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Nova regra do tênis faz jogadores mudarem hábitos e redobrarem atenção no saque

Rogerinho, sobre sacar na fita de propósito na nova regra: "Só o Federer conseguiria" - Martin Bernetti/AFP
Rogerinho, sobre sacar na fita de propósito na nova regra: "Só o Federer conseguiria" Imagem: Martin Bernetti/AFP

Rafael Krieger

Do UOL, em São Paulo

03/01/2013 06h00

Quem joga tênis sabe que, se o saque bater na fita da rede antes de cair na quadra do oponente, a jogada tem que ser repetida. Mas a ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) estuda abolir essa regra para deixar os jogos mais dinâmicos, assim como no vôlei. E o primeiro evento de teste com as novas normas está acontecendo em São Paulo, no Parque Villa-Lobos, onde os tenistas tentam se adaptar à mudança.

AS NOVAS REGRAS DA ATP PARA 2013

- Extinção do "let", repetição dos saques que batem na rede e caem dentro da quadra. Durante três meses, a ATP vai testar a nova norma em torneios Challenger, como o Aberto de São Paulo. Com base em questionários respondidos por público e atletas, a entidade decidirá se a mudança será definitiva.
- Aplicação com rigor de uma regra que já existia: o limite de tempo de 25 segundos para o saque. Caso o tenista demore mais do que isso, leva uma advertência. Na segunda vez, perde o serviço, e depois é punido diretamente com a perda de um ponto. A recomendação já vigora em todos os torneios da ATP.

Número 2 do Brasil e 126 do mundo, Rogério Dutra Silva já vinha treinando com a nova regra, e mesmo assim foi surpreendido. Na primeira rodada do Aberto de São Paulo, ele acabou levando um ace inusitado no segundo ponto do jogo, depois que o saque do adversário foi amortecido na rede e pingou em sua quadra.

“Na hora eu até lembrei, mas não deu tempo de correr. Tem que ficar esperto, porque mudou um pouco a dinâmica do jogo. Às vezes, nossa reação ainda não é automática. Agora, para receber, você tem que ficar um pouco mais atento, porque, em um ponto importante, pode ser determinante um saque na fita ou algo assim”, explicou Rogerinho.

A possibilidade de o sacador mirar na fita da rede para enganar o adversário não é algo que se aplica à realidade, segundo o tenista. “É difícil, só se o Federer conseguir. Para as pessoas normais, é mais no lance da sorte e do azar”, brincou Rogerinho, que venceu o sul-africano Rik De Voest na primeira rodada do Aberto de São Paulo.

MUDANÇA GERA PROTESTO

Será que algum membro da ATP já jogou tênis? Uma das novas regras é jogar sem let no saque nos torneios Challengers! Incomodidade e bronca total, não conheço nenhum dos 32 jogadores do torneio, mas vários árbitros que não concordam com esta regra.

Horacio Zeballos, argentino cabeça-de-chave número 1 do Aberto de São Paulo, por meio de seu Twitter

Se jogar a bola na fita de propósito é difícil até para os profissionais, para os amadores não é diferente. Ainda assim, muitos já vislumbram a possibilidade de forçar aces com “deixadinhas” auxiliadas pela rede. “É possível trabalhar para sacar contra a fita”, disse Eduardo Messias Alves, que joga tênis há 12 anos. “Mas eu discordo dessa regra, porque descaracteriza o esporte e apela ao fator sorte”.

Já o amador Irenaldo Ramalho, que joga desde 2008 “só nos finais de semana”, ficou empolgado com a mudança. “Você não acerta a fita porque quer, é pura sorte. E é injusto você fazer o ponto e não valer. Voltar o ponto é perda de tempo e desgaste físico. O saque vai continuar o mesmo, mas na hora de receber, tem que ficar mais atento, porque a bola pode ganhar caminhos diferentes. Fica mais divertido”, resumiu.

Outros amadores como o argentino Arturo Rios, que frequenta o Parque Villa-Lobos para jogar tênis, ainda ignoram a regra. “Não uso, porque fiquei sabendo agora. Tem que testar, mas gosto da regra tradicional”. O profissional Ricardo Mello, ex-número 1 do Brasil, também fez pouco caso da nova norma.

“Para mim, sinceramente, não muda muito a forma do jogo. É um detalhe mínimo da partida. Não faz diferença para mim, mas se ela vai pegar ou não vai depender dos outros jogadores, principalmente os lá de cima, que acabam decidindo”, comentou Mello, que perdeu na segunda rodada do Aberto de São Paulo.

OPINIÕES DOS AMADORES

  • Rafael Krieger/UOL

    "Discordo, porque descaracteriza o tênis", disse Eduardo Messias

  • Irenaldo Ramalho achou boa a regra da fita: "Fica mais divertido"

Logo depois da derrota de Mello para o argentino Martin Alund, o brasileiro João Souza, o Feijão, entrou em quadra e venceu com facilidade o português Pedro Sousa. Mas, durante a partida, ele precisou ficar ligado para não tomar um ace “pingado”, como aconteceu com Rogerinho.

“Agora é que nem o vôlei, você tem que estar atento sempre, o foco aumenta. Tem que estar mais vivo dentro do jogo e mais atento, porque esses detalhes podem fazer a diferença. Nos treinos dei uma vacilada, mas aqui nos jogos, até agora, não aconteceu nenhum fato bizarro”, afirmou Feijão.

O número 144 do mundo avisou que, da mesma forma que a nova regra pode favorecer o sacador, também pode facilitar a recepção: “Vai ter lugares em que a rede vai estar mais firme e a bola vai subir, outros com a rede mais frouxa que vai fazer a bola vai pingar. Pode ser contra ou a favor. Vai ser igual para os dois”.

A maior preocupação de Feijão depois do jogo não era a regra do “let”, mas sim a nova recomendação da ATP para a aplicação rigorosa da norma que estabelece o tempo limite de 25 segundos para o sacador recolocar a bola em jogo. Ao final da partida, ele conversou com o árbitro para esclarecer se o receptor também poderia usar esse tempo.

A resposta foi não. Mesmo que Feijão estivesse ofegante após um ponto disputado, ele precisava acompanhar o ritmo do sacador. Provavelmente ele não teria problema quanto a isso se estivesse jogando contra Rafael Nadal ou Novak Djokovic, que podem demorar minutos para sacar.

Em 2013, tenistas como Djokovic e Nadal terão que rever seus rituais no saque para respeitar a regra do tempo. Pelo menos nos torneios da ATP, já que, em eventos realizados pela ITF (Federação Internacional de Tênis), como Grand Slam e Copa Davis, a aplicação da regra não será obrigatória.