Herói de guerra e amigo de Santos Dumont. Descubra quem foi Roland Garros
É de se esperar que a pessoa homenageada como nome de um torneio de fama mundial tenha feitos expressivos. Roland Garros é tudo isto. Mas nada ligado ao tênis.
Eugène Adrien Roland Georges Garros foi pioneiro na aviação francesa, amigo de Santos Dumont, herói da 1ª Guerra Mundial e fugitivo de campo de prisioneiro alemão. Também tem fama na aviação nacional e foi um dos responsáveis por ajudar a introduzir o transporte aéreo no Brasil.
Entre os feitos de Roland Garros não há nenhum troféu no tênis que sugira dar nome a um dos quatro Grand Slams do circuito mundial. Mas falando de aviação, as conquistas são muitas e até o Brasil entra na lista. Ele foi o primeiro homem a cruzar a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. O voo ocorreu em 1912 e o aviador tirou fotos dos cartões postais da cidade.
O piloto chegou ao país no ano anterior e integrava o time de uma companhia de aviação com sede em Nova York. Roland Garros também se tornaria o primeiro piloto a fazer o trajeto São Paulo-Santos-São Paulo. Na época, o governo do Estado oferecia um prêmio de 30 mil réis ao autor da façanha. Ele executou o voo na companhia do brasileiro Eduardo Pacheco Chaves.
O aviador sempre se destacava nos shows aéreos pela coragem e criatividade. Rapidamente ficou famoso América do Sul e retornou para Europa em busca de mais desafios. Ele foi o primeiro piloto a sobrevoar o vulcão Vesúvio, feito que rendeu aclamação em Roma.
Em 23 de setembro de 1913, Roland Garros decolou de Saint-Raphaël, na Riviera Francesa, e aterrissou em Bizerte, na Tunísia. Desta maneira, tornou-se o primeiro piloto a atravessar o Mediterrâneo sem escala. Sobraram somente cinco litros de combustível no tanque.
A cada aventura executada sua notoriedade crescia. Além de páginas nos jornais, a paixão pela aviação permitiu contato com pessoas ilustres.
Amizade com Santos Dumont
A primeira aeronave de Roland Garros foi um dos Demoiselle, adquirido em 1909. Não se tratava de um avião, mas do primeiro ultraleve da história e que fora construído pelo brasileiro Santos Dumont. A escolha ocorreu porque um avião não saia por menos de 30 mil - o Demoiselle custou sete mil francos.
O negócio aproximou os dois aviadores, que se tornaram amigos. O assunto mais comum entre eles era pilotagem e antes mesmo de Roland Garros obter sua licença de piloto, ambos já falavam sobre voos. Paris se tornava sede de uma amizade improvável entre um brasileiro e uma pessoa com origem em um território francês ultramar.
Roland Garros nasceu em 6 de outubro de 1888, na cidade de Saint-Denis. Ela fica na pequena Ilha da Reunião, localizada próximo a Madagascar. O aviador mudou para Paris e se formou em um renomada escola de estudos comerciais com 21 anos. Abriu uma concessionária de carros perto do Arco do Triunfo, mas a vida mudou em 1909, quando um amigo convidou para um show aéreo.
Herói de guerra
A fama adquirida em cinco anos de aventuras permitiu a Roland Garros não precisar se engajar nas forças que iam combater a Alemanha na 1ª Guerra Mundial. Mas o aviador fez questão de participar porque estava certo de que as batalhas aéreas seriam decisivas na definição do vencedor do combate. Participou de missões de reconhecimento e bombardeios.
Com base em pesquisas do engenheiro francês Raymond Saulier, Roland Garros ajudou a criar um sistema revolucionário. Ele sincronizava a metralhadora e a hélice do avião e permitia atirar sem acertar nas pás.
No começo de abril de 1915, o dispositivo foi colocado a prova no campo de batalha e o piloto venceu batalhas contra aeronaves alemãs. O desempenho rendeu a comenda por bravura. No total, foram confirmadas quatro vitórias ao Roland Garros.
A trajetória foi interrompida em 18 de abril, quando avarias obrigaram a uma aterrissagem forçada no território dominado pelos inimigos. Ele foi hábil para evitar um acidente. Na sequência, tentou por fogo no avião para impedir que o sistema de sincronismo da metralhadora com as hélices fosse estudado. Não conseguiu.
Fuga do campo de prisão alemão
Os alemães levaram Roland Garros para cadeia e apreenderam o avião. O sistema revolucionário foi estudado por Anthony Fokker. O fundador da empresa que décadas mais tarde produziria o Fokker 100 e tantos outros modelos já estudava a sincronização entre metralhadora e hélice. A partir da aeronave apreendida, Fokker finalizou seus trabalhos e colocou os alemães em pé de igualdade com seus rivais franceses.
Roland Garros viveu as privações de ser prisioneiro de guerra por quase três anos. Em fevereiro de 1918, ele se valeu da capacidade do também piloto francês e companheiro de prisão Anselme Marchal em falar alemão sem sotaque. A dupla fugiu se passado por oficiais alemães. Os uniformes que vestiam foram confeccionados em segredo.
Eles dormiram em cemitérios, se esconderam durante o dia em cinemas, se misturaram em meio à multidão até que finalmente atravessaram a Alemanha, Holanda e chegaram ao território seguro de Londres. Como a Inglaterra era aliada da França, fizeram uma travessia segura do Canal da Mancha em direção a Paris.
Roland Garros voltou aos combates e decolou em 5 de outubro, véspera de seu aniversário de 30 anos, para a missão derradeira nas Ardenas, França. O aviador voava em formação com outros 5 pilotos franceses e quadro se desgarraram na perseguição a um inimigo.
Um esquadrão de seis Fokker alemães apareceu e a aeronave de Roland Garros foi vista mergulhando em direção ao solo em seguida.Os jornais franceses especularam durante dias que o piloto célebre estaria vivo e feito prisioneiro outra vez. As esperanças acabaram quando o corpo e os destroços do avião foram encontrados perto da vila de Vouziers, onde o aviador foi enterrado.
Tenistas desconhecem história
Mas quase ninguém sabe desta história, incluindo jogadores. Eles foram perguntados sobre a origem do nome do torneio. Nenhum sabia explicar. O único que acertou foi o argentino Juan Martin Del Potro. Mas logo ele admitiu que houve uma espécie de cola. Como viu outros serem perguntados, deu um Google para saber a resposta.
O buscador explicou a Del Potro que em 1927 a França venceu os Estados Unidos pela primeira vez na Copa Davis. Os jogadores ficaram conhecidos como mosqueteiros e se tornaram orgulho nacional. O país também se viu na obrigação de construir um estádio no ano seguinte para a competição.
Escolheram um terreno numa área afastada de Paris. Emile Lesieur bancou a obra da nova quadra de tênis. O financiador era jogador de rúgbi e amigo de Roland Garros. A dupla estudou junta e combateu junta na 1ª Guerra Mundial. A única exigência foi o local ser uma homenagem póstuma a outro herói nacional: Roland Garros.
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