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Olímpicos suportam rigor de quartéis e tiram dread e barba por Jogos Militares

Roberta Nomura

Em São Paulo

07/06/2011 12h37

A imagem deles está associada a barbas, cavanhaques e até dreads. Mas o visual despojado não combina com o rigor militar. E é justamente por esse motivo que atletas como Diogo Silva (taekwondo), Jadel Gregório (salto triplo), Anderson e Renato (ambos do vôlei) deixaram vaidade e preguiça de lado. Integrantes das Forças Armadas do Brasil, eles se submetem ao ‘sacrifício’ de fazer a barba diariamente para atender às exigências da corporação. Tudo para defender o país nos Jogos Mundiais Militares, que serão disputados de 16 a 24 de julho no Rio de Janeiro.

  • Diogo Silva abandonou o dread. Em treino em fevereiro, ainda mantinha barba por fazer e bigode

SE O BRASIL ENTRAR EM GUERRA, ATLETAS VÃO PARA COMBATE? ELES RESPONDEM

  • Arquivo pessoal

    Um cenário improvável: o Brasil entra em guerra e precisa de efetivo para o combate. Os atletas que passaram a integrar as Forças Armadas iriam para a linha de frente? O quadro é distante, mas a dúvida pairou em alguns cursos para formação. "Perguntaram mesmo. A resposta é que não somos preparados para isso de fato. Primeiro vai o pessoal da ativa. Mas nós estamos na frente de reservistas. Deus queira que nunca aconteça", pediu Renato (foto), ponteiro da seleção de vôlei, que se formou na última turma, agora em março.

    Diogo Silva está há dois anos na Marinha, mas não se preocupou com o assunto antes de entrar na corporação. "No momento em que entramos, somos soldados da reserva e não da ativa. Como somos da reserva, já tem essa defesa. Se acontecer, não somos mandados. Eu não tive essa curiosidade. É uma coisa muito improvável pela política pacífica do Brasil", falou.

Diogo Silva foi quem mais sofreu com a mudança no visual. O lutador de taekwondo ficou nacionalmente conhecido nos Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 ao conquistar a primeira medalha de ouro do país na competição. Subiu ao pódio de dread e cavanhaque. Mas desde que entrou para a Marinha, há pouco mais de dois anos, abandonou as longas madeixas e até perdeu a identidade.

“Reconstruir minha imagem está sendo um processo difícil. Tem muita gente que não me reconhece mais. Os Jogos Mundiais Militares podem me ajudar a voltar a ter aquele reconhecimento de antes porque é no Rio também”, disse Diogo Silva ao UOL Esporte. Deixar o consagrado estilo para trás foi até mais doloroso do que passar pelo treinamento para entrar na Marinha.

Para fazer parte das Forças Armadas, Diogo Silva manteve rotina de acordar 5h para frequentar o curso. A atividade militar terminava por volta das 18h para, então, fazer os treinamentos como atleta. Um terceiro expediente incluía aulas de fisiologia, anatomia... “O período foi cansativo e o dia só terminava às 22h, mas eram só algumas semanas. O visual não. Eu estava há oito anos sem cortar o cabelo. Os primeiros meses foram de grande choque. Não conseguia me olhar no espelho. Fui me adaptando aos poucos. Não tinha o hábito de cortar o cabelo e fazer a barba”, contou.

O bigode é permitido, mas a barba tem que ser feita todos os dias. E o cabelo com o corte bem curto. Brincos e piercings também estão vetados. Essas são as principais exigências das Forças Armadas, das quais Jadel Gregório também respeita. No Exército, por exemplo, a rotina ainda inclui hinos, bater continência e outras obrigações. Mas para quem passou por atividades de campo na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), em Resende (RJ), cuidar do visual é simples. Para virar sargentos, Anderson e Renato fizeram marcha de 8km, prática de tiro, entre outras tarefas.

CAMPEÃO OLÍMPICO, ANDERSON VOLTA AO EXÉRCITO E DEIXA BARBA DE LADO

Anderson foi campeão olímpico com a seleção brasileira de vôlei em Atenas-2004. Agora, defenderá o país nos Jogos Mundiais Militares. O oposto revela que sempre sonhou em voltar para o Exército - quando tinha 18 anos passou dois meses na corporação - e diz ter gostado do curso. Na aula de tiro acertou três das cinco tentativas possíveis. O desafio agora, é fazer a barba todos os dias. "Se você não faz um dia, eles percebem e cobram. Não pode. O cabelo tem que estar bem cortado, a barba feita, as unhas cortadas e bem alinhado", contou.

RENATO, DO VÔLEI, E JADEL GREGÓRIO, TRIPILISTA, TAMBÉM MUDAM VISUAL

Renato é ponteiro da tetracampeã nacional Cimed, mas não teve grandes chances de defender a seleção brasileira. Agora, o jogador vê nos Jogos Mundiais Militares a oportunidade de defender o país. Para isso, teve que participar de treino de campo da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) e já adotou novo visual. "Já virou uma marca registrada e fazer barba todo dia não é fácil. Mas é tranquilo. Para defender o Brasil, vale a pena", disse. Quando se alistou no Exército pela 1ª vez, foi dispensado por excesso de contingente. "Foi engraçado. Passei no exame médico, mas me perguntaram quanto eu calçava. Quando eu disse 46, me falaram: 'está dispensado, vai ser difícil achar coturno para você. Para mim na época foi bom, porque eu já estava em um time de vôlei profissional".Jadel Gregório é campeão pan-americano, vice-mundial e recordista sul-americano no salto triplo. Mas quando ele pede as habituais palmas para o público para acompanhar seu salto, o triplista é visto normalmente de cavanhaque. O público carioca que acompanhar os Jogos Mundiais Militares, no entanto, terá que se acostumar com novo estilo. "Eu sou marinheiro, tenho que tirar o cavanhaque, tenho que estar na linha. Mas é um prazer representar a Marinha. Gostei muito do tempo em que fiquei lá, me trataram muito bem. Eu não vejo a hora de começar os jogos militares e poder subir no pódio", falou. O atleta se formou na Marinha em janeiro deste ano. Na ocasião, era um dos mais emocionados. Principal nome do país na prova, ele até chorou ao ser incorporado.