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Capitão que reergueu Brasil na Davis faz estilo camarada e foge de confetes

Capitão João Zwetsch conversa com dupla brasileira na vitória da Davis em Rio Preto - Luiz Pires/Fotojump
Capitão João Zwetsch conversa com dupla brasileira na vitória da Davis em Rio Preto Imagem: Luiz Pires/Fotojump

Rafael Krieger

Do UOL, em São José do Rio Preto (SP)

17/09/2012 12h39

Após o último jogo da vitória por 5 a 0 do Brasil sobre a Rússia na Copa Davis, o capitão da equipe brasileira João Zwetsch invadiu a sala de imprensa do evento em São José do Rio Preto com todos os integrantes do time, do massagista ao preparador físico. “É muito importante reunir a equipe nesse momento”, explicou o treinador.

A atitude resume o perfil do capitão à frente da seleção do tênis nacional. Apesar de admitir que teve papel chave por agregar os talentos da equipe, Zwetsch fez questão de dividir os méritos com o resto do grupo desde a primeira comemoração na quadra, no sábado, após a vitória de Marcelo Melo e Bruno Soares nas duplas.

Para ele, o fato de ter comandado a equipe brasileira na volta à primeira divisão do tênis após nove anos não o coloca no patamar de herói. Na verdade, ele ficou bem contrariado ao ser convidado a traçar um perfil de si mesmo. “Não é bem a minha”, justificou Zwetsch, que preferiu fazer um perfil da equipe inteira.

O gaúcho de São Leopoldo tem 44 anos e é o capitão desde o ano passado, mas trabalha com Copa Davis desde 1997, quando começou como auxiliar técnico. É casado há 15 anos, tem um filho de 14 e outro que vai fazer cinco. Por isso, fez questão de agradecer à família após a vitória sobre a Rússia: “Minha mulher segura a onda lá sozinha enquanto estou viajando”.

Durante conversa com o UOL Esporte, Zwetsch se esquivou de qualquer tipo de individualismo, e ficou claro por que ele fez questão de levar todos os integrantes da equipe na hora da comemoração. Para ele, o espírito coletivo do atual grupo é justamente o que faltava para o tênis brasileiro. E foi o que faltou para a Rússia, que ficou sem Davydenko e Youzhny porque os dois preferiram priorizar as suas carreiras. Veja trechos da entrevista a seguir. 

“Não tem individualismo na equipe”

  • "O trabalho conjunto de muitas pessoas com o mesmo pensamento é muito mais importante do que qualquer perfil individual, porque é o que o nosso tênis sempre precisou: de várias pessoas com capacidade envolvidas e comprometidas dentro de um mesmo ideal. Sem priorizar a parte particular. Cada um tem sua vida, mas todo mundo de uma certa forma está inserido hoje em um projeto maior no tênis brasileiro. A nossa volta ao grupo mundial pode ser vista muito mais como um coroamento de todo esse processo do que individualmente de cada um que participou daqui."

“Precisamos reunir pessoas de bom caráter”

  • "Nessa hora a gente não pode puxar o peixe para o nosso lado, porque tem muitas pessoas boas envolvidas trabalhando. Essas mesmas pessoas que estão aqui hoje estão todas engajadas em um processo maior e que com certeza que mais para frente vai nos dar muitos frutos. Agregar essas pessoas é o que eu tento fazer o tempo todo. Tenho plena convicção de que agregar bons profissionais, pessoas de bom caráter envolvidas no mesmo processo, é a única chance que a gente tem de fazer o nosso tênis mais forte, não tem outro caminho."

“Time ainda não chegou ao seu auge”

  • "A gente está em um processo de evolução muito legal. O Thomaz é um cara que ainda vai encontrar o melhor tênis dele nos próximos dois ou três anos, o que para nós pode ser muito interessante. Marcelo e Bruno também estão cada vez melhores. Tem outros jogadores que também são importantes e com capacidade de ajudar quando necessário. Rogerinho, Feijão, Thiago Alves, André Sá, todos esses caras estão aí se mantendo em um nível alto e prontos para cooperar. Então estamos evoluindo ainda, não chegamos aonde a gente pode chegar."

Durão, só quando for necessário

  • "Para ser disciplinador ou rígido a gente tem que ter timing. Tem que saber a hora de ser um pouco mais firme, um pouco mais duro, um pouco mais decisivo naquelas coisas que têm que ser feitas, e outras horas não. Sou um cara que tenta olhar cada situação de uma forma particular, porque acho que na verdade uma conduta só para todas as coisas é uma coisa que não é muito legal ter, é uma coisa que pode nos colocar muito mais em dificuldades do que qualquer outra coisa, então acho que essa conduta tem que ser um caminho correto, honesto, aberto, limpo. E aí, em cima disso, todas as coisas naturalmente vão se encaminhando."

Volta à elite não foi sonho realizado

  • Não, isso não foi um sonho para mim. Isso foi um grande feito, me deixou muito feliz porque é um momento muito importante que a gente está vivendo no nosso tênis, e a volta ao grupo mundial vem coroar todo esse momento. Um patrocinador forte, que o nosso tênis nunca teve, grandes treinadores envolvidos em uma consciência de que tem que fazer a sua parte para que o todo possa crescer... Essas coisas dentro de um esporte como tênis, que é um esporte individual, não são fáceis de serem feitas. Em esporte coletivo, a coisa flui mais naturalmente. No esporte individual, a tendência é cada um ir para o seu lado sempre.

Individualismo prejudicou a Rússia

  • "Uma coisa que eu sempre friso que as pessoas têm que dar valor é que o calendário sul-americano é muito mais difícil do que o calendário dos europeus, porque a gente viaja muito mais. Eles jogam muito mais perto, e a gente está sempre tendo que viajar voos longos. A gente tem que enfrentar algo mais do que os europeus e americanos, e mesmo assim a gente nunca fez esse tipo de coisa que eles fizeram, chegar e dizer que o calendário está difícil, que vai ficar longe, não vamos à Índia, não vamos à Rússia... Todos os jogadores, sem exceção, sempre se dispuseram a acima de qualquer coisa defender o nosso país na Copa Davis e isso é uma coisa que tem que ser louvável mesmo. Em 15 anos, nunca presenciei nenhum jogador que deixou de jogar a Davis em função de sua carreira pessoal."

Calendário exaustivo de 30 semanas por ano

  • "Nossa média de viagens por ano fica em mais ou menos em 30 semanas, isso já dá pelo menos quase sete meses que a gente está fora de casa. Então ressalto sempre esse negócio na minha família, da minha esposa, dos meus filhos, porque não é fácil a gente ficar tanto tempo fora de casa. As crianças sentem falta. A sorte que eu tenho de ter a família que teu tenho é uma coisa muito importante para mim, porque tenho certeza de que, se fosse diferente, seria muito difícil eu estar aqui hoje."