UOL Esporte Tênis
 
12/04/2010 - 07h00

Nadal volta ao piso favorito com jejum de 11 meses e mistério sobre lesões

Rubens Lisboa
Em São Paulo

O espanhol Rafael Nadal inicia no Masters 1000 de Monte Carlo a sua etapa preferida do circuito mundial, a chamada temporada de saibro, na qual conquistou 19 de seus 36 títulos na carreira. A chance de fazer história com o hexacampeonato em Mônaco, o que jamais ocorreu na Era Aberta, é outro fator que pesa para Nadal, mas as seguidas lesões têm impedido que o espanhol jogue no mesmo nível de quando obteve os outros títulos.

A última vez em que Nadal conquistou um título no circuito mundial foi no Masters 1000 de Roma, no dia 3 de maio de 2008. Desde então, foram três finais e nenhum título para o tenista espanhol, com os problemas em seus dois joelhos lhe deixando fora de Wimbledon e fazendo com que ele perdesse a primeira posição no ranking mundial. A estreia de Nadal será contra o vencedor da partida entre o argentino Eduardo Schwank e o holandês Thiemo De Bakker, que ocorre na terça-feira.

No saibro europeu, Rafael Nadal tem 3.280 pontos a defender, o que pode levar o tenista a perder colocações e aumentar a preocupação com sua condição física em caso de fracasso. Nadal tem até conseguido ir longe nos torneios que disputa, mas tem mostrado que os joelhos lhe incomodam. Assim foi na semifinal do Masters 1000 de Miami, quando perdeu para Andy Roddick e mostrou irritação com a limitação física durante o confronto com o norte-americano.

O tenista brasileiro Bruno Soares, que joga a chave de duplas em Monte Carlo ao lado de Mark Knowles, de Bahamas, já enfrentou Rafael Nadal em uma partida de duplas pelo Masters de Miami de 2009 e confirma que o espanhol tem sofrido nas partidas devido à recuperação de suas tendinites nos joelhos.

“O Nadal esconde muito qual é o problema, ele guarda. É difícil saber exatamente o que tem e qual é a gravidade, mas ele reclama muito. Na semifinal (de Miami) foi nítido que ele baixou, sentiu alguma coisa e não aguentou”, afirma o duplista brasileiro.

LESÕES DE RAFAEL NADAL NA CARREIRA

2004 Nadal sofre uma fratura por estresse no pé esquerdo e fica três meses afastado
2005 e 2006 Sofre com inflamação no mesmo pé esquerdo e fica fora das quadras três meses e um mês, respectivamente
2007 Lesão no braço esquerdo impede Nadal de terminar o jogo com Juan Monaco, na primeira rodada do Masters de Cincinnati
2008 Com tendinite em seu joelho direito, Nadal anuncia a desistência de jogar a final da Copa Davis e a Masters Cup
2009 Duas tendinites no tendão quadricipital de cada um dos joelhos retiraram a hipótese de Nadal jogar Wimbledon
2010 Durante a partida pelas quartas de final do Aberto da Austrália contra Andy Murray, sofre uma ruptura fibrilar no tendão do joelho direito e passa por cirurgia ficando um mês afastado do tênis

Bruno Soares afirma que entre os outros tenistas a condição física de do espanhol gera preocupação, principalmente pelo fato de ele e sua equipe, encabeçada pelo tio e treinador Toni Nadal e pelo preparador físico Rafael Maymo, não revelarem qual é a sua verdadeira lesão.

“Esse tipo de coisa mexe com a turma, mas o pessoal fica naquela expectativa, todos gostam de vê-lo jogar. Ele deu uma emagrecida, perdeu muita massa. Fica aquela conversa de como é que ele está e se vai conseguir manter o nível. Ninguém sabe realmente qual a gravidade”, explica Soares, que esteve perto de abandonar a carreira em 2006 devido a uma lesão no joelho, mas se recuperou após uma cirurgia.

Com vinte anos de experiência em tratamento de lesões em joelhos de esportistas, o ortopedista Ari Zecker acredita que se não parar de jogar por pelo menos dois meses para se recuperar fisicamente, Nadal pode não voltar mais a atuar no nível de quando chegou ao posto de número 1 do mundo.

“No caso do Nadal, ele tem uma sobrecarga do tendão patelar do joelho e deveria ficar ao redor de dois meses parado e ainda assim poderia não curar. Como ele tem de jogar e treinar, acaba forçando demais o local e promovendo uma lesão crônica que é mais difícil de curar e afeta diretamente a sua performance. O mesmo aconteceu com o jogador de futebol Ronaldo, que acabou rompendo o tendão e teve que se submeter a cirurgia. Sua performance já está afetada e seu retorno com o desempenho anterior dependerá de vários fatores como cicatrização da lesão, quantidade de treinos e tempo de retorno”, explica o ortopedista.

CASO É SEMELHANTE AO DO ATACANTE RONALDO

Nadal tem uma sobrecarga do tendão patelar do joelho e deveria ficar ao redor de dois meses parado e ainda assim poderia não curar. Como ele tem de jogar e treinar, acaba forçando demais o local e promovendo uma lesão crônica que é mais difícil de curar e afeta diretamente sua performance. O mesmo aconteceu com o jogador Ronaldo, que acabou rompendo o tendão e teve que se submeter a cirurgia.

Ari Zecker, ortopedista especialista no tratamento de lesões em joelhos

Fisioterapeuta da Confederação Brasileira de Tênis, Ricardo Takahashi acredita ser impossível de se fazer um prognóstico sobre o futuro de Rafael Nadal sem que seja revelado qual é o seu real problema, já que o espanhol passou por cirurgia nos joelhos nos últimos dois anos, fez uma nova intervenção neste ano e segue mostrando incômodo.

“A gente não sabe o que esta acontecendo com ele, os caras omitem muita informação. Falam que é uma coisa e pode ser outra. Com certeza, se for o que falam de tendinite patelar crônica, é consequência do trabalho do passado, que ele fez para ganhar força para ter o alto rendimento que teve. Ele sabia dos riscos e agora está sofrendo, tanto que perdeu peso, esta mais leve, mudou estilo de jogo e golpes, fez adaptações para voltar em alto nível”, afirma o fisioterapeuta, que é contrário à tese de que o fato de jogar no saibro pode ajudar a jogar sem se desgastar como ocorreu no piso de cimento.

“É uma questão que o pessoal discute e no nível dele não tem muito. O calendário termina em quadra rápida e os jogadores em fim de temporada aparecem machucados, aí o pessoal associa. A gente não pode afirmar que um tipo ou outro pode causar lesão. Acho que ele tem chance de vencer por ser o seu piso preferido. O problema do saibro, o próprio Guga falava que é um estilo de força e não de velocidade, tem muitas trocas e leva uma sobrecarga maior”, completa Takahashi.

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