Atletas pagam inscrição e uniforme para irem a Mundial de patinação com goteira
O Mundial de Patinação Artística, que está acontecendo em Brasília, ganhou espaço na mídia após uma de suas provas ter sido cancelada domingo por conta de uma goteira no ginásio Nilson Nelson. Para os atletas brasileiros, no entanto, as poças d’água são o de menos. Na briga por uma medalha de nível internacional, os patinadores verde-amarelos pagam inscrição, hospedagem e até uniforme oficial de seus próprios bolsos.
A penúria é um reflexo da falta de recursos no esporte. Com raras exceções, os atletas brasileiros bancam todas as suas viagens e custos. No caso do Mundial, nem o fato dele ser sediado em Brasília aliviou a conta dos esportistas.
“Estou aqui por minha conta. Todos os brasileiros pagaram a sua passagem, seu hotel, seu uniforme, sua roupa de competição e sua inscrição, além de taxa pelo treinador. Cada atleta do Brasil teve de arcar com tudo isso. E não é barato não”, disse Marcel Sturmer, principal patinador brasileiro, que não soube precisar o valor.
O gaúcho, tricampeão na modalidade em Jogos Pan-Americanos, ressalta que o caso dele e de poucos colegas é especial. A estada da seleção gaúcha na capital foi bancada pela Fundação de Esporte e Lazer do Rio Grande do Sul, órgão ligado ao governo estadual.
A Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação (CBHP) confirma o problema. A entidade não recebe nenhum tipo de verba pública por não ser de uma modalidade olímpica. Por isso, não consegue custear as despesas dos atletas mesmo em grandes competições.
“Nossa receita vem de uma taxa anual de R$ 80 de cada atleta e do que arrecadamos nas competições. Anualmente temos cerca de R$ 100 mil. Só com esse Mundial já temos um prejuízo garantido de R$ 252 mil”, disse Alexandre Almeida, vice-presidente da CBHP e organizador do Mundial.
A falta de dinheiro, aliás, é apontada como uma das causas para o problema do último domingo. A CBHP diz que se viu sem verbas para a realização do Mundial em cima da hora. A entidade contava com um convênio com o Ministério do Esporte que lhe renderia R$ 625 mil, mas foi cancelado antes mesmo da assinatura do contrato.
A pasta, hoje comandada por Aldo Rebelo, confirma que o acordo não aconteceu. Um decreto da presidente Dilma Rousseff de setembro determinou que todos os convênios com ONG’s e confederações teriam de ser fechados após chamadas públicas, o que não era o caso da CBHP. Como o repasse ainda não havia acontecido, o acordo foi cancelado pela falta de tempo para o cumprimento das novas regras.
O Ministério do Esporte ainda acrescentou que a CBHP tinha um projeto aprovado na Lei de Incentivo ao Esporte para captar R$ 4 milhões de empresas que deduziriam o valor de seu imposto de renda. De junho de 2010 a julho de 2011, no entanto, a entidade não conseguiu nenhum investidor, e por isso teve de apelar para um convênio com a pasta.
Sem a verba, a CBHP pediu ajuda ao Governo do Distrito Federal (GDF), que forneceu serviços como limpeza, montagem e segurança sob demanda para os organizadores. A ajuda do Estado não envolve investimento financeiro, mas somente a cessão das prestadoras terceirizadas para os locatários do ginásio Nilson Nelson.
Entre esses serviços está o de manutenção do espaço. Alexandre Almeida diz que a pista de patinação começou a ser montada no dia 4 de novembro, quando a primeira goteira foi notada. O GDF foi informado e resolveu o problema. No dia 14, no entanto, um vazamento diferente foi notificado ao governo, que voltou a vedar o buraco.
No último domingo, no entanto, o caso foi mais sério. Na abertura do Mundial sênior, uma tempestade movimentou um para-raio que, por sua vez, deslocou uma telha do ginásio Nilson Nelson. A água na pista chegou a fazer uma atleta argentina que se apresentava na modalidade “grupo de show” escorregar e a competição foi adiada.
Questionado pela reportagem, as partes envolvidas admitem o erro e prometem cuidado até o fim da competição (em 27 de novembro), mas não garantem 100% de eficiência.
“A gente ia fazer o Mundial em Santa Catarina, mas por uma orientação do COB trouxemos para cá, para ter o apoio do Ministério do Esporte e do GDF. O Nilson Nelson sempre teve uma boa estrutura. Eu espero que não aconteça nada de novo”, disse Alexandre Almeida.
“Se a gente tivesse essa condição [de ter feito vistoria antes] era uma coisa bastante prudente. Mas como vou fazer a avaliação de que vai inundar ou não? Temos de trocar o telhado do Nilson Nelson? A empresa falou que não. Pode ter outra goteira em outro momento. Mas com essa precisão, como eu vou testar? Só quando chover. Se tiver outra goteira aí vamos cobrar a empresa responsável”, disse Célio René, secretário de Esportes e Lazer do GDF.
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