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Ele trouxe o fast food ao Brasil e ganhou Wimbledon. Conheça o Bob do Bob's

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

11/12/2014 06h00

Em 2 de junho de 1948, depois de salvar três match points e vencer um jogo épico por 3 sets a 2, o americano Robert Falkenburg se tornava campeão individual do torneio de Wimbledon, um dos mais tradicionais da história do tênis.

Ao longo da breve carreira como tenista amador, também foi bicampeão de duplas em Londres, além de participar de duas edições da Copa Davis, competindo pelo país que adotara: o Brasil. Em 1974, entraria para o Hall da Fama do tênis mundial.

Mas sua biografia tem outro fato curioso: no início da década de 1950, Falkenburg trocou um contrato de 100 mil dólares como tenista profissional para apostar numa ideia extravagante: vender sorvetes, milk-shakes, hambúrgueres e hot dogs no Rio de Janeiro.

Sob essa premissa, em 1952 nascia o “Bob’s”, empresa com a qual Robert (Bob para os íntimos) apresentava à juventude tropical um conceito que já era sucesso nos Estados Unidos: comida rápida, barata, gostosa e moderna.

O local da aventura não foi escolhido por acaso. Nascido em Nova York, Falkenburg era filho de um engenheiro de usinas que frequentemente viajava ao Brasil a negócios. A família vinha junto.

Numa dessas viagens, em 1946, o jovem Bob venceu um torneio de tênis no Rio de Janeiro e conheceu a filha de um rico industrial, Lourdes de Veiga Machado. Casaram-se no ano seguinte, no mesmo ano em que ele venceu pela primeira vez Wimbledon, fazendo dupla com o americano Jack Kramer.

Sua ascensão esportiva foi interrompida quando um amigo lhe ofereceu uma sociedade em uma cadeia de sorveterias dos EUA. Bob se empolgou com a ideia.

O empresário sugeriu que ele expandisse a rede para estados americanos mais afastados.

Bob escolheu montar o negócio no Rio de Janeiro. Em 1951, ele se mudaria de mala e cuia para o Rio. Era o começo de um pequeno império.

A força da raquete

Mas o ex-atleta, agora feito empresário, logo teve de enfrentar o que hoje se chama “custo Brasil”, um entrave atávico ao empreendedorismo no país. A primeira lanchonete Bob’s, em Copacabana, demorou a funcionar porque o bairro, eminentemente residencial, não tinha energia elétrica suficiente para demanda industrial.

Depois de idas e vinda de técnicos e engenheiros incapazes de resolver o problema, Falkenburg resolveu apelar ao presidente da companhia de energia.

“Foi Deus que soprou no meu ouvido: vá lá e fale com o presidente”, disse Falkenburg ao pesquisador Gerson Genaro, que escreveu um livro sobre a história do empresário.

Falkenburg, que hoje vive nos Estados Unidos, lembra que, por uma dessas coincidências do destino, o presidente reconheceu-o, pois estava na arquibancada da quadra quando o tenista levantou o título em Londres.

A companhia de energia logo resolveu o problema da força. Em agradecimento, Falkenburg presenteou o executivo com a raquete que ele usara na final de Wimbledon.

A partir daí, a lanchonete Bob’s cresceu e ficou famosa entre a juventude carioca, ávida por experimentar as novidades que o empresário trazia dos EUA ou tirava da própria cabeça.

Primeira loja Bob's em Copacabana, em 1970. Falkenburg ainda estava no comando da empresa - Divulgação / Editora Lamônica - Divulgação / Editora Lamônica
Primeira loja Bob's em Copacabana, em 1970. Falkenburg ainda estava no comando
Imagem: Divulgação / Editora Lamônica

Assim nasceram para o país o sanduíche de queijo com banana, o molho tártaro, o sundae e, claro, o milk-shake de Ovomaltine que até hoje é um dos carros-chefes do Bob’s.

A empresa reinou quase sozinha no mercado de fast food nacional até a chegada do McDonald’s, no final da década de 1970. Foi um golpe forte e a marca precisou se reinventar. Hoje, ela tem franquias em todo o país.

Um pouco antes da chegada do gigante americano, Falkenburg já havia vendido o comando da empresa para uma multinacional e, com o dinheiro, foi viver nos Estados Unidos.

Ainda rodou pela América do Norte e Europa disputando torneios de golfe, sua segunda paixão. Também era habitué de mesas de pôquer e esportes afins.

Perto de completar 89 anos, ele vive hoje na Califórnia, no rancho de um de seus filhos. O lugar foi batizado de Tupi, uma homenagem ao cachorro fila brasileiro que Falkenburg levou consigo ao retiro para diminuir a saudade do país.