque você passa muitas horas ao lado de seus competidores.

O que é mais fácil, jogar pôquer ou jogar tênis?
Para mim o tênis é mais fácil, obviamente. Mas tem gente que acha que é ao contrário. Para mim o tênis é mais fácil porque eu jogo melhor tênis do que pôquer. Mas tem muita gente que joga melhor pôquer do que tênis.

Como é a sua preparação para o pôquer?
Eu leio um monte de livros, converso com as pessoas do meio e estou sempre aprendendo. Também vejo bastante os torneios que passam na televisão.

Você é um jogador agressivo?
Depende das cartas. Não posso dizer sim ou não. Isso depende.

Mas você tem uma “poker face” (expressão neutra feita pelos jogadores de pôquer para evitar que os adversários descubram que jogo eles têm na mão)?
Acho que tenho uma “poker face”. Acho que as pessoas não conseguem me ler. Acho que é importante não só no pôquer, mas também na vida que as pessoas não leiam você.

E no tênis, você tinha uma “poker face”?
Acredito que sim.

Qual é o seu maior desafio como promotor de pôquer?
Agora é mais fácil, mas no começo foi bem desafiador para mim porque eu falava sobre um jogo que nunca tinha jogado profissionalmente. Jogar pôquer era um hobby, eu nunca tinha jogado contra os grande jogadores. Às vezes parecia um bobo em falar sobre pôquer. Meu maior desafio era ficar mais tempo nos torneios, porque assim teria mais credibilidade como promotor do PokerStars.

* O jornalista Lello Lopes viaja a Nassau a convite do PokerStars

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