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Ex-levantadora de peso empurra carro por sonho de ir aos Jogos de Inverno

<b>"Bananas Congeladas":</b> Fabiana Santos (d) e Daniela Ribeiro empurram o trenó, por uma vaga - Divulgação
<b>"Bananas Congeladas":</b> Fabiana Santos (d) e Daniela Ribeiro empurram o trenó, por uma vaga Imagem: Divulgação

Maurício Dehò

Em São Paulo

16/12/2009 07h00

Descer em velocidades de até 130 km/h em um trenó, sobre uma lisa camada de gelo é a paixão da brasileira Fabiana Santos. E o sonho máximo da paulista é conseguir a vaga para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2010, que serão realizados em Vancouver, já que teve de abdicar da chance de competir em Turim, há quase quatro anos. Para isso, empurra até carro para ajudar em sua preparação para pilotar no bobsled.

Sem neve para treinar no seu país, Fabiana faz o possível para se preparar, mesmo não tendo as condições das principais adversárias. Assistir a inúmeros vídeos, manter sempre a forma física e treinar tiros de velocidade estão na rotina. Mas, um elemento em especial é que faz de seus treinamentos curiosos.

“Eu empurro o carro do meu pai”, conta ela, durante um intervalo entre competições na América do Norte. “Improviso bastante. Ele tem uma Caravan para se ter uma ideia (carro dos anos 70). Como não tenho um local certo para me preparar, usamos o carro para os treinos de tração. Ele vai dentro do carro e eu empurrando atrás.”

Fabiana salienta que, mesmo em tamanha desvantagem, a força de vontade é que a deixa superar a falta de condições. A paulista de Santo André é uma amante dos esportes e foi ao Pan do Rio como levantadora de peso. Filha de capoeiristas, começou na ginástica artística e ainda na adolescência foi parar no atletismo.

Foi nesta época que recebeu um convite inusitado e acabou sendo mandada para o Canadá. O desafio era justamente o de descer pelas pistas geladas do bobsled, já que a seleção precisava de voluntárias para o desafio.

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  • Arquivo pessoal

    Fabiana Santos (e) e Daniela Ribeiro formam a dupla brasileira

    Não é só Fabiana que veio de outros esportes. Atletas de outras modalidades são comuns nos esportes de inverno - Claudinei Quirino, velocista e medalhista olímpico, competiu no bobsled em 2006. A parceira da paulista desta vez é Daniela Ribeiro, mais uma que vem das pistas de atletismo.

    As duas se conhecem há sete anos e Fabiana recomendou a Daniela que tentasse a sorte no gelo. “Fomos da mesma equipe e agora estamos juntas tentando esta vaga. Ela veio em outubro, agora, pela primeira vez, mas não teve dificuldades de se adaptar”, disse Fabiana. Se for ao Canadá, Daniela terá passado por apenas 3 meses de preparação no gelo.

“Eu não tive muita dificuldade para me adaptar, pela vivência em outras modalidades, como o lançamento do martelo”, afirma a paulista de Santo André, que se deu bem na modalidade pela combinação de força e velocidade – duas características fundamentais principalmente na largada, empurrando o trenó. “Apaixonei-me de cara pelo bobsled, apesar do frio e de ter muita gente achar loucura.”

Com o objetivo de chegar ao Jogos de Turim, em 2006, ela deixou a posição de break (o bobsled feminino tem apenas duas participantes) e fez um curso para ser piloto, posição que ocupa hoje em dia. No entanto, a falta de condições para se manter no esporte a deixou fora das Olimpíadas. “Eu não podia ir e, na volta, não ter como comer e onde morar. Hoje já consigo me manter do esporte”, explica ela, ganhadora de edição de 2003 do Prêmio Brasil Olímpico em desportos no gelo.

Retorno

Sem querer largar de vez o bobsled, Fabiana acabou indo parar em um esporte com algumas semelhanças, pelo uso da força, o levantamento de peso. Mais uma vez ela se deu bem e conseguiu sua vaga para o Pan-Americano do Rio, em 2007, quando foi quinta colocada no peso até 69 kg.

Como prometido, o retorno veio. Fabiana voltou apenas em 2009 para o bobsled. Pouco tempo para se preparar para competir em Vancouver. Mas o suficiente para mostrar que tem condições de conseguir a vaga. A brasileira, ao lado da parceira Daniela Ribeiro já ganhou um ouro, o primeiro da história do bobsled feminino brasileiro, com a vitória em eliminatório para os Jogos, em Park City, Utah (EUA). Dez dias depois, foi bronze na Copa América, em Calgary (CAN).

“Estou muito motivada. Estes resultados nos deram ânimo, não esperávamos um ouro, com apenas três meses treinando aqui. Foi uma emoção 100% nova, no dia da premiação foi engraçado porque eles não encontravam a bandeira do Brasil. Mas, quando acharam, tocaram o hino inteirinho”, conta, entre risos, lembrando as dificuldades em relação às duplas estrangeiras.

“Só podemos treinar a parte de descida na temporada mesmo. Pilotei no começo do ano, em março, e agora. Mas este ano é a primeira vez que conseguimos realmente ter uma preparação”, diz a atleta, esperançosa no aguardo até janeiro, para saber se terá a vaga da dupla para as Olimpíadas no Canadá – a competição será realizada em fevereiro.

Fabiana e Daniela atualmente ocupam a 33ª colocação no ranking do bobsled feminino e, neste momento, estariam entre as 40 classificadas para os Jogos.