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"Operário do tênis", Ferrer foi pedreiro antes de se firmar no esporte

Do UOL, em São Paulo

15/02/2016 06h02

De volta ao Brasil para tentar defender seu título no Rio Open, o espanhol David Ferrer, de 33 anos, se firmou entre os dez principais tenistas do circuito masculino com um estilo batalhador dentro das quadras. Sem a potência nos saques e golpes de base de outros representantes do primeiro escalão do tênis, ele se destaca por aliar rapidez, resistência física, eficiência nos contra-ataques e muita luta.

Para descrever a movimentação intensa de Ferrer, o norte-americano Andy Roddick, ex-número 1 do mundo, disse que o espanhol "joga sobre rodas". Seu espírito aguerrido levou o compatriota Feliciano López a classificá-lo como um "pitbull". “Ele te leva ao limite”, elogiou Rafael Nadal.

A dedicação, entretanto, nem sempre acompanhou Ferrer em sua trajetória no esporte. Aos 17 anos, a falta de empenho nos treinamentos irritou Javi Piles, seu ex-treinador, que trancou o pupilo no quarto onde guardava bolas e equipamentos da academia. As inúmeras ligações para que os amigos o tirassem do confinamento não surtiram efeito, já que técnico repetia que o jovem só sairia dali caso se aplicasse em quadra dali em diante.

A punição não gerou o resultado que Piles desejava. Sem os resultados esperados e cansado da rotina de atleta, Ferrer decidiu abandonar o tênis. Longe das quadras, ouviu de seu pai, Jaime, que teria que começar a trabalhar.

A possibilidade de ganhar o próprio dinheiro e ter os finais de semana livres animou o rapaz, que aceitou o convite de um amigo da família para trabalhar como pedreiro em uma obra.

O esforço que não mostrava no tênis agora teria que ser feito para transportar tijolos e sacos de cimento. Não demorou para que sentisse saudades da raquete e das bolinhas.

"Chegando no sábado, ele não tinha forças nem para dar uma volta com seus amigos", lembra David Andrés Paramio, preparador físico que o acompanhou desde o início da carreira.

De volta às quadras, Ferrer teve uma evolução lenta e progressiva no circuito profissional. O primeiro passo para se aproximar do primeiro escalão do tênis foi controlar os nervos e deixar de descontar a raiva nas raquetes.

"Antes era diferente porque eu tinha complexos comigo mesmo. Demorei para aceitar como eu realmente era, qual era o meu limite, até onde eu poderia chegar. Agora tenho mais confiança porque me conheço muito mais. Na quadra, sigo sendo expressivo. Sempre tive um espírito lutador. Sempre gostei de competir. Amo o tênis, mas, quando você tem complexos na sua vida pessoal, isso afeta o lado profissional", contou ao jornal El País em 2013.

Parte da aceitação diz respeito ao seu porte físico. Tenista mais baixo entre os 50 primeiros colocados do ranking – tem 1,75m, dez centímetros a menos que Federer e Nadal, por exemplo –, Ferrer aprimorou sua resistência física com uma mescla entre exercícios tradicionais – treinamentos com bicicleta, academia e nas quadras – com o uso esporádico de técnicas desenvolvidas pela marinha norte-americana.

"Eu meço 1,75m. Não quero medir 1,80m nem jogar como Roger Federer, porque não sou Roger Federer. Sou David Ferrer e tenho que me adaptar às minhas condições para aproveitá-las ao máximo. A partir do momento que me aceitei como sou, pude evoluir", analisa.

Em 2013, ele alcançou a terceira posição no ranking, sua melhor colocação até hoje. Desistir do trabalho como pedreiro também fez bem à sua conta bancária. Dono de 26 títulos no circuito, ele já faturou 28 milhões de dólares na carreira – sem contar os contratos publicitários.

"Você tem que cometer erros para aprender. Para saber como ganhar, deve primeiro saber como perder. A vida nos dá lições. Temos de aprender com elas", diz o operário do tênis.