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Símbolo da resistência na 2ª Guerra dá nome à nova quadra de Roland Garros

Simonne Mathieu (esq.) e Marie Luise Horn na semifinal de Roland Garros de 1936, em Roland Garros - Gamma-Keystone via Getty Images
Simonne Mathieu (esq.) e Marie Luise Horn na semifinal de Roland Garros de 1936, em Roland Garros Imagem: Gamma-Keystone via Getty Images

Rubens Lisboa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/05/2019 04h00

Uma campeã de Roland Garros dar nome a uma das quadras do torneio não é novidade. Suzanne Lenglen, a maior vencedora entre as francesas já tem essa honra há alguns anos. Mas a história por trás do nome da mais nova quadra do complexo parisiense envolve resistência e luta contra forças italianas e alemãs na Segunda Guerra Mundial.

O torneio deste ano já terá entre suas principais novidades a estreia da quadra Simonne-Mathieu, uma guerreira no sentido literal da palavra. Com um visual completamente diferente do habitual em torneios de tênis, a quadra Simonne-Mathieu é rodeada por quatro estufas com vidros transparentes que abrigam coleções de plantas da África, América do Sul, Ásia e Oceania, e arquibancadas com 5 mil lugares.

Simonne, cujo nome de solteira era Passemard, marcou seu nome na história do torneio ao vencer seis títulos de duplas e dois de duplas mistas, além de ficar com o segundo lugar em seis finais nos 13 anos que competiu na fase internacional do torneio. Três delas para a alemã Hilde Krahwinkel Sperling, antes de, enfim, erguer o troféu de simples em Roland Garros nos anos de 1938 e 1939.

Em 1938, conquistou o que poucos tenistas na história conseguiram em Roland Garros: vencer os três títulos que disputou nas chaves de simples, duplas femininas, ao lado da britânica Billie Yorke, e duplas mistas, atuando com o parceiro iugoslavo Dragutin Mitic.

O jogo do bicampeonato diante da polonesa Jadwiga Jedrzejowska seria também o último da francesa na carreira pelo torneio mais importante em seu país. Em setembro daquele ano teria início a Segunda Guerra Mundial e, com isso, um hiato de seis anos do torneio internacional de Roland Garros.

Em junho de 1940, as forças alemãs e italianas invadiram a França e ocuparam Paris. Simonne estava competindo nos Estados Unidos quando soube do início do conflito e decidiu retornar à Europa e se encontrar com o General Charles de Gaulle, em Londres, para oferecer seus serviços às Forças Francesas Livres (FFL).

A bicampeã de Roland Garros criou e liderou o Corpo Feminino de Voluntárias Francesas (AFAT), atuando também no alistamento de cem mulheres francesas que viviam em Londres. Elas passaram por treinamento militar e seleção de acordo com as aptidões, e foram voluntárias em diversas posições como agentes secretas, enfermeiras, cozinheiras, mecânicas e motoristas, entre outras, para ajudar a libertar o território francês.

A batalha durou quase quatro anos, com a tenista distante do marido René Mathieu e dos filhos durante o período, até a vitória que foi celebrada com um desfile na Champs Elysées em agosto de 1944. No mês seguinte, Simonne foi convidada a arbitrar uma partida de tênis que foi promovida como o "jogo da libertação" em Roland Garros, e atuou com o uniforme das Forças Francesas Livres.

Ao fim da Segunda Guerra, ela já estava com 36 anos, no posto de capitã da FFL e jamais voltaria a disputar uma competição oficial de tênis.

Após sua morte em 1980, Simonne deu nome ao troféu de duplas femininas de Roland Garros como Coupe Simone Mathieu (com apenas uma letra n) em 1990 e entrou no Hall da Fama Internacional do Tênis nos Estados Unidos em 2006.

Visão geral da nova quadra de tênis Simonne-Mathieu, projeto do arquiteto Marc Mimram, no estádio de Roland Garros em Paris - Charles Platiau/Reuters - Charles Platiau/Reuters
Visão geral da nova quadra de tênis Simonne-Mathieu, projeto do arquiteto Marc Mimram, no estádio de Roland Garros em Paris
Imagem: Charles Platiau/Reuters

Agora, a Federação Francesa a homenageia com a arena mais moderna do completo de Roland Garros. A cerimônia de apresentação do espaço ocorreu no dia 21 de março e contou com a presença de Bertrand Mathieu e Geoffroy Mathieu, respectivamente neto e bisneto da ex-tenista e heroína francesa, que estiveram ao lado da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy. A partir do dia 20 de maio, a história de Simonne Mathieu passará a ser recontada pelo tênis.