De refugiado a revelação do tênis, Raonic tenta seguir os passos de Sampras

Entre tantos imigrantes da antiga Iugoslávia na década de 90 - devido aos conflitos separatistas que tanto castigaram a região no Leste Europeu -, um deles tinha três anos quando foi para o Canadá. Ainda criança começou a despertar interesse pela prática do hóquei no gelo, mas foi no tênis que o jovem Milos Raonic encontrou aos 8 anos o caminho de sua carreira esportiva. E com sucesso. Desde que entrou no ranking da ATP (em 2007), o agora canadense sobe - em média - 300 posições por ano.

O garoto nascido na cidade de Pogdorica, em Montenegro, não demorou a mostrar seu talento com a raquete em mãos. A federação canadense, então, passou a ter o novato como seu representante. Aos 15 anos, Raonic teve sua carreira administrada pela agência francesa Lagardère, que conseguiu um rápido resultado em sua aposta no jogador de 1,96 m.

Fã incondicional do norte-americano Pete Sampras, ex-número um do mundo e considerado por muitos como um dos melhores de todos os tempos, Milos Raonic passou a gravar os vídeos das partidas do ídolo que eram televisionadas e não tardou a aprender o que Sampras tinha como suas melhores qualidades: o saque potente e o voleio, com a diferença de bater a esquerda com as duas mãos.

Em quadra, a estratégia de seguir os passos do ídolo deu certo. Raonic era o 1.518º colocado do mundo em março de 2007. No início deste ano, a parceria com o espanhol Galo Blanco, ex-tenista que foi 40º do mundo e teve como auge as quartas de final de Roland Garros em 1997, deu um salto na carreira do jovem de 20 anos.

Com o espanhol, Raonic iniciou a temporada com uma eliminação no qualificatório de Chennai, na Índia, mas o melhor viria a seguir. Longe dos holofotes no quali do Aberto da Austrália, o canadense garantiu a entrada na chave principal e desferiu o total de 91 aces para eliminar o alemão Bjorn Phau, o francês Michael Llodra e o russo Mikhail Youzhny, então décimo colocado no ranking mundial masculino.

E quando o mundo do tênis abria os olhos para Raonic, coube ao espanhol David Ferrer eliminar o garoto, mas não sem perder um set e levar um sufoco do rival. Após a queda na segunda rodada de Johanesburgo, novos triunfos contra tenistas de destaque fizeram do canadense a sensação do Torneio de San José e com saques que destruíram o espanhol Fernando Verdasco, Milos Raonic levantou o troféu do primeiro título ATP.

Durante o torneio em San Jose, Raonic recebeu algumas dicas de como melhorar seu jogo, principalmente o aproveitamento de seu segundo saque e os conselhos foram justamente do ídolo, Pete Sampras, que comoveu o garoto com o encontro.

“Eu tive um encontro com Pete Sampras. Foi realmente incrível. Ele me deu bons conselhos. Para mim foi uma experiência inacreditável, especialmente quando você está chegando ao ponto de encontrar seus ídolos. Isso significa muito”, postou Raonic em seu blog, antes de seguir à risca as ‘ordens’ do mestre e levar o troféu para casa.

Para quem ainda questionava a qualidade do garoto, a semana seguinte teve mais uma final, desta vez em um ATP 500, em Memphis, e lá se foram Fernando Verdasco, Radek Stepanek e Mardy Fish para que Raonic enfrentasse o norte-americano Andy Roddick na decisão, em que alguns erros impediram o segundo título seguido após dois tie-breaks e 2h37min de partida em que desferiu o total de 31 aces contra o ex-número 1.

O desempenho rendeu a Raonic a entrada no top 50 como 37º colocado e o convite para disputar a chave principal de Indian Wells, a partir desta quinta-feira no primeiro Masters 1000 da temporada, o mesmo em que Sampras foi campeão por duas vezes na carreira em 1994 e 1995. Como objetivos traçados, o canadense tem a consistência no top 50 e a chegada ao top 10, o que não deverá levar muito tempo para ocorrer de acordo com o roteiro que tem seguido a sua carreira.

Confiante no estrago que seu tenista pode causar no circuito já no Masters 1000 de Indian Wells, em que no ano passado o croata Ivan Ljubicic surpreendeu e ficou com o título, o técnico Galo Blanco pede para que o jovem tenista mantenha a cautela, mas admite não ver limites para o pupilo.

“Eu acho que el epode ganhar um grande título, talvez como um Masters 1000 ou um Grand Slam. De qualquer forma, eu não gosto de escalar metas. Acho que temos de manter os pés no chão e lembrar que há dois meses ele era número 150 do mundo. Quando eu comecei a trabalhar junto, ele era o 230º no ranking. O tempo nos mostra que com trabalho duro, tudo é possível”, avisa o treinador Galo Blanco, de 34 anos.

Raonic já é o melhor tenista da história do Canadá com posição no ranking e o sobrinho de Branimir Gvozdenovic, ex-vice-primeiro-ministro em Montenegro, descarta voltar à terra-natal para jogar. Afinal, ele cresceu como canadense, vive com os pais em Thornhill, e aprendeu a gostar de sua nova nação, onde pode acompanhar quando não está no circuito às partidas de basquete do seu time favorito, o Toronto Raptors, equipe canadense da NBA pela qual atua o jogador brasileiro Leandrinho Barbosa.