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"Mais forte do Brasil" toca piano para derrubar rótulo de brutamontes sem cérebro

Duas vezes "mais forte do Brasil", atleta Ricardo Nort mostra habilidade tocando piano - Arquivo pessoal
Duas vezes "mais forte do Brasil", atleta Ricardo Nort mostra habilidade tocando piano Imagem: Arquivo pessoal

Bruno Freitas

Em São Paulo

18/08/2011 07h00

Um título de um faroeste clássico da década de 50 dizia que os brutos também amam. Apesar disso, o tempo passa e esta imagem de um homem responsável por façanhas físicas segue inibindo o pensamento de um sujeito capaz de se expressar emocionalmente. Contra este estigma Ricardo Nort leva a sua carreira como levantador de peso uma bandeira que prega o contrário, através de gestos que visam demonstrar que o status de "mais forte do Brasil" pode conviver com um perfil intelectual.

Nort representou o Brasil na edição de 2010 do "The World’s Strongest Man" (O Homem mais Forte do Mundo) e mantém uma rotina de treinamento pesado, que o prepara para desafios como erguer troncos, levantar eixos de carroças e puxar veículos de grande porte. Mas, paralelamente, o atleta radicado em Florianópolis faz questão de se esforçar para expressar o seu lado menos rústico.

"Eu toco piano. É até engraçado, porque derruba aquele estereótipo de que um cara forte é burro, tem a cabeça encolhida. Além disso eu falo quatro línguas, sou formado na universidade em educação física", afirma Nort, campeão do "Mais Forte do Brasil" duas vezes, em 2007 e 2008.

Na última semana, o norte-americano Derek Poundstone esteve em São Paulo para participar de um evento. Vice-campeão do "Homem Mais Forte do Mundo" em 2008, o visitante disse acreditar que em breve o Brasil pode ter um atleta na elite da modalidade e apontou o nome de Ricardo Nort como referência atual.

No entanto, de imediato isso não deverá acontecer. O brasileiro está fora da edição deste ano do evento, que será realizada em uma universidade da Carolina do Norte, nos EUA, entre os dias 10 e 17 de setembro. Nort sofreu uma lesão em um torneio em março na Inglaterra, que o impediu de batalhar a classificação para o "Mais Forte" deste ano.

DEMONSTRAÇÃO DE FORÇA

Brasileiro Ricardo Nort puxa um caminhão em prova do "Mais Forte" no país

"Me machuquei em março numa etapa do circuito profissional em Londres. Rompi o bíceps levantando 187 kg em cada mão, numa prova que tinha que caminhar por 20 metros. Como os três primeiros se classificavam, acabei perdendo essa chance", conta.

De fora, Nort entrega aposta pelo norte-americano Brian Shaw como homem mais forte do mundo de 2011. "É 99% de chances de o campeão ser o Brian. Tem só 29 anos, mais de 2 metros e mais de 200 kg, mas se movimenta como se tivesse 60 kg. Tem muita agilidade", analisa.

MÚSCULOS E CARINHO

  • Arquivo pessoal

    Atleta brasileiro Ricardo Nort em competição internacional de levantamento de peso

  • Arquivo pessoal

    Brasileiro posa com um filhote de leão em passeio durante as folgas do "Mais Forte" na África do Sul

Aos 38 anos, Nort diz atravessar seu auge como strongman, como os atletas de eventos do gênero do "Mais Forte" são conhecidos. Recentemente, o brasileiro conseguiu se tornar profissional da modalidade e foi inserido no circuito internacional de competições.

O carioca radicado em Santa Catarina atuou como atleta do caratê por 12 anos e em seguida competiu no jiu-jitsu. No entanto, o crescimento físico com a musculação acabou o conduzindo para o mundo do levantamento de peso.

Ricardo hoje detém seis títulos mundiais em diferentes categorias do levantamento. No entanto, diz que a origem no peso ainda encontra desafios dentro do universo do "Mais Forte do Mundo".

"Tenho dificuldades com levantamentos acima da cabeça, com roda, eixo de carroça. Sou especialista em levantamento do tipo terra, ou supino. Para acima da cabeça tenho o ombro meio travado, é um levantamento que exige uma técnica diferente. Tenho mais facilidade em provas de pegada, puxar avião, puxar caminhão", afirma.

Primeiro sul-americano a levantar mais de 800 libras (cerca de 362 kg), Nort apareceu com a cara e a coragem na edição de 2010 do "Homem mais Forte do Mundo", na África do Sul, mesmo sem estar previamente inscrito. Acabou fazendo amigos e ganhando a condição de participar das etapas preliminares, talvez em razão de uma cota especial para um país da onde não se esperam representantes.

"Vi que essas competições passavam na televisão, tinham destaque na ESPN, abrangem uma certa audiência. Achei que seria legal viajar para ver como é que é", relata. "A primeira vez que estive lá me assustei com o tamanho dos caras. Alguns deles tinham mais de 200 kg. Me senti meio gafanhoto, meio estranho. Estava lá só com a minha mochila nas costas", emenda o atleta.

Na adaptação para virar um strongman profissional, Ricardo Nort precisou passar por um processo de ganho de peso, cortando a maioria das atividades aeróbicas antes presentes em seu treinamento. O atleta de 1,93 m pesava 130 kg em sua primeira competição do gênero e batalhou para recentemente atingir 157 kg.