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Herdeiros de Guga, brasileiros do top 100 relembram auge do ex-número 1

Gustavo Kuerten ajudou brasileiros a serem mais respeitados no circuito mundial - Bruno Domingos/Reuters
Gustavo Kuerten ajudou brasileiros a serem mais respeitados no circuito mundial Imagem: Bruno Domingos/Reuters

Rubens Lisboa

Em São Paulo

09/12/2010 07h00

Em dezembro de 2000, o mesmo ranking que apontava Gustavo Kuerten como número um do mundo tinha apenas mais um no top 100 de simples, Fernando Meligeni, atualmente blogueiro do UOL Esporte, que ocupava a 100ª colocação. Nas duplas, Jaime Oncins era o único top 100 com a 33ª posição. Atualmente o tênis brasileiro não tem um tenista da expressão de Guga, mas aponta um número maior de jogadores entre os melhores em simples e nas duplas.

O DESAFIO DE "APOSENTAR" O ÍDOLO

  • Washington Fidelis/Folhapress

    O tenista gaúcho Franco Ferreiro, que atualmente é o 74º do mundo no ranking de duplas e já parou de jogar partidas de simples teve em 2008 a responsabilidade de enfrentar Guga em sua última partida como profissional no Brasil, durante o challenger de Florianópolis, cidade-natal de Guga.

    “É uma sensação que eu não tinha sentido. Cresci jogando e vendo o cara ali como espelho de todo mundo, ídolo. Jogar contra ele ao mesmo tempo de ser uma coisa legal, era o meu trabalho. Ele esta lá do outro lado e quero ganhar como ele quer ganhar. Ali tinha que deixar de lado uma parte de quem ele é e o que significa realmente para a gente e ver a parte profissional. Eu consegui diferenciar bem essas partes e foi um jogo super legal, ele conseguiu jogar bem, eu joguei bem, estava uma pressão muito grande em cima”, lembra Ferreiro.

Thomaz Bellucci, de 22 anos, ainda era uma criança na época em que Guga era considerado o melhor tenista do mundo, mas atualmente puxa a fila do tênis brasileiro com a 31ª colocação no ranking, tendo chegado ao posto de 21º durante o ano de 2010. Bellucci acredita que será muito difícil ver outro tenista do nível daquele que foi seu ídolo um dia.

“Eu tinha entre 12 e 13 anos. Foi um título invejável e grande incentivo para o tênis brasileiro na época e vai ser sempre lembrado. O Guga é um cara que eu gostava muito de ver jogar, um ídolo não só meu como de todos os brasileiros. Foi o melhor do Brasil disparado e vai ser difícil alguém bater ele. Ele tem um carisma enorme e incentivou a muitos”, afirma Bellucci sobre Gustavo Kuerten.

O tenista que terá a oportunidade de trabalhar com o treinador gaúcho Larri Passos, o mesmo que estava ao lado de Guga na ocasião do título da Masters Cup, na chegada ao número um do mundo, assim como nas três conquistas de Roland Garros, não vê problemas em assumir a pressão e a expectativa do público para que tenha os mesmos resultados de Kuerten.

“Isso sempre vai ter, esse tipo de cobrança do brasileiro de ter um outro que substitua todos os títulos e eu como primeiro do Brasil levo um pouco mais de peso sobre isso, de cobrança. Acho isso tranquilo”, afirma Bellucci.

Mas outros dois tenistas brasileiros foram influenciados por Guga durante a fase de transição entre o juvenil e o profissional. Os experientes Ricardo Mello, de 29 anos, e Marcos Daniel, de 32, puderam acompanhar mais de perto o auge de Kuerten e atualmente estão no top 100, fechando a lista com três tenistas brasileiros de simples.

Atualmente dono da 76ª posição no ranking e 309º há exatos dez anos, Ricardo Mello lembra que os tenistas brasileiros passaram a ser mais respeitados após o feito de Guga na Masters Cup de Lisboa, em Portugal.

GUGA AINDA SERIA TOP 10?

Leo La Valle/EFE
Foi uma pena que ele se machucou, porque para mim o Guga seria top 10 até hoje. Nos golpes dele, 80% é top 10, não tenho dúvida. Espero que ele possa se envolver também no tênis de competição, ele tem muito conhecimento que pode passar para a galera

Marcos Daniel, atual 96º do mundo

“Estava no começo da minha carreira e foi muito legal ver um brasileiro sendo numero um, deu visibilidade para o tênis aqui no Brasil. Passaram a olhar os brasileiros de outra maneira no circuito. Foi uma pena não ter convivido muito tempo porque pelos problemas de lesão ele teve que terminar muito cedo a carreira, foi na época em que eu estava jogando os torneios maiores e poderia ter convivido mais”, afirma Mello.

Já o gaúcho Marcos Daniel, conheceu Guga ainda nas categorias de base e acabou se tornando amigo do catarinense, além de considerar Kuerten como um ídolo devido à sua força mental, que para Daniel superava a técnica do ex-número um do mundo.

“Conheço o Guga desde novo, desde os 13 anos mais ou menos. Eu treinava em Passo Fundo e o Larri passava o treinamento. A gente se conheceu em um final de ano, e acabei ficando amigo dele. Fomos juntos para o Orange Bowl, o Guga jogava na categoria 16 e eu na de 14 anos. O Guga para mim desde novo era uma coisa natural. Ele virou ídolo, mas para mim era normal. Divertido, não era um cara que era mala, se dava bem com todo mundo, se tornou um ídolo porque depois que chegou onde chegou, continuou com a mesma atitude de antes”, afirma Daniel.

Marcos Daniel diz que sentia orgulho ao ver os treinamentos de Guga quando trabalhava junto a ele em Balneário Camboriú, na academia de Larri Passos e acredita que caso a lesão no quadril não tivesse encerrado a carreira de Gustavo Kuerten, o tenista ainda estaria no top 10 do ranking mundial da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP).

“Foi uma pena que ele se machucou, porque para mim o Guga seria top 10 até hoje. Nos golpes dele, 80% é top 10, não tenho dúvida. Espero que ele possa se envolver também no tênis de competição, ele tem muito conhecimento que pode passar para a galera”, completa Daniel.