Patrocinador cobra explicação de cartola da CBT após acusações de ex-aliado
A amizade de décadas, fortalecida pela relação de “compadres”, não evitou a ruptura entre dois importantes gestores do esporte, o presidente da CBT (Confederação Brasileira de Tênis), Jorge Rosa Lacerda, e o empresário Ricardo Marzola, da Brascourt Pisos Esportivos. Em entrevista ao UOL Esporte, Marzola levantou suspeitas sobre extratos bancários apresentados pela confederação como prestação de contas aos Correios, que podem ter sido adulterados. Principal patrocinadora da CBT, com uma parceria que rendeu R$ 7,6 milhões à confederação em 2013, a estatal disse solicitar explicações sobre o caso.
A ruptura entre Lacerda e Marzola ocorreu em agosto de 2013. “Na conversa de despedida que tivemos, na sede da confederação, em São Paulo, Jorge me confidenciou que estava sendo roubado, mas sem dizer quem fazia isso”, disse o empresário. Segundo ele, o dirigente da CBT fez um desabafo: “Até extratos bancários foram adulterados e apresentados na prestação de contas mensal aos Correios”.
Em Brasília, a direção dos Correios informou que está solicitando “explicações a respeito da declaração do senhor Ricardo Marzola”. “Os Correios não têm conhecimento de adulteração de notas fiscais. A empresa não tinha conhecimento de nenhuma denúncia nesse sentido até o recebimento desta mensagem. A empresa está solicitando à CBT explicações a respeito da declaração.”
O presidente da confederação negou ter travado diálogo com Marzola sobre o problema. "Eu não falei isso. Todo nosso contrato com os Correios é auditado”, disse Lacerda. "Nós somos obrigados a contratar uma auditoria específica para o contrato dos Correios, e até hoje não veio nenhum relatório da empresa informando que houve dado adulterado ou falso.”
Questionado pelo UOL Esporte se havia recebido uma notificação dos Correios, Lacerda disse que não. “Os Correios só enviaram para nós uma cópia do que foi respondido, que foi bem tranquilo, dizendo que não tinha nada do que ele [Marzola] estava falando”, disse. “O próprio patrocinador está vendo que isso está sendo feito para criar um fato antes da assembleia da CBT [que ocorre neste sábado, dia 29].”
Escritório dentro da sede da CBT
Experiente na organização de grandes eventos de tênis, Marzola foi parceiro da CBT desde a chegada de Lacerda à presidência da entidade, há dez anos. A proximidade era tanta que a sede da confederação abrigava um escritório da Brascourt. Na mesma sede ocorriam as licitações e os convites para a contratação de serviços, como a preparação de quadras, especialidade do empresário.
Entre os principais trabalhos desenvolvidos pela Brascourt está a preparação de nove quadras para o torneio de tênis do Pan 2007, no Rio de Janeiro, e oito quadras para disputas da Copa Davis, no Brasil. Gustavo Kuerten é um dos clientes VIPs da empresa.
A ruptura entre os amigos ocorreu no momento em que a Polícia Federal investiga denúncias de irregularidades na CBT, a pedido do Ministério Público Federal. Jorge chamou Marzola para uma conversa, em agosto do ano passado, enquanto caminhava a investigação. E aconselhou o empresário a “seguir carreira isolada da CBT”. Surpreso, Marzola perguntou sobre como fazer isso. “Não sei, se vira”, respondeu o cartola, de acordo com o entrevistado.
“É muito estranha essa separação”, avaliou Arnaldo Gomes, que até março de 2013 foi o segundo vice-presidente da CBT. “Foi uma surpresa, pois eles eram muito amigos. Marzola, inclusive, viajou com a delegação brasileira, liderada por Jorge, para os jogos da Copa Davis na Rússia, em 2011”, disse. “Espero que, agora, ele contribua para ajudar a esclarecer as denúncias de irregularidades na confederação.”
O presidente da CBT disse ter pena de Ricardo Marzola e que não esperava esse tipo de reação do ex-aliado, mas que não guarda rancor. "Eu tenho a consciência limpa, não vou entrar em atrito com ele", afirmou.
"Eu tenho pena porque sou amigo das pessoas por ser amigo, não quero tirar vantagem", disse Lacerda. "Agora, a pessoa é sua amiga até o dia em que tem um contrato. No dia em que o contrato deixa de existir, ela passa a não ser sua amiga. É estranho. Se eu fazia tanta coisa errada, ele [Marzola] deveria ter falado antes."
O presidente da CBT disse que a entidade está com todas as contas aprovadas. “Nunca tivemos problemas, tanto com auditoria, conselho fiscal, assembleia geral, nada nesse sentido”. Como não há irregularidades, ficaria “desconexo” dizer uma coisa ao empresário dono da Brascourt e apresentar outra nas assembleias, na opinião de Lacerda.
Perseguição
O dirigente da confederação atribuiu as acusações a uma disputa política dentro da entidade, e considera-se vítima de uma perseguição. Ele lamentou que Marzola esteja alinhado ao grupo que se opõe à sua gestão na CBT. "Ele está se atrelando a outras pessoas que ele já sabia que estavam tentando prejudicar a entidade", afirmou. Para Lacerda, a oposição à sua atuação visa "desestabilizá-lo", para que outros concorram à presidência da entidade. "Esse grupo está querendo o quê? Pegar a confederação!", afirmou.
Já havia disposição de encerrar o contrato com a Brascourt e não ter uma empresa responsável pelas quadras oficiais das partidas antes de agosto de 2013, disse o presidente da CBT. A ideia foi endossada por avaliações negativas de atletas e da Associação de Tenistas Profissionais (ATP) às quadras entregues.
Rotina de luxo
O ex-aliado Marzola, que chegou a acompanhar a delegação brasileira de tênis em eventos fora do país, acusa ainda o cartola da CBT de levar uma “rotina de luxo” às custas da entidade. “Não acredito em enriquecimento ilícito nem que Jorge esteja roubando”, disse o empresário. “Mas acredito que ele use a máquina da CBT para ter uma rotina de luxo, desfilando em carro blindado, fumando charutos cubanos, frequentando ambientes caríssimos. Quem paga essas mordomias, se ele [Lacerda] não trabalha há 12 anos?”, indagou.
O UOL Esporte apurou que Lacerda paga despesas com o próprio cartão de crédito e recebe reembolso posteriormente da CBT. Ele negou que use a máquina da entidade em seu favor, mas confirmou ter carro blindado e receber reembolso de certas despesas aprovadas pela CBT – todas contabilizadas e comprovadas.
“O que eu tenho da confederação: tenho um auxílio-moradia que foi aprovado em 2006, em assembleia [da CBT]. E, quando a gente tem recepções, viagens, eu tenho os meus reembolsos de despesa, mas tudo isso contabilizado”, disse.
Ele negou ter uma vida de luxo, e disse que mantém o mesmo padrão de vida que possuía quando vivia em Santa Catarina, antes de ser presidente da confederação. Entre seus bens citados à reportagem estão um apartamento, um escritório de advocacia em Florianópolis mantido com o irmão e um escritório de empreendimentos imobiliários. Quanto ao carro blindado, ele diz ter o veículo por ter sido assaltado três vezes em São Paulo.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.