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Maníacas por autógrafo e alunos viajantes: o 1º público do Aberto do BR

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

25/02/2014 06h00

Segunda-feira de chuva e de jogos do qualificatório na programação. Com esse cenário, só apareceu no primeiro dia do Aberto do Brasil quem realmente gosta de tênis. Gente como as adolescentes Atalia, Ana Carolina e Rebeca. Decididas a acordarem às 5h da manhã nesta segunda para viajar de São Bernardo do Campo a São Paulo, elas sequer conseguiram dormir na noite anterior. Era a ansiedade por bater bola com jogadores do circuito profissional de tênis que não as deixava pregar os olhos.

Mas deu tudo certo, e pela manhã, Rebeca Oliveira, 11 anos, fazia sua estreia nas quadras. Segurando uma raquete pela primeira vez, jogou quatro pontos com Tommy Haas, ex-número dois do mundo. Mas a fila anda e depois a irmã Ana Carolina Oliveira, 13 anos, tomou o lugar dela.

Por fim, a amiga Atalia Santos Fernandes, 16 anos, entrou em quadra e foi elogiada. “Trocamos umas 20 bolas e ele disse que eu jogava bem. Quase explodi de felicidade”, falou orgulhosa do feito. Terminado o “Kid’s Day”, foi hora das fotos. E mesmo atrasado, Haas foi “legal” na definição das garotas: aceitou posar individualmente com cada uma.

Atalia não se conteve em estar junto do alemão e soltou um “I love you”. Ele respondeu que a garota havia jogado muito bem. Atalia se apressa em explicar que foi uma declaração no sentido de adorar, apreciar. Coincidência ou não, ela ganhou o sorteio da bolinha assinada pelo atleta.

Escolheu o número oito por causa da data de aniversário e se deu bem. Mesmo assim, pediu para ele assinar o boné. O autógrafo do jogador preferido dividia espaço com dezenas de outros tenistas. Ana Carolina tinha 29 nomes e poucos espaços onde por mais assinaturas. “Não temos do Leo (Leonardo) Mayer, mas vamos pegar já”, prometia enquanto o jogador disputava uma partida.

A estratégia do trio era abordar os homens com físico de tenista - altos e magros - e que estivessem carregando uma raquete, toalha ou raqueteira. Mesmo concentradas na tarefa, não perceberam a passagem de Nicolás Almagro, cabeça de chave número 2 do torneio. Receberam uma mão do segurança que alertou e mostrou o caminho que ele seguiu.

Chegaram tão rápido e com tamanha empolgação que o tenista tomou um susto. Em seguida, ele viu a caneta e fez a vontade das meninas. O boné preenchido era um dos motivos de felicidade do dia que começou antes de o sol aparecer.

O trio se encontrou às 7h da manhã no ponto de ônibus, e o trânsito lento preocupou Rebeca, que temia não chegar a tempo. Elas desembarcaram no metrô e nem ligaram se era horário de pico. Por fim, outro ônibus as deixou no portão do Ginásio do Ibirapuera.

Na hora de ir embora, repetem a mesma maratona. Nenhuma novidade para Ana Carolina e Atalia, que fizeram o mesmo trajeto no Aberto do Brasil do ano passado e na exibição de Roger Federer em 2012. Os autógrafos dele e de Rafael Nadal fazem parte da coleção da dupla. Rebeca é a nova integrante do grupo.

BATE-VOLTA E DÍVIDA NA ESCOLA

  • Amanda Goulart e Fillippo Domenech Bugno com o caderno aberto. No Aberto do Brasil, o dever de casa fica para os intervalos das partidas de tênis no Ibirapuera

As garotas não foram as únicas a viajar para acompanhar as partidas. Parceiros de tênis, Jayme Pinehiro Neto, 18 anos, e Stefano Augusto Fonseca, 20 anos, saíram de Lorena de manhã. Chegaram a São Paulo 190 quilômetros depois para um dia que prometia. Acompanharam o treino de Tommy Haas, jogos de brasileiros e planejavam ir embora às 20h30. Mas a partida de João Feijão Souza estava boa e uma consulta na internet mostrou que havia ônibus perto da meia-noite. Não pestanejaram.

Jayme deu sorte, porque a professoram mandou e-mail avisando que está doente e não haverá aula nesta terça-feira. Resolveu então ficar para acompanhar as partidas do dia seguinte. Stefano vai chegar a Lorena somente às 3h, e amanhã é dia de aula.

Fillippo Domenech Bugno, 14 anos, é outro que também terá de acertar as contas na escola. Ele tinha tarefa de português, mas não queria perder o primeiro dia de Aberto do Brasil. Levou livro, caderno e lápis para as arquibancadas. Passou a noite com um olho na quadra e outro na lição.

Ele confessa que a disciplina não é o ponto forte, mas ressalta que nunca pegou recuperação. Fillippo diz que estudava nas trocas de lados. A amiga Amanda Goulart Coli, 15 anos, faz a defesa e conta que em certos momentos fez comentários dos pontos e não obteve resposta porque o garoto estava concentrado na tarefa.

TUDO EM FAMÍLIA

  • Felipe Pereira/UOL

    Rogério Dutra Silva, o Rogerinho, teve uma torcida especial na arquibancada. O pai e a mãe do tenista acompanharam a partida que classificou Rogerinho para a chave principal do torneio

Além daqueles torcedores mais apaixonados pelo esporte, quem marcou presença no Aberto do Brasil foi a família dos tenistas brasileiros que estiveram em quadra. Foi o caso de Eulício Dutra Silva, que foi conferir a vitória do filho Rogerinho na última rodada da chave qualificatória.

Professor de tênis, ele estava feliz com o duplo 6-2, mas disse que tinha coisas para melhorar no jogo do filho. Eulício conta que a segunda-feira no torneio é especial por ser a única data para ver Rogerinho jogar de perto. Ele trabalha de terça a sexta e agora verá os jogos no máximo pela televisão.

Caberá à mãe do tenista dar o apoio familiar. Maria das Graças Dutra Silva promete ir ao Aberto do Brasil enquanto o filho estiver vivo na competição. Ela confessa que fica nervosa e reza durante os jogos, mas garante que consegue fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Além disso, encontra tempo para repreender o neto que aplaudiu uma dupla-falta do adversário. Acabado o jogo, a família se concentra na saída dos jogadores. “Não importa se ele tá suado ou fedido”.