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"Djalminha teria dificuldades em jogar aqui", diz astro brasileiro do "showbol" dos EUA

Jogadores do Milwakee Wave comemoram título da liga de futebol indoor dos EUA - Divulgação
Jogadores do Milwakee Wave comemoram título da liga de futebol indoor dos EUA Imagem: Divulgação

Ricardo Espina

Em São Paulo

16/06/2011 07h02

Os jogadores brasileiros descobriram há algum tempo um novo “eldorado”: os Estados Unidos. Só que eles preferiram seguir um rumo diferente ao traçado por astros como David Beckham e Thierry Henry, destaques da Major League Soccer. Eles brilham na Major Indoor Soccer League (MISL), a liga de futebol indoor local. A modalidade se assemelha ao showbol, mas as comparações não vão muito além.

  • Divulgação

    Sagu foi eleito duas vezes o melhor goleiro da temporada e se tornou um dos destaques da MISL

Sagu se tornou um exemplo de atleta brasileiro que ganhou a condição de estrela do futebol indoor. O goleiro começou nos gramados e passou por Corinthians, São Paulo, clubes do interior paulista e de Mato Grosso. Ele “migrou” para o soçaite (“nem sempre o mês tinha 30 dias nos clubes”, justificou) e sua carreira logo decolou.

“Eu fazia parte da seleção paulista de soçaite. A equipe foi para os Estados Unidos para disputar uma série de amistosos. Em 1999, surgiu o convite para jogar aqui e eu aceitei”, contou o atleta, em entrevista por telefone ao UOL Esporte. Hoje, Sagu atua pelo Baltimore Blast e coleciona prêmios.

A versão atual da MISL teve início em 2008 e foi disputada por cinco clubes. O Baltimore Blast ficou com a taça, e viu Sagu ser eleito o melhor goleiro da competição. Na temporada seguinte, o título ficou com o Monterrey La Raza. O time do ano contou com a presença de um brasileiro: Adauto Neto, do Philadelphia KiXX. Na última edição do torneio, cada uma das cinco equipes teve pelo menos um brasileiro em seus elencos.

PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE SHOWBOL E FUTEBOL INDOOR

SHOWBOL FUTEBOL INDOOR
Comprimento: 42 m (mínimo) a 44m (máximo)
Largura: 22 m (mínimo) a 24 m (máximo)
TAMANHO DA QUADRAAproximadamente 61 m x 25,5 m
Como no futebolCONTAGEM DE GOLSComo no basquete (2 ou 3 pontos de acordo com a região do chute)
UmÁRBITROSDois

O sucesso dos brasileiros no futebol indoor tem explicações. “Conseguimos nos adaptar bem aqui e precisamos de pouco tempo para isso. Onde há futebol, o brasileiro se dá bem em qualquer parte. Os jogadores dos EUA não têm a mesma técnica e tática do que nós. Eles nos admiram muito e nos dão grande valor por isso”, afirmou Sagu.

Isso significa que basta um brasileiro chegar à MISL para se transformar em ídolo? Para Sagu, não é bem assim. Algumas peculiaridades do futebol indoor podem atrapalhar este processo. Nem mesmo craques consagrados teriam a garantia de repetir o sucesso. A comparação imediata é com o showbol.

Sagu, de 38 anos, fala sobre estas diferenças. “O futebol indoor parece fácil, mas não é exatamente assim. Os jogadores dos EUA compensam a técnica menos apurada com a força física. Muitos atletas começaram na modalidade, ao contrário dos jogadores do showbol, que tiveram grande sucesso no campo e carregam toda a habilidade e experiência dos gramados”, explica.

FENÔMENO EM QUADRA?

  • Flávio Florido/UOL

    A seleção brasileira de showbol pode ganhar um importante reforço para a disputa do Mundialito da categoria, que será realizado no segundo semestre no Brasil. Ronaldo pode defender a equipe e ajudá-la a conquistar o segundo título da competição – os brasileiros conquistaram a primeira edição, realizada em 2006. Ricardo Rocha, um dos organizadores dos torneios da modalidade no país, mostrou-se confiante quanto ao “sim” do Fenômeno.

Outro fator também marca esta comparação: a idade dos atletas. “No futebol indoor, temos muitos jogadores jovens. O showbol já conta com mais veteranos e tem uma quadra menor. Aqui, ela é quase a metade de um campo de futebol. Há 15 jogadores no banco de reservas e as substituições são constantes. Um jogador fica cerca de um minuto e meio na quadra e já há uma troca. O brasileiro não gosta de ser substituído e, por isso, estranha”, diz o goleiro.

Com tantos aspectos distintos entre as duas modalidades, Sagu acha que o principal destaque do showbol teria problemas se fosse atuar nos EUA. “Se o Djalminha vier para cá, sentirá muitas dificuldades”, opinou, referindo-se ao jogador de 40 anos que brilhou por Guarani, Palmeiras e Deportivo La Coruña, entre outros clubes.

Na temporada mais recente da MISL, encerrada em março, o Milwaukee Wave, dos brasileiros Hewerton, Jonathan e Márcio Leite, foi o campeão. Embora o Baltimore Blast tenha sido derrotado na decisão, Sagu teve motivos para comemorar: mais uma vez, ele foi considerado o melhor goleiro da competição.

“Aqui eles veem os recordes e o conjunto da obra. Nos EUA, o goleiro é visto como um herói; já no Brasil, ele é o vilão. Esquecem completamente o que você fez nos jogos anteriores por uma falha”, comentou. Para ele, “os torcedores brasileiros precisam se educar um pouco mais”.

Para a temporada 2011-12, com início previsto para novembro, a MISL terá novidades. A competição ganhou a chancela da United Soccer Leagues (USL), que coordena diversas ligas amadoras e profissionais de futebol nos Estados Unidos, Canadá e Caribe. A entidade, ligada à Federação Norte-Americana de Futebol, deseja dar ainda mais visibilidade ao torneio.

Em seu primeiro ano, a MISL teve um número médio de 4.163 pessoas por confronto (3.760 em 2009/10 e 3.982 em 2010/11).  A última decisão foi acompanhada por 10.274 no ginásio. O Brasileirão, após suas primeiras 40 partidas, tem média de 8.306 torcedores por jogo – e cabe lembrar que um estádio tem capacidade bem maior do que uma arena de indoor soccer.

SAGU EXPLICA A VOADORA DADA EM UM ADVERSÁRIO DURANTE JOGO EM 2010

Sagu ficou marcado de forma negativa no ano passado por uma entrada violenta em um adversário do Monterrey La Raza. Ele explica o que aconteceu. “O Baltimore perdia, mas já estava classificado. A rivalidade com os mexicanos é grande, quase como um Brasil x Argentina. Ele tentou me dar um soco, catimbou e isso me deixou irritado. Fiquei de cabeça quente e fiz a falta. Foi uma das entradas mais duras do futebol indoor. Após a grande repercussão, tentei levar o que houve pelo lado positivo e tenho certeza que os dois aprenderam muito com isto”