Frenesi, bate-boca e brincadeira com Federer: repórter relata aventura por um autógrafo de Nadal
Noite de sexta-feira, ginásio do Ibirapuera lotado. Match-point para Rafael Nadal sobre o argentino Carlos Berlocq. Chegava a hora da missão do dia: largar o conforto da bancada de imprensa e se juntar aos fãs que já disputavam espaço perto do corredor da saída dos jogadores. O objetivo era voltar com uma autobiografia do espanhol autografada, o que só consegui depois de passar 20 minutos sentindo saudade do metrô em horário de pico.
Ao aceitar o desafio, decidi esconder a credencial no bolso, até para evitar constrangimentos. No dia anterior, antes da coletiva de Nadal, a organização orientou os jornalistas a não pedirem autógrafos. Não que tivesse alguma graça conseguir a assinatura dele ali na sala de imprensa.
Para entender o que é ser fã, só mesmo ali no meio da muvuca, sendo encoxado por todos os lados. Um simples rabisco de Nadal pode levar as pessoas a arriscarem sua integridade física. Por sorte, consegui sair apenas com um leve hematoma na perna. Acabei me machucando ao tentar me manter em pé apoiando minha canela contra um assento. Coisa que só senti depois que a adrenalina baixou.
Poderia ser bem pior. Logo que me posicionei no limite entre a arquibancada e o corredor de saída por onde Nadal passaria, uma garota que estava espremida no corrimão começou a gritar: "Perdi meu sapato!". Sabe-se lá como, uma sapatilha dourada foi devolvida a ela após passar de mão em mão. A menina descalça então estendeu o calçado como se fosse pedir para Nadal autografar. Restava rir da situação.
A SAGA DO AUTÓGRAFO
Gente de todas as idades se espremia para tentar uma lembrança do ídolo
Suor na testa mostra a dificuldade do repórter para conseguir o autógrafo
Detalhe do tão disputado autógrafo de Nadal na primeira página de sua autobiografia
A tensão do empurra-empurra foi quebrada novamente quando Nadal recebeu um boné com a marca de Roger Federer, o "RF" característico do maior rival do espanhol. Ele olhou, parou, sorriu, mas autografou o boné mesmo assim. Ainda na espera pelo ídolo, eu os fãs que me encoxavam caímos na risada.
Mas o clima não era assim tão leve. Nadal ainda estava longe, atendendo fãs do outro lado da quadra. Todos estavam em frenesi, e o espanhol chegou a pedir calma mais de uma vez. Enquanto isso, uma das mulheres espremidas perto de mim começou a berrar, pedindo para que parassem de empurrá-la. Muitas crianças e idosos estavam no meio do tumulto. Havia ainda o risco de despencar dali tentando entregar algo a Nadal. A sensação era de que algo muito errado estava prestes a acontecer.
Seguranças agarravam invasores que entraram na quadra sem autorização. Uma senhora de idade espremida no outro lado do corredor tinha uma expressão de choro na face. Mas o que assustou mesmo foi o movimento de avalanche gremista que os fãs fizeram se apoiando na estrutura de madeira do fundo da quadra, onde as bolas batem. Aquilo balançou de uma forma que esteve perto de desmoronar sobre o próprio Nadal.
Talvez alertado pelos seguranças que o cercavam, Nadal logo saiu dali, e começava a se aproximar da gente. E a situação ficou ainda mais tensa. Um casal que assistiu ao jogo inteiro nas cadeiras exatamente ao lado do corredor puxou discussão com um jovem mais afoito que chegou empurrando. "Estão achando que é só para vocês, é?" bradou o rapaz. "Estamos aqui neste lugar há sete horas", respondeu a mulher, mais brava que o marido.
Enquanto isso, outros fãs mais criativos evitavam um tumulto maior com a ajuda da boa e velha gambiarra. Eles usaram cordas para pendurar bolas, bonés e camisetas. Teve até um menino que levou uma vara de pescar para a arquibancada, e fisgou um boné como isca para o ídolo.
Não tive esse nível de preparação e, à medida em que Nadal se aproximava, eu era cada vez mais espremido. Já não conseguia me manter em pé só com as pernas apoiadas contra o assento, e precisei curvar meu corpo para a frente e segurar no corrimão com uma das mãos, enquanto a outra estendia o livro. Logo percebi que estava puxando o cabelo de duas meninas ao mesmo tempo. Uma delas enfiou a cabeça entre o corrimão e o muro de cimento, gritando "Nadal, Nadal!.
"Vamos fazer uma fila, que tem pouca gente", sugeriu alguém que provavelmente não estava no mesmo sufoco. Para nosso alívio, Nadal finalmente veio em nossa direção, e deixou aquela senhora de idade agonizando do outro lado, esperando pela sua vez. O espanhol trouxe sua própria caneta hidrográfica - se soubesse, não teria ficado segurando a minha. Quando ele assinou o livro, soltei um "gracias" que certamente não foi ouvido.
Começava então outra aventura: depois de tanto se amontoar, era a hora de tentar se livrar do tumulto. O que não foi fácil naquele momento. Muitos atrasadinhos chegavam desesperados por um autógrafo, e mesmo que eu dissesse que daria meu lugar a eles, a euforia era grande demais para que me ouvissem. Um deles chegou a se pendurar no corrimão, e foi contido por seguranças.
O próprio Nadal voltou a pedir calma, pois quanto mais ele chegava perto da saída, mais o desespero por um autógrafo aumentava. Para mim, a confusão já tinha sido suficiente. Consegui me livrar do tumulto e saí tremendo, tanto nas pernas quanto nas mãos. Mas a minha missão estava cumprida. A do Nadal, não. Ele ainda estava lá, ouvindo a gritaria das pessoas. "Aqui Rafa!". "Nadal, Nadal!". "Casa comigo!". Todo esse tipo de coisa. Não deve ser fácil para ele aguentar isso sempre. Só que, para os fãs, é mais difícil ainda.
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