Veterano e "sindicalista", André Sá briga por mais dinheiro para tenistas
Tenista brasileiro mais velho jogando no circuito mundial e único remanescente da era Guga ainda em atividade, André Sá tem uma faceta pouco conhecida do grande público: a de “sindicalista”. Desde 2012, o mineiro de 37 anos integra o Conselho de Jogadores da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) e tem como uma das principais funções discutir junto à presidência da entidade e diretores de torneio melhorias nas competições, aperfeiçoamento e novidades nas regras e aumento de premiações.
Sá está em seu segundo termo consecutivo como membro do conselho. Eleito pela primeira vez em 2012, ele ficaria no cargo até a metade deste ano, mas acabou reeleito e seguirá no cargo até 2016. O mineiro é um dos doze membros do grupo, que conta também com o brasileiro Bruno Soares e o suíço Stanislas Wawrinka, campeão do Aberto da Austrália no início deste ano e atual quarto colocado do ranking mundial.
“O principal papel do conselho é criar uma comunicação forte entre jogadores e dirigentes. Os atletas passam sugestões para nós e levamos isso adiante. Por eu ter muito tempo no circuito, tenho uma presença e amizade fortes com os jogadores. E isso me ajuda muito. Claro que é preciso ter aquele lado político, saber ouvir todos lados, negociar, mas sempre gostei muito disso. Existem vários conflitos de ideias e interesse e é preciso saber administrá-los”, afirmou Sá, que atua profissionalmente desde 1996.
Ao longo dos dois últimos anos, a principal batalha travada por Sá e pelos demais membros do conselho terminou de maneira satisfatória. Eles conseguiram junto aos diretores dos quatro Grand Slams um aumento de 12% na premiação, a ser cumprido até 2017. Para isso, foi necessário um trabalho desgastante, com muitas reuniões e ligações telefônicas.
“Foram horas e horas de ligações telefônicas, conferências e reuniões na Europa, na Ásia,na Austrália, foi duro. A distribuição não estrava sendo justa e conseguimos através de muito trabalho um ganho significativo. Decidimos também como seria a distribuição, com um aumento maior nas três primeiras rodadas de simples, que é quando o pessoal mais precisa de dinheiro”, contou o brasileiro, que havia tido uma primeira experiência no conselho em 2003.
Encerrada esta missão, os integrantes do conselho se debruçam agora sobre outra árdua tarefa. Dobrar os proprietários dos Masters 1.000 a também abrirem o bolso e aumentarem a quantia dada aos jogadores em premiação. As negociações ainda estão em fase inicial e devem pautar as reuniões do grupo até 2016.
“Os jogadores merecem aumento, pois os Masters são torneios obrigatórios para o tenista não sofrer nenhum tipo de penalidade financeira e no ranking. Mas não é algo fácil, pois tudo é um negócio. Depois de todas as conversas, a palavra final ainda fica com o Chris Kermode, presidente da ATP”, afirmou Sá.
Os integrantes do conselho não recebem nenhum tipo de remuneração e representam diversas categorias de jogadores. Há os representantes dos 50 primeiros colocados do ranking de simples, dos jogadores ranqueados entre a 50ª e a 100ª posição, dos duplistas e técnicos. Sá é responsável por cuidar de todas as categorias. Em seu primeiro termo, trabalhou tendo Roger Federer como presidente. Hoje, o mandatário máximo é o duplista americano Eric Butorac.
“Eu tinha muito diálogo com o Federer, era um cara muito aberto a ideias. Ele saiu na última eleição, que aconteceu em junho, em Wimbledon, mas durante o Aberto dos Estados Unidos em Nova York, conversei bastante com ele, pedi a opinião, pois ele é uma pessoa muito importante para o tênis”, contou Sá.
Entre ideias frustradas discutidas nas quatro reuniões anuais do conselho estava a implantação de um cronômetro regressivo de 24 segundos para regular o tempo entre o saque dos atletas. Algo que não seguiu adiante, assim como o fim do “let” (quando a bola toca na rede durante o saque). Esta ultima novidade chegou a ser testada em alguns torneios challengers em 2013, mas não seguiu adiante.
“Sempre existem muito pedidos. Neste ano estamos testando para ver se funciona termos um qualifying nos ATP 500. Também existe muita demanda dos duplistas por uma maior exposição, jogos em quadras centrais ou na televisão”, disse o mineiro.
Perto da aposentadoria, Sá ainda não sabe o que será de seu futuro, mas não descarta a possibilidade de trabalhar na parte administrativa. Porém, enquanto o adeus às quadras não chega, o mineiro segue disputando torneios challengers em sua maioria e buscando um melhor ranking para entrar em competições maiores, como os ATPs 500 e os Masters. Especialista em duplas, ele ocupa atualmente a 61ª posição.
Sá também vislumbra a participação nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, naquela que seria a sua quarta Olimpíada. Como Marcelo Melo e Bruno Soares já formam uma parceria certa para a disputa, o mineiro manifestou o desejo de jogar ao lado de Thomaz Bellucci, com quem atuou em Londres-2012 e está jogando neste mês da Europa.
“Quando atuamos juntos, vamos bem. É uma opção clara para 2016. Pensamos até em jogar alguns torneios juntos antes da Olimpíada”, completou o brasileiro.
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