Gritos de musas causam polêmica em Wimbledon; entenda como eles ocorrem
Ao espectador não acostumado às partidas de tênis, o barulho feito pelos tenistas no momento de seus golpes em quadra pode assustar ou irritar. E é exatamente a irritação que tem preocupado os organizadores de Wimbledon em uma edição na qual a russa Maria Sharapova, que nesta quinta-feira se classificou para a final, e a bielorrussa Victoria Azarenka, que parou na semi, se destacam não só pelas boas campanhas, mas também pelos gritos.
.A questão é polêmica e já foi discutida anteriormente devido aos decibéis emitidos por jogadoras como Monica Seles e Michelle Larcher de Brito, mas voltou neste ano em Wimbledon, em que a chuva fez com que algumas partidas fossem jogadas sob teto retrátil na quadra central e assim o barulho ficou ainda mais forte.
Para reduzir o incômodo aos espectadores e até mesmo aos outros tenistas, Wimbledon estuda a proibição dos gritos e a punição aos jogadores. O diretor do torneio, Ian Ritchie, admitiu em entrevista ao jornal Telegraph que o tema foi colocado em debate e afirma que o maior problema é o fato de o barulho vir da formação dos jogadores.
FISIOLOGISTA EXPLICA GRITOS DO TÊNIS
“Os jogadores têm a liberdade para se queixar disso, se um jogador está gritando muito e o outro não gosta e isso lhe distrai, eles têm de comunicar ao árbitro de cadeira. Temos discutido no circuito e acreditamos que isso ajuda a reduzir a quantidade dos grunhidos, afirma Ian Ritchie.
Entre os jogadores a questão é controversa. Um dos alvos de críticas pelo barulho, Victoria Azarenka se defende, alega que grita desde os 10 anos e não pretende reduzir os decibéis em quadra por acreditar que isso faz parte de seu jogo.
A ex-tenista brasileira Vanessa Menga admite que há o incômodo das tenistas com o barulho, que muitas vezes são feitos de forma mais provocativa, mas é contrária a qualquer medida que possa proibir os gritos em quadra, mesmo que tenha se irritado em algumas ocasiões por isso.
“Eu já me irritei várias vezes, e se não se concentrar perde o ponto. Não acho [que deva ocorrer a proibição]. Tem que deixar cada um livre para jogar da forma que gostam” afirma Menga, que admite também ter usado do artifício. “Quanto mais cansada, mais barulho eu fazia (risos)”.
Atual número 316ª do ranking feminino, a brasileira Vivian Segnini também é contrária a possíveis medidas ‘anti-gritos’ e admite ser uma das tenistas barulhentas em quadra.
“Eu grito para caramba para jogar, porque é uma coisa natural, não consigo controlar. E sinto que me ajuda, porque me dá mais potência para jogar. É uma coisa que aconteceu, não foi que eu pensei. O Guga também gritava para caramba, é que a mulherada grita um pouco mais. Mas o Guga é um exemplo que no masculino também acontece isso”
GRITOS SÃO FISIOLÓGICOS E MENTAIS
Tem duas linhas. Uma é a parte fisiológica e a outra é a parte mental. Dessa forma conseguem manter a performance muscular, precisa ter a troca de oxigênio dentro dos músculos. Fisiologicamente é uma coisa bem simples. Você grita porque precisa pôr para fora o ar que fez uso e colocando para fora você vai forçar os seus pulmões a receber um ar novo. Assim vai fazer a troca de gases, que causa o barulho. Já na parte mental, muita gente solta esse grito junto com o ar para manter o ritmo na troca de bola. Tem uma questão que poucas pessoas falam que é sobre o timing. Tem pessoas que quando batem na bola soltam um som, ou um pouco antes o que não vai atrapalhar outra pessoa. Quando solta esse som depois que bateu na bola, pode atrapalhar sim a pessoa que está do outro lado da quadra. |
- Ludgero Braga, professor de biomecânica na Universidade de São Paulo (USP) e treinador de tênis
Já para o treinador e ex-tenista Ricardo Acioly, técnico do brasileiro João Souza, a medida de punir os excessos em quadra é boa para o esporte. Ele lembra que já se irritou com uma das pioneiras dos gritos, a sérvia Monica Seles, na época em que ela ainda iniciava a carreira.
“Para quem joga, definitivamente atrapalha. No masculino tem muito pouco mesmo, é mais no feminino. O grito não é igual. Quando está defendendo é de um jeito, quando ataca é de outro. Para mim faz sentido, porque está ficando fora de controle. Quando eu era jogador, estava treinando em Roland Garros e a Monica Seles, ainda uma menina, estava gritando na quadra ao lado. Aí pedi para o treinador dela para fazer ela parar de gritar”, afirma Acioly.
“Uma coisa é você soltar a respiração quando impacta a bola, outra coisa é gritar. Existe uma soltura normal da respiração e até fazer um gemido muito mais contido do que as mulheres fazem. Elas dão grito. Jogador cresce com isso aí e faz isso parte da rotina. Se proibirem ou controlarem de alguma maneira, o jogador vai ter que se adaptar”, completa o treinador e ex-capitão do Brasil na Copa Davis.
POLÊMICA: OS GRITOS DEVEM OU NÃO SER PROIBIDOS NO TÊNIS?
treinador e ex-tenista | ex-tenista | tenista da WTA |
O grito não é igual. Quando se está defendendo é de um jeito, quando ataca é de outro. Para mim faz sentido, porque está ficando fora de controle | Não acho. Tem que deixar cada um livre para jogar da forma que gostam. Depende da concentração de cada jogadora. Eu já me irritei várias vezes, e se você não se concentrar perde o ponto. | Não concordo, acho que é meio complicado. Vão colocar um aparelho na quadra para medir? Acho meio estranho. Eu grito para caramba para jogar por ser uma coisa natural, não consigo controlar e sinto que ajuda |
MARIA SHARAPOVA VENCE "DUELO DOS GRITOS" E VOLTA À FINAL
Maria Sharapova está em mais uma final em Wimbledon. Nesta quinta-feira, a tenista russa não encontrou dificuldades para derrotar Sabine Lisicki por 2 sets a 0 (parciais de 6-4 e 6-3) e, agora, enfrenta a tcheca Petra Kvitova na decisão do torneio. No “duelo dos gritos”, uma característica em comum das duas tenistas, Sharapova soube aproveitar os momentos de irritação de Lisicki, principalmente no segundo set. A russa terá a chance de conquistar seu segundo título em Wimbledon – ela foi campeã do torneio em 2004. Leia mais |
PETRA KVITOVA SUPERA NERVOSISMO E VAI À FINAL
Petra Kvitova assegurou sua presença na final do torneio de Wimbledon. Nesta quinta-feira, a tenista tcheca superou o nervosismo e os erros cometidos no segundo set para superar a bielorrussa Victoria Azarenka por 2 sets a 1 (parciais de 6-1, 3-6 e 6-2). Com a vitória, Kvitova desempata os duelos contra Azarenka. Até então, as duas tenistas haviam se enfrentado quatro vezes, com duas vitórias para cada uma. A tcheca havia sido eliminada nas semifinais em 2010. Leia mais |
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