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Prodígio diz que fama, dinheiro e mulheres o 'ajudaram' a deixar o tênis

Ex-tenista Marcelo Saliola ao lado de Jaime Oncins durante partida em torneio de veteranos - João Pires/Divulgação
Ex-tenista Marcelo Saliola ao lado de Jaime Oncins durante partida em torneio de veteranos Imagem: João Pires/Divulgação

Luiz Paulo Montes

Do UOL, em São Paulo

06/10/2013 06h00

Na década de 80, o Brasil viu um tenista surgir como prodígio, entrar para o Guiness Book como mais jovem a pontuar no ranking da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) e encerrar a carreira de maneira precoce com 17 anos.

Marcelo Saliola, com 14 anos e três meses, somou seus primeiros pontos em 1987 e entrou para a história. Apontado por muitos na época como garoto-prodígio, se perdeu no sucesso. Com uma carreira meteórica desde o começo, passou a ganhar dinheiro, patrocínios e não aguentou a pressão. Para desespero do pai, largou o tênis.

“Depois do Guiness, minha carreira foi uma bomba para cima. Com 15 anos, jogava torneios de 18. E ganhava. Joguei o Pan-Americano, fui bronze no individual e ouro por equipe. Ganhei do número 12 do mundo. Com 16 anos, ganhava 10 mil dólares por mês, era capa de revista, a mulherada se aproximava... Fiquei ‘xarope’, deu uma pirada na cabeça e eu me perdi. Isso me ajudou a parar, passei a ver de outro modo”, afirmou Saliola, em entrevista ao UOL Esporte.

“Eu estava com três patrocínios, fazia propaganda, todo mundo acha lindo. Mas eu parei e percebi que não gostava de jogar tênis, não gostava da competição. Eu não percebia isso. Estava envolvido, tinha responsabilidade... Até o dia que com quase 18 anos caiu a ficha. Estava jogando pensando em todo mundo, nos pais, no treinador, nos patrocinadores, e eu mesmo estava infeliz. Parei!”, completou.

Depois que parou de jogar, viveu uma fase de ‘garoto revoltado’. De cabelo comprido, faixa na cabeça, fez o inverso do que fazia enquanto esportista. Saliola diz que não se envolveu com drogas, apesar de ter experimentado maconha, mas que fazia coisas normais de adolescentes. Bares, baladas, cervejas.. Tudo causado, segundo ele, por falta de experiência das pessoas que o orientavam na carreira. Hoje, olhando para o passado, o ex-tenista evita culpar os envolvidos.

“Ninguém fez por mal. Fizeram por falta de experiência.  Por não ter tido outros atletas de ponta, as pessoas acreditavam em mim e esqueceram da pessoa. Eu não tinha condição de entender isso. Me deu uma revolta. Hoje me dou bem com todo mundo. Entendo que todos faziam aquela pressão pensando no meu melhor”, disse.

Passada a revolta, Saliola conseguiu retomar o esporte. Aos 20 anos, dedicou-se aos jogos de duplas. Sem técnico, sem pressão, sem obrigações, sem patrocínio. Jogava livre, segundo ele. Ganhou cerca de 12 torneios, até que viu que não teria futuro e encerrou a carreira definitivamente.

Desde então, há quase 20 anos, o ex-tenista se dedica a dar aulas para crianças e adolescentes. Pelo ‘trauma’ que passou em seu início de carreira, não foca competição. Quando é procurado pelos pais, a primeira coisa que diz é: ‘não vou formar nenhum número um do mundo aqui. Se é isso que você quer, posso indicar outra pessoa. O meu método é no fair play, na diversão’.

“Tenho crianças entre 8 e 12 anos. Não é competitivo, de alto rendimento. Meu papel é ajudar a criança a crescer. Quero que estudem, façam inglês, faculdade fora. Não cobro rendimento. É uma competição saudável. Não quero moleque treinando quatro horas por dia comigo. Se eu tiver um ouro na mão, passo para outro lapidar para não perder o meu foco”, finalizou.