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Especialistas criticam censura do COI a atletas e veem medida 'ridícula' e 'autoritária'

Alexandre Sinato

Em São Paulo

30/06/2011 11h01

Ridícula, abusiva e arbitrária. Assim especialistas ouvidos pelo UOL Esporte classificaram a cartilha criada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) sobre o uso de Twitter, blogs e outras mídias sociais durante os Jogos de 2012, em Londres. As medidas impostas pela entidade restringem a divulgação de informações sob a possibilidade até de expulsão dos esportistas que não as seguirem.

DIEGO HYPÓLITO DIZ QUE REGRAS EVITAM OFENSAS ENTRE ATLETAS NOS JOGOS

  • Reuters/Mike Blake

    Diego Hypolito mostrou postura contrária à dos especialistas. Para o ginasta que já disputou as Olimpíadas de 2008, em Pequim, os limites impostos pelo COI podem ser importantes para a rotina dos atletas.

    "Por ser uma competição tão grande, é importante cada atleta ficar dentro de uma 'bolha'. Quando chegar aos Jogos Olímpicos, talvez eu nem entre na internet. Uma pequena coisa pode influenciar no lado pessoal e atrapalhar o treinamento", analisou.

    "É bom ter algumas regras , são poucos dias de competição e todos têm seus objetivos lá. E não poder falar dos outros atletas pode evitar algumas ofensas", completou o ginasta. Outra restrição do COI é quanto a termos obscenos e ofensivos.

“É antipático, contraproducente e abusivo. A mídia social é um espaço de liberdade da pessoa. É claro que, vivendo em um estado de direito, todos devem seguir leis, mas não existe lei sobre isso. É uma violação da liberdade individual”, avaliou Augusto de Franco, netweaver da Escola de Redes, uma rede de pessoas dedicadas à investigação sobre mídias sociais.

Para Luiz Algarra, consultor para redes sociais, o fato de o COI impor regras em vez de proporcionar uma discussão vai contra o próprio espírito olímpico, além de destruir um dos fundamentos das mídias sociais.

“O problema é a decisão ter sido tomada de maneira autoritária, de cima para baixo. Isso vai contra o princípio das redes, que é justamente o espaço para que todas as vozes sejam ouvidas. A forma como essa decisão foi tomada é o mesmo modelo adotado pelos faraós há 3 mil anos. O comitê denegriu a própria imagem”, opinou Algarra.

Entre outras restrições, o COI proíbe comentários sobre outros atletas, publicação de informações que podem ser julgadas confidenciais e de textos com tons jornalísticos.  Fotos podem ser usadas, mas não distribuídas nem vendidas. E somente vídeos produzidos fora das áreas de competição são autorizados. Além disso, nenhum pode usar as mídias sociais comercialmente.

Um dos objetivos do COI é “proteger” seus patrocinadores, responsáveis por investimentos que sustentam a entidade. No entanto, de acordo com Erich Beting, blogueiro do UOL Esporte e especialista em negócios do esporte, as regras impostas pelo COI pouco interferem nos resultados de tais empresas.

“O COI querer meter o bedelho dentro das mídias sociais beira o ridículo, isso mostra que o COI não sabe lidar com elas e ainda não tem um modelo para usá-las. O Twitter é uma mídia do atleta, não do comitê. Isso não faz diferença para o patrocinador. Proibir a divulgação de imagens nas áreas de disputa dos Jogos faz sentido, mas a mídia social não é do COI”, argumentou Erich.