Polícia investiga se tenista n° 2 do Brasil saiu da quarentena com covid-19
A Polícia Civil do Paraná abriu inquérito hoje para investigar o tenista Thiago Wild. O atleta, que é número 2 do esporte no Brasil e 114º no mundo, teria descumprido a quarentena enquanto aguardava o resultado de um exame para coronavírus. O teste acabou dando positivo para a doença covid-19.
Segundo a Polícia Civil, o tenista mora no Rio de Janeiro, onde teria realizado o exame, e foi para a casa da família no dia 17 de março, em Marechal Cândido Rondon (PR), a 581 km de Curitiba, antes de receber o laudo. Procurado pelo UOL, o tenista afirmou, em nota oficial, que é inocente, diz ser alvo de "pessoas desocupadas" e afirma que vai processar os responsáveis. Ele alega que manteve os cuidados assim que teve os primeiros sintomas.
A investigação começou após Wild publicar, anteontem, um vídeo em suas redes sociais relatando ter contraído o novo coronavírus. Desde então, a Polícia Civil passou a receber denúncias sobre eventual descumprimento da quarentena - além do isolamento social, o Ministério da Saúde recomenda que qualquer pessoa com sintomas de covid-19 não saia de casa. O atleta teria sido visto circulando em espaços públicos da cidade enquanto aguardava o resultado do exame, apontam os registros.
Segundo o delegado Rodrigo Baptista Santos, que investiga o atleta, moradores de Marechal Cândido Rondon viram Wild praticando exercícios na rua e em uma academia de tênis, e o notaram em um cartório da cidade. De acordo com a Polícia, as pessoas que tiveram contato com ele nestes lugares procuraram se isolar por conta própria.
O tenista só deverá ser ouvido no inquérito quando estiver recuperado da doença. Além de depoimentos, a investigação ainda deverá requisitar imagens de câmeras de segurança que eventualmente possam ter gravado o jovem. O inquérito tem prazo de 30 dias para ser concluído.
"Abrimos o procedimento para apurar se, de fato, ele teria saído da quarentena enquanto aguardava o resultado. No vídeo nas redes sociais, ele diz que apresentou os sintomas e que ficaria em quarentena a partir disso, mas ele deve ter recebido orientação no Rio de Janeiro", confirmou o delegado.
Marechal Cândido Rondon ainda não registra casos de covid-19. Ao todo, o estado tem 106 casos confirmados, mostra o balanço divulgado na tarde de hoje. O município só entra na contagem se o infectado for residente do lugar, segundo o governo do Paraná. Este não é o caso do atleta, que mora no Rio de Janeiro.
A Polícia Civil informou que Thiago Wild é investigado com base no artigo 268 do Código Penal: infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa. A pena é de detenção de um mês a um ano, e multa. O tenista não tem antecedentes criminais.
Tenista se defende de acusações
Em contato com o UOL, o atleta enviou nota em que alega ser "alvo de mentiras". "Gerou proporções muito maiores de pessoas desocupadas, que sequer tinham qualquer conhecimento da realidade, que divulgaram inúmeros áudios no WhatsApp e em redes sociais", explicou.
Ele alega que vem adotando as precauções dadas pelas autoridades públicas no cuidado com a saúde. "Pretendi demonstrar que, o meu dia a dia, é como de qualquer outra pessoa em uma situação em quarentena, tomando os devidos cuidados e não expondo ninguém ao risco, diferentemente do que entenderam", apontou, citando um vídeo que foi divulgado nas redes sociais.
Veja abaixo a nota na íntegra
Eu, Thiago Seyboth Wild, venho através da presente nota, esclarecer alguns fatos que se tornaram alvo de mentiras, o que gerou proporções muito maiores de pessoas desocupadas, que sequer tinham qualquer conhecimento da realidade, que divulgaram inúmeros áudios no WhatsApp e em redes sociais.
Primeiramente, quando no primeiro vídeo que postei sobre a minha situação, ao me referir que tenho levado uma "vida normal", pretendi demonstrar que, o meu dia a dia, é como de qualquer outra pessoa em uma situação em quarentena, tomando os devidos cuidados e não expondo ninguém ao risco, diferentemente do que entenderam.
A minha vida, como atleta, tem rotinas diárias de treinamentos, resumindo-se a: acordar, me alimentar, treinar e voltar a me alimentar e novamente a treinar até o momento de repousar e iniciar tudo outra vez no dia seguinte, fato este que para mim, é uma situação normal e que apenas tem interrupções mediante torneios e férias.
Assim, quando apresentei o menor sintoma que pudesse caracterizar contágio por COVID-19, prontamente me isolei em casa e aguardei orientações médicas, isto ainda no Rio de Janeiro, dia 15/03/2020.
No dia 17/03/2020, não mais tendo a febrícula que havia apresentado (37,5°, quando o normal é entre 36,5 a 37°), em decisão conjunta com meu treinador e o médico particular que me atende no Rio de Janeiro, optei por me tratar juntamente a meus familiares, SEMPRE TOMANDO TODOS OS CUIDADOS NECESSÁRIOS.
Estando em minha cidade natal, não tive contato com qualquer outra pessoa, apenas necessitei ir ao cartório, onde foram tomados todos os cuidados necessários, tais como, utilização de álcool em gel e NENHUM CONTATO FÍSICO COM QUALQUER PESSOA.
Minhas rotinas do dia a dia passaram então a ser de alguém que possui uma vida normal no seu dia a dia de estar em casa (sem treinos), porquanto pessoas que desconhecem a realidade, não sabem o quanto é difícil o cotidiano de um atleta de alto rendimento.
Os treinos físicos e a corrida diária de 15 minutos na rua não são proibidos quando tomados os devidos cuidados e, até mesmo indicados, para que a saúde mental esteja em condições de fazer com que possa ser suportada a situação. EM NENHUM DESTES TREINOS TIVE CONTATO COM OUTRAS PESSOAS.
AINDA, O TREINO DE QUADRA SEMPRE FOI REALIZADO DE FORMA ISOLADA, NÃO HAVENDO CONTATO COM QUALQUER OUTRA PESSOA.
Desta forma, NADA DAQUILO TUDO QUE FOI DITO POR CERTAS PESSOAS OPORTUNISTAS DE PLANTÃO EXPRESSA A REALIDADE. JAMAIS FIZ QUALQUER FESTA OU ESTIVE EM FARMÁCIA CONFORME DIVULGADO EM ÁUDIO FAKE. ASSIM TAMBÉM, É FALSA A AFIRMAÇÃO DE QUE ESTIVE ABRAÇANDO PESSOAS NA RUA OU NO REFERIDO ESTABELECIMENTO ANTERIOMENTE MENCIONADO, POIS, TENHO FEITO TODAS AS NORMAS DE CONDUTA DETERMINADAS.
Após o diagnóstico do exame, o qual ainda necessita de contraprova, mantive total isolamento, inclusive mantendo alimentação em pratos/talheres que não são misturados com os demais, coisa que já fazia antes do resultado e continuarei fazendo, por precaução e cuidado.
Ainda sim, conforme divulgou a Secretária de Saúde de Marechal Candido Rondon, Marciane Specht, PARA SER OBRIGATÓRIO O ISOLAMENTO, são precisos a partir de dois sintomas do Covid-19 como febre e um sintoma respiratório, o que não foi o meu caso.
As falácias contadas trouxeram aborrecimentos e humilhação para mim e minha família, por todas as mentiras inventadas e que jamais serão desfeitas, pois, pessoas que sequer me conhecem aumentam os comentários fakes, mas que ocorrem somente nesta cidade e não em âmbito nacional, onde ao invés de ser atacado, tenho recebido inúmeras mensagens de apoio, inclusive de pessoas que também não conheço, mas são mais esclarecidas do que estas pessoas que cuidam mais da vida alheia do que da própria.
Por fim, venho esclarecer que aqueles que divulgaram mentiras e áudios fakes, serão responsabilizados por suas atitudes perante a justiça.
Em vídeo, atleta orientou quarentena
No vídeo publicado em suas redes sociais anteontem, Thiago confirmou a testagem positiva para covid-19 e alertou para a população ficar em casa. Ele ainda relatou que teve febre e gripe antes do diagnóstico.
"Acabei contraindo covid-19. Meu resultado saiu hoje. Há dez dias, tive febre e fiquei um pouco gripado. Daqui a pouco, o período de incubação da doença vai passar. Vou ficar bem. Já venho me sentindo bem nos últimos dias, mas estou passando aqui para alertar todo mundo que tem que ficar em casa e tomar cuidado com isso, porque é uma doença séria", disse.
Thiago Wild conquistou o ATP de Santiago, em 1º de março, e depois seguiu para a Austrália, onde disputou a Copa Davis, representando o Brasil. No retorno, passou por São Paulo e Rio de Janeiro antes de seguir para o Paraná.
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