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'Homem maratona', John Isner aceita rótulo, mas diz que gostaria de jogos mais curtos

Isner comemora primeira final de Masters 1000 na carreira ao bater Djokovic, em março - Darron Cummings/AP Photo
Isner comemora primeira final de Masters 1000 na carreira ao bater Djokovic, em março Imagem: Darron Cummings/AP Photo

Edgar Lepri

Do UOL, em São Paulo

29/10/2012 06h00

John Isner se tornou conhecido mundialmente ao vencer a partida mais longa da história do tênis, após 11h05, em jogo que só terminou depois de três dias, em Wimbledon-10. Desde então, fez oito finais e conquistou quatro de seus cinco títulos como profissional, chegou ao top 10 e virou o homem de confiança dos Estados Unidos na Copa Davis.

O JOGO MAIS LONGO

  • Isner posa ao lado do placar do jogo histórico em Wimbledon-2010

Mesmo com resultados expressivos, o tenista de 2,06 m de altura ainda tem o nome atrelado a “partidas intermináveis”. E ele colabora para isso. Neste ano, das 14 partidas em melhor de cinco sets que jogou, apenas três foram decididas em sets diretos, enquanto seis foram ao quinto e decisivo set – uma com 5h41, em que marcou o quinto set mais longo da história de Roland Garros, e outra com 4h41 de duração.

Apelidado de ‘homem-maratona’, Isner fala ao UOL Esporte que não se incomoda com o rótulo e lembra a épica partida em Wimbledon, contra o francês Nicolas Mahut.

“Muita gente me conhece por aquele jogo. Foi algo que chamou muita atenção por um momento. Muitas pessoas viram aquele jogo, foi único. E eu fiz parte dele”, conta.

NÚMEROS

  • 11h05

    de duração, superando em 4h30 o recorde anterior

  • 8h11

    de duração do 5º set, o mais longo da história

  • 113

    aces de Isner e 103 de Nicolas Mahut

  • 183

    games disputados, 71 a mais que o recorde anterior

    Questionado sobre a frequência com que precisa ficar muitas horas em quadra, o norte-americano dá uma risada e diz que ainda não encontrou uma explicação para o raio cair tantas vezes no mesmo lugar.

    Natural de Tampa, Isner percorreu um caminho diferente da maioria dos tops em sua ascensão. Jogou tênis por quatro anos enquanto cursava a University of Georgia e só pensou em seguir como profissional quando estava no penúltimo ano da faculdade, aos 21 anos de idade.

    Tendo o saque como um dos principais aliados, Isner dificilmente vê seu serviço ser quebrado. Como consequência, joga muitos tie-breaks ou sets longos – quando não há tie-break no quinto set da Copa Davis, do Aberto da Austrália, de Roland Garros e de Wimbledon. Um exemplo foi o seu “surgimento” para o circuito, quando ainda era 416º do mundo, em 2007. Jogando o ATP de Washington como convidado da organização, Isner surpreendeu ao vencer cinco jogos – quatro contra tenistas top 80 –, todos no tie-break do terceiro set e só foi perder na decisão.

    AS CINCO MAIORES 'MARATONAS' DE ISNER

    ANOTORNEIOADVERSÁRIOPLACARDURAÇÃO
    2010WimbledonNicolas Mahutv. por 6/4 3/6 6/7 7/6 70/6811h05
    2012Roland GarrosPaul-Henri Mathieud. por 6/7(2) 6/4 6/4 3/6 18/165h41
    2012Aberto da AustráliaDavid Nalbandianv. por 4/6 6/3 2/6 7/6(5) 10/84h41
    2011Aberto da AustráliaMarin Cilicd. por 4/6 6/2 6/7(5) 7/6(2) 9/74h33
    2011Copa DavisPaul Capdevilled. por 6/7(5) 6/7(2) 7/6(3) 7/6(5) 6/44h21

    Nesta temporada, entre as campanhas expressivas de Isner está a vitória sobre o então número 1 Novak Djokovic na semifinal do Masters 1000 de Indian Wells. Na Copa Davis, teve resultados surpreendentes no saibro, que não é seu piso favorito, batendo nomes como o suíço Roger Federer e os franceses Jo-Wilfried Tsonga e Gilles Simon, todos fora de casa.

    TEMPO EM QUADRA EM 2012*

    TENISTAMINUTOSJOGOSMÉDIA
    JOHN ISNER655953123
    THOMAZ BELLUCCI505544114
    ROGER FEDERER627459106
        
    • *Exceto Copa Davis e Jogos Olímpicos, até semana de 22/10

    Mesmo não sendo um “jogador de saibro”, piso em que as partidas tendem a ter mais rallys e a demorar mais, Isner é um dos tenistas do circuito que fica mais tempo em quadra. Neste ano, foram cerca de 110 horas, com média superior a 2h por jogo. O brasileiro Thomaz Bellucci, que prioriza um calendário de torneios no saibro, e o suíço Federer, que não costuma ficar muito tempo em quadra, expõe a diferença e têm números bem inferiores.

    Depois de seis confrontos pelos Estados Unidos, Isner finalmente pode estrear em casa em um duelo da Copa Davis, em 2013, na volta do Brasil à elite da competição. O atual número 11 do mundo mostra respeito à equipe que deverá ter o “talentoso Bellucci e a forte dupla Marcelo Melo / Bruno Soares”.

    Por que você acha que faz tantos jogos longos? Você já ouviu teorias sobre isso de algum técnico ou preparador físico?

    Não, isso apenas acontece, especialmente em Grand Slams, eu fiz muitos jogos longos. Eu realmente não consigo explicar (risos). Eu saco muito bem. Mas eu gostaria de não fazer tantos jogos longos, porque me tira muita energia e, principalmente em Grand Slams, você tem que salvar o máximo de energia possível.

    Você acha que ganhar pontos rapidamente em seu serviço é determinante seu físico aguentar mais do que outros jogadores?

    Sim, quando eu estou no serviço eu tento manter os pontos curtos. Seja terminando o ponto com o saque ou na primeira bola depois dele. É o meu plano de jogo, eu não quero muitos rallys.

    FINAIS NA CARREIRA

    Campeão
    2012 – Winston-Salem e Newport
    2011 – Winston-Salem e Newport
    2010 – Auckland

    Vice-campeão
    2012 – Houston e Masters 1000 de Indian Wells
    2011 – Atlanta
    2010 – Atlanta, Belgrado e Memphis
    2007 – Washington

    Seu saque é algo natural? Que mudanças você já fez nele desde quando estava na universidade?

    É natural. É claro que ser muito alto ajuda, mas é algo que nunca mudei muito, veio naturalmente para mim durante a toda minha vida. Eu tenho sorte por ter essa arma.

    Essas partidas longas são duras física e mentalmente. O que passa na sua cabeça quando um jogo começa a demorar, não há quebras e o quinto set não tem tie-break?

    Eu sou um competidor e não quero perder. Então não importa quanto dure cada partida, eu vou lutar. Tento não pensar em outras coisas, tento me manter focado para continuar no jogo.

    Fisicamente, como é a sua preparação antes e depois de um jogo de cinco sets?

    Com meus treinos habituais, tenho que estar em forma para qualquer jogo. Depois de um jogo de cinco sets acho que todo mundo fica cansado, e eu também. Eu sou um cara muito alto e gasto muita energia.

    Quando a chave é sorteada, você já olhou para algum adversário e pensou: esse jogo vai demorar muitas horas?

    Não, eu realmente não costumo olhar muito as chaves.

    Dois anos depois daquela partida épica em Wimbledon, ser chamado de ‘homem maratona’ te incomoda?

    Não, não. Eu sei que muita gente me conhece por aquele jogo. Foi algo que chamou muita atenção por um momento. Muitas pessoas viram aquele jogo, foi único. E eu fiz parte dele.

    NÚMEROS DO SERVIÇO EM 2012*

    • 1º em aces na temporada, com 958
      6º em aproveitamento de 1º serviço
      4º em pontos ganhos com o 1º serviço
      4º em pontos ganhos com o 2º serviço
      2º em aproveitamento de serviços confirmados
      2º em break point salvos

      *Estatísticas referentes à semana de 22/10

    Este ano você teve grandes resultados na Copa Davis que surpreenderam muita gente, principalmente no saibro. Quais mudanças você fez para melhorar seu jogo no saibro?

    Eu não tive grandes mudanças especificamente para o saibro. Eu me sentia bem fora da quadra, aí jogava de maneira agressiva e as bolas estavam entrando. Especialmente no primeiro dia (de confronto), jogar bem e sacar bem me ajudam muito.

    Falando sobre Copa Davis, você assumiu um papel importante neste ano, com Andy Roddick aposentado e Mardy Fish fora do circuito, mas não parece sentir pressão. Você encara a Davis como qualquer outro torneio? Qual a sensação de representar seu país na Davis?

    É uma honra representar os Estados Unidos. Eu joguei seis confrontos e enquanto o capitão me chamar eu vou jogar. Apesar de praticar um esporte individual, eu gosto da atmosfera de uma competição em equipe como a Copa Davis, como tinha no tênis universitário.

    Depois de seis confrontos, você finalmente vai ter a chance de jogar em casa na Copa Davis e será contra o Brasil, que está fora do Grupo Mundial desde 2003. O que você espera deste confronto e como você analisa o tênis brasileiro, com Bellucci, Melo e Soares?

    O Brasil tem um time muito bom. Eu fico surpreso que demoraram tanto para voltar ao Grupo Mundial. Nós vamos estar em casa, mas Bellucci está entre os tops, é muito, muito talentoso, e Melo e Soares formam uma dupla muito boa. Se quisermos ganhar, vamos ter que jogar bem.