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Divulgação/CBT

A carioca Ana Clara Duarte, de 21 anos, apareceu nesta segunda como nova número 1

23/09/2010 - 07h00

Brasileira vira número 1 do país em turnê solitária do outro lado do mundo

Maurício Dehò
Em São Paulo

O tênis feminino brasileiro vive um momento de baixa que deixa envergonhado o país de Maria Esther Bueno. Já são duas décadas sem uma tenista no top 100 da modalidade, um sonho distante de qualquer garota que empunha as raquetes. No entanto, um ar novo na posição de melhor tenista do país traz esperanças, com Ana Clara Duarte. Ela é a nova número 1 do Brasil, posição alcançada durante um período complicado, mas lucrativo para a jovem.

'QUERIA ABRAÇAR ALGUÉM E NÃO PODIA'

  • CBT/Divulgação

    Como foi conquistar este título sozinha, do outro lado do mundo?
    Ana Clara: É diferente estar sozinha, eu queria é ligar para o Brasil e compartilhar, porque lá não podia dar um abraço em ninguém. Mas superei o que eu esperava da viagem, foi uma ótima semana.

    Quais as maiores dificuldades aí?
    Vim sozinha, sem técnico, sem nada. Superei muita coisa. Agora está mais legal, conheci as meninas, mas não é a mesma coisa. Não tem nenhum sul-americano. O técnico faz falta, porque ele vê coisas que não percebemos na quadra.

    O que significa para você ser a nº 1 do país?
    Acho que é uma consequência do risco que tomei nesta viagem. Nunca foi o objetivo principal, estou honrada e quero representar o melhor que posso o Brasil. Mas não fico focada nesta parte de ranking, porque o mais importante é trabalhar duro. Isso não é algo de duas semanas. Agora, quem sabe não podemos ter uma top 100 depois de tantos anos.

A tenista de 21 anos tem enfrentado uma longa viagem soliTária para conquistar seus objetivos - o maior é chegar ao Aberto da Austrália - e, surpreendentemente, logo na primeira semana viu seus objetivos começarem a se tornar realidade.

Ana Clara foi campeã do challenger de Cairns, o primeiro título desta grandeza em sua carreira, que refletiu rapidamente em seu ranking: ela passou a experiente Nanda Alves, 27, e chegou ao melhor ranking da carreira, na 294ª posição. O salto foi de 56 posições, deixando para trás a compatriota, 341ª do mundo - Nanda já foi 132ª, em 2005.

O voo solo de Ana Clara é mais um capítulo das condições precárias do tênis feminino, que tem exemplos como o de Vivian Segnini, que vendia rifas para viajar. Desta vez, a jovem carioca teve apoio dos Correios, por meio da Confederação Brasileira de Tênis (CBT) para comprar suas passagens rumo à Austrália. Mas sem as condições ideais, já que não conseguiu levar o técnico Felipe Reis.

“Vim para cá sozinha. Sem técnico, sem nada. Superei muita coisa, mas estou tirando proveito do que posso”, disse Ana Clara, ao UOL Esporte, durante a disputa de sua terceira semana de torneios de US$ 25 mil. Ela foi à Austrália para cinco competições em seis semanas, já tendo uma taça e uma eliminação nas oitavas de final. Conquistar o título logo nos primeiros dias foi uma surpresa.

OPINIÃO: PATRÍCIA MEDRADO

“A Ana Clara tem de ser parabenizada. É importante ter novos nomes, porque vemos uma sucessão de quedas. Isso não é culpa das tenistas, mas do tênis feminino, que está órfão, como vemos numa menina em um continente distante, indo sozinha. Ajudas como a dada a ela são limitadas, sem das reais condições.”
*Patrícia Medrado foi top 100, chegando ao 48º posto em simples e 9º em duplas, em 1982

“Superou tudo o que eu esperava, eu nunca tinha ido nem à final de um challenger. Foi uma semana incrível”, acrescentou. “Ou eu ficaria no Brasil jogando futures, o que não ajudaria no ranking, ou arriscava e vinha sozinha para conseguir bons pontos. Foi uma decisão baseada nisso, um risco, até porque é muito caro para vir alguém junto, e estou sem patrocínio.”

Apesar de estar “honrada”, Ana Clara sabe que o importante não são os números do ranking, mas as condições para continuar evoluindo em busca da disputa de seu primeiro Grand Slam. A espera no tênis feminino é por investimentos que cheguem pela aproximação dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.

“Ainda tenho esta semana e mais dois torneios, então o objetivo agora é conseguir fazer o máximo de pontos que conseguir. Tenho que estar entre as 220 melhores para disputar o qualificatório do Aberto da Austrália. Volto em novembro e disputo mais dois challengers, e depois é ficar na torcida”, disse ela.

BRASILEIRAS NO RANKING

TENISTA (IDADE)
294 Ana Clara Duarte (21)
341 Nanda Alves (27)
369 Roxane Vaisemberg (21)
396 F. Hermenegildo (21)
423 Vivian Segnini (21)

A longo prazo, o desafio é ainda maior. “Quem sabe podemos ter uma top 100 depois de tantos anos. E quero representar o Brasil no Pan e nas Olimpíadas”, afirmou. O Brasil está sem representantes entre as 100 melhores do ranking desde Dadá Vieira, que chegou à 76ª posição em 1989. A disparidade com o tênis masculino é enorme. São seis meninas entre as 500 melhores do mundo, contra 19 homens, sendo dois do top 100.

Do Rio aos EUA, e agora em SC

Ana Clara Duarte é íntima da raquete. Os pais foram professores de tênis e, acostumada a entrar em quadra, ela iniciou seus treinos com apenas cinco anos de idade. Sem pressão da família, ela mesma tomou o rumo do esporte e passou a jogar torneios juvenis, com bons resultados.

Em 2008, a carioca teve a oportunidade de passar um ano e meio nos Estados Unidos, treinando por lá e morando sozinha. “Cresci como pessoa e meu tênis também evoluiu. Se ficasse no Brasil não contaria com as oportunidades que tive”, conta ela, que voltou ao país há um ano, para morar em Florianópolis e se aproximar do trabalho do técnico Felipe Reis.
 

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